É geralmente no mês de outubro que as escolas anunciam o reajuste do valor da mensalidade para o ano seguinte. E só de ouvir falar no assunto, muitas famílias sentem arrepio e ficam apreensivas por não saber se terão condições de arcar com mais esse aumento no orçamento, frente ao cenário de crise, com desemprego e alta nos preços de alimentos e outros produtos. Não à toa, uma pesquisa recém-divulgada, que ouviu mais de 170 mil pais de todo o país, mostrou que uma em cada dez famílias cogita trocar filhos de escola por motivos financeiros. Tentar negociar os valores da mensalidade escolar para 2022, portanto, é algo mais que compreensível.
“Os pais não devem ter vergonha de pedir um desconto. Não adianta ficar sentado esperando, porque a escola não vai oferecer esse desconto se a família não se mostrar interessada no assunto”, relata o economista e colunista da Canguru News, Carlos Eduardo Freitas Costa.
“Muitas pessoas evitam negociar e deixam de economizar para manter um certo status ou até mesmo por timidez”, comenta Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin). Ele recorda que é o futuro dos filhos que estará em jogo. “É importante priorizar e planejar o investimento na educação. Não tenha medo de conversar com o financeiro da escola e pedir descontos”, orienta o presidente da Abefin.
Mayra Lima, especialista em investimentos da Guide Investimentos, afirma que a negociação é uma forma de manter essa relação de parceria entre escola e família. “Alguns pais acabaram optando por outros tipos de ensino que não uma escola particular. Mas acho importante e viável para os dois lados chegar a um bom senso. É claro que a escola tem um limite de negociação que ela não consegue exceder”, avalia a especialista.
Embora seja difícil definir um percentual de desconto, visto que isso é algo particular de cada instituição, pode-se dizer que ele gira em torno de 5% a 10%, sendo maiores as chances quanto mais altos os valores da mensalidade escolar. “Teoricamente, quanto menor a mensalidade, menos espaço a escola terá para oferecer um desconto. Já se a escola é maior e tem mais alunos, certamente possui um orçamento mais flexível”, pontua Carlos Eduardo.
Ele diz que a negociação vai depender da sensibilidade de cada escola. “Tem escolas que são mais abertas e flexibilizam valores, oferecendo descontos, bolsas ou parcerias. Mas isso é liberalidade da escola, não é algo previsto em lei”, comenta o economista. Famílias com mais de um filho, por exemplo, costumam receber algum desconto – no geral, para o segundo filho a redução é de 20%, para o terceiro, 40%, e para o quarto e seguintes 60%. Esse percentual, no entanto, é estabelecido pela própria escola, e nem todas ofereçam essa opção.
A seguir, os especialistas destacam uma série de aspectos que devem ser levados em conta na hora da negociação da mensalidade escolar. Confira.
1. Como iniciar a conversa
No geral, as escolas costumam mandar aos pais um comunicado de aviso sobre o período de matrícula, para novos alunos, e rematrícula, para alunos antigos. Essa pode ser uma boa oportunidade para agendar uma reunião, que pode ser online, com a diretoria da escola para expor a situação da família. “Explique que está passando por algumas limitações financeiras e, para não pesar no orçamento, veja a possibilidade de parcelar o valor da matrícula, evitando assim contrair dívidas ou até se tornar inadimplente”, orienta Reinaldo. Ele lembra que quanto mais cedo for essa conversa, mais chance de ter sucesso na negociação.
Antes desse encontro, vale fazer uma pesquisa em outras escolas com qualidade equivalente, para ter um parâmetro de valores e assim contar com mais argumentos na hora de negociar. “Procure se informar também das inovações e benefícios que a escola oferece para o ano letivo”, destaca Reinaldo.
2. Saiba o que pode entrar no reajuste da mensalidade escolar
Na cartilha “Matrícula Escolar”, o Procon-SP (Fundação de Proteção e defesa ao Consumidor) explica que as instituições privadas de ensino podem cobrar anuidade pela prestação de serviços educacionais, o que é feito no ato da matrícula ou da sua renovação. A base desse valor é a parcela da última mensalidade fixada no ano anterior multiplicada pelo número de parcelas do ano letivo que irá iniciar. Sobre esse valor base, a escola poderá acrescentar uma correção percentual que deverá ser proporcional ao aumento de despesas com funcionários, despesas gerais e administrativas e investimentos em atividades pedagógicas. Segundo o Procon, valores referentes a reformas e ampliação do número de vagas em salas de aula para novos alunos não podem ser repassados aos consumidores.
3. Calcule o valor máximo a pagar
Antes de tentar negociar, é importante que os pais saibam exatamente qual valor eles conseguem encaixar no orçamento. “Porque não adianta fazer uma baita negociação e ainda assim não ser adequada para a realidade que eles estejam vivendo depois desse ano mais frágil de pandemia”, ressalta Mayra.
O ideal, portanto, é pensar em até três possibilidades de valores antes de chegar à negociação de fato. “Vale sair de casa já com um plano A, B e C, e pensar o que eu posso negociar, até onde consigo chegar no pagamento. Porque se eventualmente a escola não chegar nesse montante, os pais já sabem que não conseguirão avançar”, comenta a especialista em investimentos.
4. Apresente documentos que comprovem perda de renda
Mostrar como a renda da casa foi afetada pela crise – por exemplo, se a mãe ou pai deixaram de ganhar uma comissão que complementava o salário ou não recebem mais horas extras, são formas de comprovar a necessidade de negociação. Ainda, apresentar cópias de documentos como o holerite, mostrando não ter recebido a recomposição salarial ou nenhum outro aumento, também é válido. “Quanto mais argumentos tiverem, melhor os pais vão poder sustentar a conversa com a escola”, pontua o economista.
5. Reforce o perfil de bom pagador
O histórico de bom pagamento também pode ser ressaltado na hora de negociar a mensalidade escolar. “Digamos que os filhos frequentam a mesma escola já faz tempo, estão habituados àquele ambiente e os pais sempre cumpriram com as obrigações de pagamento. Tudo isso pode virar argumento na hora de negociar”, destaca Mayra. Ela recorda que para a escola, perder um bom pagador pode ter um peso maior do que contar com famílias que não pedem para negociar mas também não conseguem honrar com os pagamentos. Por outro lado, a escola pode abrir mão de determinadas coisas, aumentar algum tipo de beneficio, facilidade, para que pais possam chegar a um determinado valor que estejam propondo. Pode ser um parcelamento maior ou alguma condição de serviço, incluir lanches ou algum benefício para o aluno que poupe pai de algum outro lado”, avalia Mayra. Além disso, vale destacar também as qualidades da escola e elogiar, se for o caso, o trabalho pedagógico, os professores, a estrutura e serviços oferecidos.
6. Consulte a possibilidade de pagamento à vista
Se a família tem um dinheiro guardado, vale tentar negociar com a escola a possibilidade de quitar o pagamento do ano inteiro, ou parte dele, de uma vez só, o que para a escola pode ser interessante pela segurança em saber que aquele pagamento está garantido. “Escolas que oferecem esse tipo de flexibilidade costumam dar desconto de 10%. Se o dinheiro está investido num perfil conservador pode valer a pena negociar com a escola um desconto para o pagamento a vista ou mesmo de algumas parcelas, cinco delas, por exemplo”, esclarece Carlos Eduardo.
7. Deixou de pagar a mensalidade escolar?
Saiba que a lei não prevê o direito de renovação da matrícula para as famílias que deixaram de pagar alguma mensalidade. Nesse caso, é preciso primeiro negociar a dívida para depois falar das mensalidades do ano seguinte. “No entanto, o estabelecimento de ensino só pode desligar o aluno no final do período letivo”, diz o Procon. Caso o aluno saia da escola, seus documentos de transferência devem ser emitidos normalmente, ou seja, não podem ser retidos em decorrência da inadimplência, informa o órgão de defesa do consumidor.
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