Estudo diz que crianças que jogam videogame têm QI mais alto

Especialistas fazem ressalvas à pesquisa que constatou um aumento de inteligência nas crianças que passaram mais de uma hora jogando por dia

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Menina no sofá joga videogame
Crianças entre 6 e 10 anos devem passar uma a duas horas por dias nas telas, segundo orientações da OMS
Buscador de educadores parentais
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Uma pesquisa divulgada na revista Scientific Reports trouxe uma boa notícia para pais e mães preocupados com o tempo que os filhos passam em dispositivos eletrônicos. Segundo o estudo feito na Universidade de Amsterdam, na Holanda, e no Instituto Karolinska, na Suécia, crianças de 9 a 11 anos que passaram mais de uma hora por dia jogando videogame, durante dois anos, tiveram um aumento de sua inteligência em comparação àquelas que usaram seu tempo para assistir à TV ou a vídeos online ou ainda navegar nas redes sociais. As crianças que jogaram videogame apresentaram um QI (quociente de inteligência) 2,5 pontos maior que aquelas que se dedicaram a outras atividades. 

A pediatra Luiza Menezes ressalta, porém, que não houve excesso de tela e não se trata de um benefício cumulativo, ou seja, quanto mais se joga , maior o QI, visto que o tempo de jogo não foi superior ao estipulado por idade. “Os resultados não justificam o abuso dos dispositivos”, disse ela em post sobre o assunto em suas redes sociais. A orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de uma a duas horas de telas por dia para crianças entre 6 e 10 anos, e de duas a três horas por dia para adolescentes entre 11 e 18 anos, sempre com supervisão de pais/responsáveis.

Luiza também comenta que a comparação não levou em conta crianças em atividades fora das telas, analisando apenas diferentes usos dos eletrônicos, seja no videogame, seja na TV ou vídeos. “A exposição estava presente de toda forma. Qual resultado teríamos comparando essas crianças com um grupo que estivesse brincando, jogando na natureza, interagindo com o mundo real? Essa resposta o estudo não nos trouxe”, pontuou a pediatra. Ela ainda destacou que não foi avaliado o impacto da exposição no sono, estado de ânimo ou desempenho escolar, os quais diversos estudos já mostraram que são comprometidos pelo uso de telas. “Assim, não é possível avaliar os prejuízos associados ao benefício no qual se refere o estudo”, relata Luiza. Ela orienta os pais a ficarem atentos às interpretações de estudos e notícias resumidas sobre os mesmos. “Antes de sair correndo para comprar um videogame para o seu filho, lembre que a maior inteligência que ele irá desenvolver para a vida ainda é aquela conquistada e vivenciada na vida real”, conclui.

Mariana Fraga, administradora e especialista no uso de telas na infância, também concorda quanto à ausência de análise de atividades offline no estudo. “Não teve nenhum comparativo com ler livros, brincar na natureza ou tempo em família, então eu acho que precisa aprofundar nesses aspectos. Ainda que a criança tenha aumento de QI, talvez, se ela tivesse lido uma hora por dia ou tivesse tido uma hora de contato com natureza ou mais tempo com os pais, poderia ter um aumento ainda mais significativo na inteligência”, esclarece.

Ela reforça que para além de resultados de pesquisas como essa, os pais devem manter a atenção para evitar os riscos do mundo virtual. “Observar o comportamento dos filhos, ter cuidado com os conteúdos que eles acessam, se estão de acordo com a idade e são benéficos para eles são medidas importantes”, sugere Mariana. Ela acrescenta que os pais também devem evitar deixar que os filhos virem a noite no videogame, façam uso de telas antes de dormir, durante refeições ou durante o tempo em família. “Ainda que a criança faça uso do videogame, e tudo bem fazer, que seja um uso monitorado, pois pode haver abordagem de estranhos e outros perigos na web”, complementa a especialista.


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Sobre o estudo

Os resultados foram obtidos com base em análise de dados e em testes feitos em dois momentos: inicialmente, com um grupo de 9.855 crianças entre 9 e 10 anos de idade e, dois anos depois, com 5.169 crianças entre 11 e 12 anos, que faziam parte do primeiro grupo. Para medir nas crianças o índice de inteligência, um parâmetro criado pelos pesquisadores, foram observadas habilidades cognitivas como compreensão de leitura e vocabulário, atenção, memória e autocontrole, e aprendizado ao longo de uma série de tentativas, entre outras.

Um dos autores do estudo, Torkel Klingber, professor de neurociência cognitiva do departamento de Neurociência do Instituto Karolinska, disse que a descoberta de um impacto positivo dos jogos na mudança na inteligência significa que as crianças que jogaram mais videogames foram as que tiveram mais ganhos de inteligência após dois anos. “Isso é evidência de um efeito causal benéfico dos videogames na cognição e, como descrito anteriormente, é apoiado por vários estudos diferentes”, declarou o pesquisador.

*Texto atualizado em 23/05/22.


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Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. Tem um filho, Martim, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.

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