Elogio é sempre bom, não? Não mesmo. Quando os pais exageram, podem até prejudicar. Saiba como fazer o reforço positivo trabalhar a favor das crianças
Por Rafaela Matias– Para os pais, todo filho é perfeito. Tudo o que ele faz, portanto, é digno de elogio. E bota elogio nisso. Mas será que todo esse carinho no ego é positivo? Na opinião da psicóloga e pedagoga Renata Miranda, não. Mestre em educação, a especialista carrega uma experiência de trinta anos com estudos sobre o tratamento de crianças e garante que os elogios em excesso — ou aplicados em situações inadequadas — são capazes de produzir dificuldades para lidar com fracassos e frustrações. “Elas acabam se sentindo pertencentes a um mundo diferente do de outras crianças, algo superior”, explica. Parte desse conceito baseia-se em um estudo publicado em março deste ano por cientistas americanos e holandeses. Após analisar cerca de 600 crianças e 700 pais e mães, a pesquisa avaliou os efeitos do elogio excessivo na infância e concluiu que os filhos supervalorizados tinham maior tendência a comportamentos narcisistas e a uma visão irreal sobre si mesmos. Por outro lado, Renata acredita que o reforço utilizado na medida certa pode ser um grande aliado na educação, ajudando a fortalecer a autoestima e a valorizar atitudes positivas.
O problema é saber distinguir que tipo de tarefa deve ser exaltada. Segundo Renata, a dica é elogiar o esforço e as atitudes, sem enaltecer características da criança. Frases como “você é esperto” ou “você é muito charmoso” devem ser esquecidas. Uma boa nota após dias de estudos, por sua vez, merece um entusiasmado parabéns. É importante ressaltar que a dedicação e a tentativa precisam ser valorizadas, independentemente do resultado final, como explica a professora do curso de psicologia da UFMG Danielle Matos. “Assim, a criança poderá internalizar esse reconhecimento e crer na própria capacidade no futuro.” Isso explica por que a falta de elogio também pode ser prejudicial para a formação. A criança pouco reconhecida em suas atitudes positivas apresenta baixa autoestima e agressividade. Moderação é a palavra de ordem.
Um conselho importante: para ressaltar atitudes positivas, não só palavras devem ser usadas, mas também olhares, sorrisos e gestos de carinho. “A capacidade de reconhecer a singularidade da criança, mostrando que ela é amada e aceita mesmo com as suas falhas, é um dos maiores presentes que os pais podem dar aos filhos”, diz Renata.