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A infância em looping: o que a denúncia contra o TikTok revela para nós, mães

Quem nunca perdeu a noção do tempo, rolando o feed de redes sociais como o TikTok? Se os adultos são facilmente cooptados pelo design da plataforma, imagine as crianças e adolescentes, cujas áreas responsáveis pelo controle e tomada de decisões, ainda está em desenvolvimento. O Instituto Alana encaminhou, no último dia 25, uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) afirmando que o design do TikTok estimula o uso compulsivo e coloca em risco a saúde física, emocional e cognitiva de milhões de crianças e adolescentes brasileiros. Segundo a organização, a plataforma, uma das mais populares entre o público infantojuvenil, utiliza recursos que dificultam que os jovens controlem o próprio tempo de tela, além de expô-los a conteúdos inadequados, em desacordo com as proteções previstas no ECA Digital, sancionado em 2025.
Entre os elementos apontados como nocivos estão a rolagem infinita, que reduz a percepção da passagem do tempo; o autoplay, que elimina qualquer pausa entre os vídeos; e um sistema de recomendação altamente personalizado que mantém o usuário engajado sem esforço consciente. O formato de vídeos curtos em tela cheia aumenta ainda mais a imersão, o que, segundo o Alana, é especialmente prejudicial durante a infância e adolescência, fases marcadas por menor controle inibitório e maior sensibilidade a estímulos digitais contínuos.
Outro ponto crítico destacado na denúncia é o sistema de recompensas de engajamento, como o “foguinho”, que contabiliza interações diárias e oferece itens virtuais conforme a sequência se mantém. Se a rotina é interrompida, o marcador desaparece e volta ao zero, um mecanismo que, de acordo com o Alana, pode gerar ansiedade e incentivar ciclos de repetição típicos de uso compulsivo.
As crianças simplesmente não conseguem parar
“Diversas evidências mostram que o uso excessivo da plataforma pode causar danos significativos à saúde física e mental de crianças e adolescentes. Ela é construída com elementos que favorecem o vício, conduzindo ao uso excessivo e problemático”, afirma João Francisco Coelho, advogado do programa Criança e Consumo e do eixo Digital do Alana. Ele reforça que a combinação entre rolagem infinita, autoplay e sistemas de recomendação cria um ambiente em que “as crianças simplesmente não conseguem parar”, deixando de realizar atividades essenciais para o desenvolvimento saudável, como brincar, socializar e descansar.
Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil (2025) dão dimensão do problema: 46% dos jovens de 9 a 17 anos usam o TikTok várias vezes ao dia — proporção que chega a 64% entre adolescentes de 15 a 17 anos. O estudo mostra ainda que muitos utilizam a plataforma de forma autônoma e por longos períodos. Aproximadamente 1 em cada 4 adolescentes (24%) tentou reduzir o tempo de internet e não conseguiu, enquanto 22% deixaram de conviver com amigos e familiares ou de fazer tarefas escolares por ficarem conectados por horas. Pelo quarto ano consecutivo, o TikTok foi a rede social mais bloqueada por pais e responsáveis no mundo.
Esse cenário reforça a importância do ECA Digital, que entrará em vigor em março de 2026. A nova legislação estabelece regras mais rigorosas para a proteção de crianças e adolescentes em ambientes online, incluindo limites para designs considerados exploratórios, exigências de transparência e dever de mitigação de riscos. Para o Alana, a responsabilização das plataformas é essencial diante de modelos de negócios baseados na retenção máxima de atenção.
“Os efeitos desse ambiente digital vão muito além do tempo de uso. Afetam a atenção, os vínculos, a autonomia e a forma como crianças e adolescentes percebem o mundo”, afirma Coelho. Ele ressalta que a proteção integral desse público exige que todas as plataformas adotem medidas de segurança compatíveis com direitos e necessidades infantojuvenis: “Mecanismos de design viciante não são exclusividade do TikTok, são parte de um ecossistema digital que precisa ser repensado”.
Canguru News
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