A crise da masculinidade começa na infância: quem está ensinando nossos filhos a ser homens?

Pesquisa nacional mostra dado preocupante sobre ausência de modelos masculinos positivos e revela outra ferida silenciosa: metade dos meninos sequer tem certeza de que é amado pelo próprio pai. Reverter esse cenário é urgente. Mas o que podemos fazer?

Nos últimos dias, as manchetes dos jornais escancararam uma realidade que já estava aí, mas que muitos tentavam empurrar para debaixo do tapete ou esconder para não ter de lidar: a misoginia, que culmina na violência contra a mulher e, muitas vezes, no feminicídio. Nem precisamos citar os fatos por aqui, porque você certamente se deparou com pelo menos um deles ao rolar o seu feed ou ao assistir a algum noticiário. Tudo isso nos faz pensar na origem desse problema. De onde vem tanto ódio? De onde vem a crença de que os corpos femininos devem servir aos homens? A resposta é que tudo isso, ainda hoje, é aprendido – e começa muito cedo.

Com o crescimento de movimentos como os “redpill”, que afirmam oferecer uma “visão realista” sobre relações entre homens e mulheres, mas que, na prática, difundem discursos misóginos, antifeministas e baseados na crença de que homens estão em desvantagem, que recrutam meninos cada vez mais cedo pelas redes sociais, é preciso proteger e orientar os meninos. Mas será que estamos falhando com eles?

Uma pesquisa nacional realizada pelo Instituto PDH e PapodeHomem acendeu um alerta urgente: 6 em cada 10 meninos de 15 a 17 anos afirmam não ter nenhum homem como referência positiva de masculinidade. O dado, por si só, já é alarmante, mas a pesquisa traz outra informação que choca: apenas 5 em cada 10 adolescentes dizem ter certeza de que são amados pelo pai. Os números, apresentados na pesquisa Meninos: Sonhando os homens do futuro, revelam que muitos jovens crescem sem modelos masculinos que expressem afeto, vulnerabilidade, cuidado e presença emocional.

Segundo o psicólogo Marlon Nascimento, essa falta de referências afetuosas tem efeito direto sobre o desenvolvimento emocional dos adolescentes: “É complexo querer que os homens do futuro sejam gentis e amorosos se esses meninos pouco recebem” de exemplos que cultivem esse tipo de relação.

Diversos estudos internacionais mostram que o envolvimento emocional dos pais é fator de proteção contra ansiedade, depressão e comportamentos de risco — e sua ausência pode impactar autoestima, capacidade de vínculo e até a forma como esses meninos irão se relacionar no futuro. Para formar adultos emocionalmente saudáveis, precisamos dar aos jovens algo que muitos ainda não têm — modelos masculinos reais, presentes e positivos.

No Brasil, mais de 5 milhões de crianças não têm o nome do pai na certidão de nascimento – sem falar nas que têm o nome, mas não contam com a presença ou com o afeto deles. Quem, então, pode ser esse exemplo? Várias figuras podem cumprir esse papel — desde que ofereçam amor, carinho, respeito e coerência entre discurso e prática. Avós, tios, padrinhos, professores, treinadores, pais de amigos…

As mulheres, que já têm carga o bastante sobre os ombros, não têm obrigação de “compensar” a ausência paterna ou de tentar ocupar “os dois papéis”, porque além de ser injusto, é impossível. No entanto, elas também têm um papel importante no desenvolvimento emocional dos meninos, validando os sentimentos deles, incentivando expressões emocionais, mostrando que o que eles sentem, importa, ensinando sobre equidade e responsabilidade afetiva e evitando a narrativa de que “homem não presta”. Muitos meninos sem pai internalizam a ideia de que masculinidade é sinônimo de ausência, agressividade ou irresponsabilidade. Mostrar contrapontos é fundamental para não perpetuar esse imaginário.

Aqui, algumas dicas de filmes e séries que ajudam pais, mães e cuidadores a refletir sobre o assunto:

The Mask You Live In, no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=PQbIkhDiE7M)

A partir de relatos pessoais e entrevistas com especialistas em psicologia, sociologia, educação e neurociência, o documentário mostra como a “masculinidade tóxica” pode contribuir para problemas como isolamento, sofrimento emocional, distúrbios de comportamento, violência, abuso de substâncias e até suicídio entre homens jovens.

 

Adolescência, no Netflix (https://www.netflix.com/br/title/81756069)

A minissérie britânica deu o que falar no mundo todo, ao contar a história de um garoto de 13 anos, acusado de assassinar uma colega de escola. O drama não foca apenas no crime, mas no impacto psicológico, social e familiar do caso. Dramática, a série levanta debates urgentes sobre masculinidade tóxica, vulnerabilidade, fragilidade nas redes de apoio e consequências trágicas da negligência emocional e social.

O silêncio dos homens, no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=NRom49UVXCE&t=1748s)

Fruto de uma pesquisa realizada com mais de 40 mil pessoas, o documentário “O Silêncio dos Homens” mostra diversas matizes e impactos oriundos de uma masculinidade tradicional, na vida dos homens. Dores, qualidades, processos de mudanças e muitos outros aspectos são apresentados a partir de exemplos reais.

Aviso de conteúdo

É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.

Deixe um comentário

Veja Também