Agosto dourado: 7 crenças falsas que desestimulam a amamentação 

Neste mês de campanha para ampliar conscientização e taxas de aleitamento materno, especialistas explicam conceitos equivocados sobre o tema

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Mãe amamenta filho
Amamentação deve ser feita em livre demanda, orientam pediatras
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A campanha Agosto Dourado, realizada ao longo deste mês, busca incentivar e ampliar as taxas de amamentação. A cor dourada foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera o leite materno um “alimento de ouro”.  

O Ministério da Saúde destaca o leite materno como o meio mais importante de nutrição para bebês de até 6 meses de vida, podendo reduzir em cerca de 13% a mortalidade de crianças de até 5 anos de idade. 

Os índices de amamentação materna vêm crescendo no Brasil: o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, mostra que metade das crianças brasileiras são amamentadas por mais de 1 ano e 4 meses. E quase todas as crianças (96,2%) foram amamentadas alguma vez, sendo que dois em cada três bebês são amamentados ainda na primeira hora de vida. 

Mas, apesar desses dados, o país ainda está distante das metas da OMS para 2030, que estabelece que 70% das mães amamentem de forma exclusiva, tanto na primeira hora de vida como nos primeiros seis meses; e 80% no primeiro ano. 

Segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP e médico do Hospital Albert Einstein, muitas mães enfrentam desafios na amamentação, apesar dos benefícios comprovados. 

“Ainda que seja fundamental orientar a mulher sobre a amamentação no pré-natal, não são todos os médicos que o fazem. Somando a desinformação ao estado emocional mais vulnerável e à falta de apoio social, a mãe acaba se sentindo pressionada e acuada, comprometendo ainda mais a amamentação”, lamenta o especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein e membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). 

Considerando este cenário, especialistas reuniram sete desinformações que invalidam a amamentação como um ato natural da maternidade, desestimulando a prática: 

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1. A fórmula infantil é tão completa quanto o leite materno

Mito: rico em anticorpos, o leite materno é o único que aumenta a imunidade da criança, ajuda a combater alergias e infecções respiratórias, além de diminuir riscos de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão. 

Até mesmo o neurodesenvolvimento do bebê tem impacto com a amamentação: em um estudo, pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, concluíram que o mio-inositol, uma molécula encontrada no leite materno, está diretamente ligada à formação das conexões neurais dos bebês. “Ou seja, somente o leite materno pode prover estes benefícios à criança”, reforça Carlos Moraes. 

2. Amamentar na primeira hora de vida é indiferente à saúde do bebê

Mito: o aleitamento materno na primeira hora de vida é fator protetor contra a mortalidade neonatal. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), quanto mais se atrasa o início da amamentação, maior é o risco de morte no primeiro mês de vida. 

“Atrasar o aleitamento materno entre 2 e 23 horas após o nascimento do bebê eleva em 40% o risco de morte nos primeiros 28 dias de vida. Já o atraso de 24 horas ou mais aumenta esse risco em 80%”, alerta o médico. 

3. É necessário amamentar de 3 em 3 horas 

Mito: segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), não é obrigatório estabelecer um horário fixo para a amamentação: o recomendado pela instituição é que o bebê seja amamentado em livre demanda, isto é, sem restrições de horários e de duração da mamada. “Nos primeiros meses de vida, inclusive, a frequência costuma ser maior e com horários mais irregulares”. 

4. A amamentação afeta a intimidade do casal 

Depende: segundo uma revisão de estudos entre mulheres que voltaram a ter relações sexuais até 6 semanas após o parto, 58,2% delas não amamentaram, contra 38,7% das que amamentaram. 

Conforme Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e membro da SBRASH; é comum que a fase da amamentação, cheia de oscilações hormonais e emocionais, afete o lado sexual da mulher, que acaba se concentrando mais no papel de mãe do que de esposa. 

“Daí, cabe ao casal perceber a necessidade de nutrir e cultivar sua relação, seja com momentos de beijos e carícias, ou mesmo com um filme a dois durante o sono do bebê. Ou seja, amamentar a criança jamais será motivo de perda da intimidade, se o casal souber preservar sua conexão”, pontua Claudia Petry. 

5. Quando congelado, o leite materno perde nutrientes

Mito: congelar o próprio leite é um hábito muito comum, principalmente quando a mulher volta a trabalhar ou mesmo em caso de ingurgitamento mamário. No entanto, o processo requer cuidados. 

“O leite retirado, cuja duração é de até 15 dias, precisa ser guardado em frasco de vidro que tenha tampa de plástico. A higienização correta é feita com água fervente no recipiente por 15 minutos, seguida de secagem com pano limpo e repouso para que seque por completo, de modo natural”, explica Carlos Moraes. 

Outra dica importante, segundo ele, é usar a tampa do frasco para anotar o dia e a hora que o leite foi tirado. “Ao oferecer para o bebê, o leite deve ser descongelado em banho-maria, sem ferver, apenas esquentando a ponto de tirar o gelo. Lembrando que, uma vez descongelado, o leite não deve ser congelado novamente”. 

6. A prótese de silicone atrapalha a amamentação 

Depende: de acordo com Luís Maatz, cirurgião plástico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), o silicone utilizado atualmente é composto por um material biocompatível, possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente. 

“O ideal é que a prótese seja colocada via inframamária (incisão embaixo das mamas), ou pela via axilar, não havendo cortes na glândula nem nos ductos mamários. Dessa forma, seja na produção do leite como no seu trajeto ao mamilo, não há contato direto com a prótese”. 

7. Quem fez redução de mama não pode amamentar

Depende: segundo Luís Maatz, que também é cirurgião de Reconstrução Mamária no Hospital Sírio-Libanês, na maior parte dos casos, as dúvidas relacionadas à redução mamária e à amamentação surgem por conta do corte de determinados ductos mamários. 

“Entretanto, a formação de novos ductos ocorre posteriormente. Quanto maior o intervalo entre a mamoplastia e o período de amamentação, maior a probabilidade de poder amamentar normalmente”, esclarece Maatz. 

Por fim, para superar os desafios, é essencial que as mães recebam apoio adequado de familiares, profissionais de saúde e da sociedade como um todo. “Campanhas de conscientização, políticas públicas favoráveis e ambientes de trabalho que respeitem as necessidades das lactantes são fundamentais para promover e sustentar a prática da amamentação”, finaliza Carlos Moraes. 

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