Unicef aponta prejuízo à educação ‘quase intransponível’

No Dia Internacional de Educação, entidade diz que milhões de crianças tiveram perdas no aprendizado, sofrendo também com questões de saúde mental, nutrição e violência; no Brasil, fundo destaca dados sobre dificuldades na leitura e evasão escolar

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Menina de cabelo crespo pinta desenho em papel
Estudos mostram que, no Brasil, perdas de aprendizado foram menores quando escolas funcionavam, ainda que parcialmente
Buscador de educadores parentais
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Nesta segunda-feira (24), Dia Internacional de Educação, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fez mais um alerta para os prejuízos à educação causados pela pandemia da Covid-19. Segundo a entidade, mais de 635 milhões de estudantes seguem afetados pelo fechamento total ou parcial das escolas.

 “Em março, marcaremos dois anos de interrupções relacionadas ao Covid-19 na educação global. Muito simplesmente, estamos olhando para uma escala quase intransponível de perda na escolaridade das crianças”, disse Robert Jenkins, chefe de educação do Unicef.

Ele afirmou que apenas reabrir as escolas não é suficiente e ressaltou a necessidade de apoio intensivo aos alunos para recuperar a educação perdida. “As escolas também devem ir além dos locais de aprendizagem para reconstruir a saúde mental e física das crianças, o desenvolvimento social e a nutrição”, declarou Jenkins.

Perdas de habilidades básicas de aritmética e alfabetização

Em nota, o Unicef  disse que, globalmente, a interrupção da educação significou que milhões de crianças perderam significativamente o aprendizado acadêmico que teriam adquirido se estivessem na sala de aula, sendo as crianças mais jovens e marginalizadas as maiores prejudicadas.

O fundo destacou alguns dos últimos dados disponíveis sobre o impacto da pandemia no aprendizado das crianças:

– Em países de baixa e média renda, as perdas de aprendizado devido ao fechamento de escolas deixaram até 70% das crianças de 10 anos incapazes de ler ou entender um texto simples. Antes da pandemia, esse percentual era de 53%.

– Em vários estados brasileiros, cerca de 3 em cada 4 crianças na 2ª série estão fora dos padrões de leitura. Na fase pré-pandemia, essa média era de 1 em cada 2 crianças. Em todo o Brasil, 1 em cada 10 alunos de 10 a 15 anos relataram que não planejam voltar às aulas assim que suas escolas reabrirem.

Em São Paulo, estudantes aprenderam apenas 28% do que eles poderiam ter aprendido nas aulas presenciais e o risco de abandonar a escola aumentou três vezes.

“Evidências do Brasil sugerem que a abertura escolas, mesmo que parcialmente, resultou em menor perda de aprendizado para alunos do ensino fundamental e médio do que quando as escolas estiveram fechadas”, diz o estudo “O estado da crise global da educação”, em tradução livre.

– Nos Estados Unidos, as perdas de aprendizado foram observadas em muitos estados, incluindo Texas, Califórnia, Colorado, Tennessee, Carolina do Norte, Ohio, Virgínia e Maryland. No Texas, por exemplo, dois terços das crianças da 3ª série tiveram testes abaixo do nível da série em matemática em 2021, em comparação com metade das crianças em 2019.

– Na África do Sul, as crianças em idade escolar estão entre 75% e um ano letivo completo atrás do que deveriam. Cerca de 400.000 a 500.000 alunos abandonaram a escola entre março de 2020 e julho de 2021.

Saúde mental, nutrição e violência

O Unicef também chamou atenção para outras questões, para além do aprendizado, surgidas com o fechamento das escolas. Entre elas, o agravamento da saúde mental das crianças, a redução de acesso a uma fonte regular de nutrição e o aumento do risco de abusos.

Segundo a entidade, “um crescente corpo de evidências mostra que a Covid-19 causou altas taxas de ansiedade e depressão entre crianças e jovens, com alguns estudos revelando que meninas, adolescentes e pessoas que vivem em áreas rurais são mais propensas a experimentar esses problemas”.

A nota diz ainda que “mais de 370 milhões de crianças em todo o mundo perderam refeições escolares durante o fechamento das escolas, perdendo o que é para algumas crianças a única fonte confiável de alimentos e nutrição diária”.


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