Lidar com a perda de um ente querido é difícil para qualquer pessoa. Com as crianças não é diferente. Devido à pandemia, infelizmente, elas passaram a conhecer mais sobre a morte e o luto. Por isso, no Dia de Finados, comemorado sempre em 2 de novembro, podem estar mais tristes ou impactadas. “Uma pandemia sempre gera esse abalo emocional. Hoje, poucas crianças não tiveram contato com o medo da morte”, diz Iara Luisa Mastine, psicóloga e neuropsicóloga infantojuvenil. No entanto, para ela, os pais podem trazer um outro olhar sobre o feriado: “Finados é um momento em que as pessoas zelam pelos seus queridos que se foram”.
Dessa forma, os pais podem utilizar o dia para relembrar com as crianças as boas memórias com os falecidos em vez de deixá-las apenas sofrendo com a saudade. As crianças podem – e devem – ter seu momento de luto para lidar com as emoções e visitar lembranças agradáveis pode tirar o peso do feriado. Mas isso não quer dizer que elas não devem conversar sobre os seus sentimentos e tirar suas dúvidas sobre a morte, pelo contrário.
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Não evite falar sobre a morte
“É importante conversar sobre a morte com as crianças, principalmente quando acontece algum caso na família e elas se sentem inseguras, perdidas”, reforça Iara Mastine. Muitos pais podem acabar escondendo a morte dos filhos para protegê-los da dor. Porém, segundo a psicóloga, isso pode piorar a situação e causar mais ansiedade na criança por não entender o que aconteceu. “Esconder a verdade pode agravar as fantasias que ela faz a respeito do tema”, explica.
Mas também é necessário respeitar o processo de maturação do filho. “Uma criança de 5 anos não entende o que é a morte, porque o desenvolvimento do cérebro ainda não está maduro o suficiente para reconhecer o conceito da irreversibilidade”, afirma Mastine. Por isso, é preciso entender até que ponto a criança compreende o que é a morte. De acordo com a especialista, pode ser preciso buscar ajuda para profissionais, caso as crianças estejam muito tristes e abaladas.
Recursos lúdicos facilitam a compreensão
“Se a criança tem a curiosidade é importante tirar a dúvida de uma forma que a sua linguagem seja mais acolhedora e lúdica, trazendo menos possibilidades de trauma”, destaca Iara Mastine. Os livros podem auxiliar os pais neste quesito. “A literatura infantil pode ser utilizada até mesmo como um recurso terapêutico para a família”, diz. Outras ferramentas lúdicas, como filmes, músicas e podcasts também podem ser essenciais para lidar com o assunto de modo sensível e simplificado. Confira as indicações da neuropsicóloga para retratar a morte com as crianças:
Viva – A vida é uma festa
Dirigido por Adrian Molina e Lee Unkrich, a animação “Viva – A vida é uma festa” traz a história de Miguel, um jovem que acidentalmente abre um portal para a deslumbrante e colorida Terra dos Mortos. Depois de conhecer um charmoso malandro chamado Héctor, a dupla embarca em uma jornada extraordinária para desvendar a verdadeira história por trás dos antepassados de Miguel. Toda a narrativa se passa no Día de Los Muertos, uma celebração muito importante no México comemorada no dia 2 de novembro. “O filme também traz um feriado que retrata a morte, como Finados, misturando crenças, fantasias e aventuras”, aponta Mastine.
A árvore das lembranças
“’A árvore das lembranças’ é um livro que eu uso com crianças de todas as idades. Conta a história de uma raposinha que estava velha e se aconchegou, dormiu num sono profundo e não acordou”, diz a neuropsicóloga. Na trama, escrita por Britta Teckentrup, os animais fazem uma roda em volta da falecida amiga, lembrando vários momentos bons e prazerosos com a raposinha. “No final, a neve vai cobrindo a raposa e nasce uma linda árvore toda colorida. O livro traz a reflexão de que é possível usar as lembranças e as memórias para florescer”, ressalta.
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Mortinha da Silvia
O livro “Mortinha da Silvia” é de autoria de Marcos Martinz, com nota para os pais escrita por Iara Mastine, e será lançado nesta semana. “Narra a história de uma bruxinha que tinha uma gatinha, chamada Vida, que morreu. Os pais não sabiam como contar para ela. Então, a sua avó, que era muito sábia, contou o que aconteceu de uma forma leve, aconchegante, sanando a curiosidade da criança”, explica a especialista.
Estrelas Mágicas
Escrito por Walter Sagardoy, “Estrelas Mágicas” traz a personagem Joana, que gostava do céu azul, da luz do sol e tinha medo do escuro, assim como sua gata, Duquesa. Em uma viagem durante a noite, a avó, Clarice, resolveu contar a história sobre como as estrelas iluminavam o céu. “A avó aproveitou a situação para falar que cada animalzinho que tinha morrido tinha virado uma estrelinha e que aquela estrelinha brilhava, virava a lembrança de alguém”, diz Mastine.
O livro do adeus
Na obra “O livro do adeus”, o autor e ilustrador norte-americano Todd Parr traz uma comovente e esperançosa história sobre dizer adeus a alguém amado. “É um livro totalmente lúdico, com frases curtas e desenhos coloridos que trazem a reflexão para você lembrar desse adeus com muito acolhimento”, finaliza Iara Mastine.
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