‘Tecnologia facilita diagnóstico certeiro de autismo’, diz cientista que usa exame ocular

Estudo brasileiro sobre técnica de 'eye tracking', usado no diagnóstico de TEA, é publicado pela revista Nature; Mirian Biasão, psiquiatra responsável pela pesquisa, explica que exame, de 3 minutos, responde a perguntas dos médicos sobre sintomas de forma bastante objetiva

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Estudo facilita diagnóstico do Transtorno Espectro Autista
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Um estudo sobre a eficácia da técnica de rastreamento ocular, importante ferramenta para identificar casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA), acaba de ser publicado na revista Scientific Report, que faz parte do grupo de publicações da Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo.

A pesquisa intitulada “Diagnóstico pelo computador utilizando rastreamento ocular baseado em modelos de atenção visual”, coordenada por Mirian Revers Biasão, psiquiatra e docente na Escola Internacional de Desenvolvimento (EID), em Curitiba (PR), utilizou a ferramenta conhecida em inglês como “Eye Tracking”, para captar e definir o padrão de atenção visual das pessoas. O estudo conseguiu diferenciar o padrão ocular de pessoas com autismo do restante da população. Em análises mais avançadas, a pesquisa ainda conseguiu diagnosticar a intensidade dos casos, dos leves aos graves. 

“Não há exames para detectar o autismo, o diagnóstico é clínico. Por isso é fundamental que haja profissionais capacitados para identificar os sinais e sintomas do TEA e o respaldo da tecnologia pode facilitar um diagnóstico certeiro. O reconhecimento da revista Nature é importante para projetar os avanços que a tecnologia de rastreamento ocular pode trazer aos pacientes”, afirma Mirian.

Em entrevista por videochamada à Canguru News, a pesquisadora comentou que ficou muito feliz com os resultados obtidos. “Foi  muito legal porque o rastreamento ocular começou a responder algumas perguntas que a gente tinha sobre os sintomas do TEA de forma muito objetiva e clara”, disse.

O grupo de pesquisadores observou, por exemplo, a falta de contato visual e dificuldade no reconhecimento de emoções das pessoas com o transtorno.  “Através dos estudos de eye tracking, pudemos perceber que isso está muito relacionado a eles não olharem para uma área específica do rosto. Eles até olham para o rosto, mas não focam no triângulo invertido de olhos e boca, que é justamente a região que traz a informação social”, completou Mirian. 

Técnica usa inteligência artificial para reconhecer “padrões”

A técnica de rastreamento ocular, a princípio utilizada no ramo publicitário para estudar o padrão de atenção visual dos consumidores, foi desenvolvida através do estudo como uma maneira não invasiva, com suporte computacional, para analisar e diagnosticar casos do Transtorno Espectro Autista (TEA).

Em conjunto com uma equipe de bioinformatas – responsáveis pelo processamento de dados do campo da biologia -, os pesquisadores utilizaram o sistema de reconhecimento de padrões, através de inteligência artificial, para que o computador seja capaz de captar e definir o padrão de atenção visual das pessoas, diferenciando aquelas com e sem o transtorno e, ainda, a intensidade dos casos.

Exame é realizado em 3 minutos

O processo para diagnóstico do padrão de atenção visual de uma pessoa leva em torno de 3 minutos, relata Mirian. Segundo a médica, a análise é realizada de maneira simples e rápida, podendo ser realizada a partir dos 6 meses de idade.

“Por serem apenas imagens, sem nenhum som, o processo não é agressivo. São imagens mais neutras, que não causam nenhum desconforto. Essas imagens nos ajudam bastante a ter uma medida do lado social e do lado não social.”

Os indivíduos apenas precisam se ater às imagens por 3 minutos, de maneira que o software captará dados suficientes para uma análise.

A observação das imagens

Durante o exame, é colocado uma espécie de “óculos” nas crianças e pacientes. Eles ficam por pelo menos 3 minutos olhando para as imagens. Para análise, essas imagens utilizadas são divididas em dois grupos. De um lado, o paciente observa imagens de crianças realizando alguma atividade, como por exemplo brincando. De outro lado, são colocadas imagens fractais (geométricas e coloridas). 

“Apesar de o tempo total de paradigma ser pequeno, existe uma procedimento que precisa ser realizado previamente, a calibração do aparelho. Fazemos isso para garantir que o indivíduo esteja conseguindo observar bem a tela, o que é um pouquinho mais complexo, principalmente entre as crianças. Porém, a partir do momento que o equipamento é calibrado, a maioria das crianças fica olhando para tela sem nenhum problema”, a médica comenta sobre o processo. 

Processo ainda não tem uso clínico

Mirian ainda comenta que, apesar de não utilizado clinicamente, o processo de diagnóstico deve ser implementado entre a comunidade médica futuramente.

“Dependemos muito de uma observação comportamental para realizar todas as medidas. Dependemos, por exemplo, do humor da criança, de seu estado de saúde. Toda avaliação comportamental tem esse viés que na pesquisa tentamos limitar ao máximo. Na clínica, não temos como limitar isso, então ter uma medida tão objetiva assim, ainda requer mais algum tempo de estudo, mas é uma realidade próxima.”

Com o desenvolvimento do estudo em termos clínicos, o rastreamento ocular deve auxiliar não somente no diagnóstico de casos de TEA. Os dados coletados podem ajudar a direcionar o nível de gravidade do transtorno e auxiliar nos possíveis tratamentos. Com análises periódicas, os médicos serão capazes de observar se os tratamentos estão realmente sendo eficazes ou não. 


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1 COMENTÁRIO

  1. Isso torne realidade logo pq sofrendo ate vc chegar num diagnotisco de autismo …minha filha hj nao tenho duvidas mas muitos medicos me deram diagnóstico de deficiência intelectual.

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