Com uma filha de sete anos e um emprego em multinacional, Mariana Coelho tem uma rotina intensa. Ela, o marido e a filha sentiam-se sozinhos após passarem meses confinados num apartamento em São Paulo. Como sempre quis ter um cachorro, Mariana achou que este seria o momento ideal para adotar um companheiro de quatro patas. Em agosto de 2020, adotaram o Figo, um vira-lata orelhudo e de pernas curtas.
“A conexão entre minha filha e o cachorro é impressionante, eles se adoram. São as duas crianças da casa, eles brincam juntos o tempo todo”, relata Mariana. Segundo ela, a relação da filha com o cãozinho transformou o modo como ela lida com bichos em geral. Além disso, a pequena se mostra preocupada em cuidar do Figo. “Sem dúvida nenhuma, ele deixou o ambiente da casa mais alegre e aliviou o estresse da pandemia”, diz.
Para Mariana, a adoção de um animal de estimação tem imensas vantagens e ela recomenda a experiência. “Uma criança que brinca com cachorros tem momentos de muito amor, de dar e receber, é uma via de mão dupla muito intensa e benéfica. Eles brincam de bola, a gente passeia com ele. É um companheiro de aventuras, um membro muito gostoso da família”, completa.
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A pandemia levou muitas pessoas como Mariana a procurarem pets para aliviar o vazio do isolamento social e amenizar o estresse das crianças. A ONG Vira Patas, de São Paulo, relatou que houve um grande aumento de adoções durante a quarentena em relação aos outros anos. De maio de 2020 até abril de 2021, registrou mais de 200 adoções de cães e gatos, tanto filhotes quanto adultos. Este não é um caso isolado, pois diversas outras instituições reportaram a alta demanda. De acordo com pesquisa realizada em julho de 2020 pela ONG União Internacional Protetora dos Animais, houve um crescimento de 400% na procura de cachorros e gatos em São Paulo. No Brasil, a busca aumentou cerca de 50% durante a pandemia, segundo dados da ONG Ampara Animal.
Não há dúvida que os pets trazem efeitos muito benéficos para os humanos. É comprovado que o contato com os bichinhos contribui na produção de endorfina e serotonina, que regulam o humor, sono, apetite e reduzem as taxas de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. Além disso, um levantamento realizado pela Universidade de Azabu, no Japão, aponta que quando os humanos olham nos olhos dos pets, o nível de ocitocina, considerado o hormônio da felicidade, aumenta rapidamente.
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Benefícios para as crianças
Crescer com animais domésticos pode trazer diversas vantagens. Um estudo elaborado pela Universidade de Oklahoma e Dartmouth, nos Estados Unidos, descobriu que crianças que convivem com cães têm menos probabilidade de sofrer ansiedade infantil. Outra pesquisa feita na Suécia, com mais de 1 milhão de crianças, revela que o contato com cachorros pode diminuir em 15% o risco de apresentar asma, além de influenciar positivamente no sistema imunológico e reduzir chances de desenvolvimento de alergias.
Os pets também contribuem para que as crianças sejam mais empáticas, atenciosas e solidárias. “Estar com um animal é mais uma forma de relação para a criança, é um novo caminho para se relacionar e criar vínculos”, diz Natalia Visciglia, psicóloga, psicopedagoga e especialista em Terapia Assistida por Animais, no PetVida, em São Paulo. Natalia também destaca que o contato com animais pode contribuir para o amadurecimento e evolução. “Ter um animal é saber que terá que levá-lo para passear, ir ao veterinário e tudo isso traz novos círculos de interação e socialização”, completa.
Durante a pandemia, as crianças podem ficar ociosas e, com os pets, elas sabem que terão com quem interagir e brincar. Segundo Natalia, os bichinhos também fazem com que os pequenos se sintam mais acolhidos. “Muitas crianças humanizam os seus animais e se sentem seguras ao lado deles”, aponta.
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Importância dos vínculos afetivos
“Os pets não só ajudam na redução da ansiedade, como também contribuem para este momento de falta de contato adequado. A criança tem uma sensação de afeto e carinho na presença do pet”, conta Ligio Francisco da Silva Chaves, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Neste momento de distanciamento social, ter um animalzinho também pode estimular a amizade, a confiança e o senso de responsabilidade dos pequenos.
“A falta de contato, principalmente para as crianças menores mas para adolescentes também, prejudica muitas áreas associadas ao nosso cérebro social. Isso traz prejuízos como atraso de linguagem, na fala ou mesmo na elaboração de situações de afetos mais bem organizadas”, explica o especialista. Além dos benefícios para a saúde emocional, os animais de estimação também ajudam no desenvolvimento cognitivo e das habilidades motoras.
Segundo ele, os pets não são uma solução completa para os desafios da pandemia e a ausência de contato externo, mas podem ajudar muito no sentimento de solidão. “Essa energia do brincar que o pet transmite tem um efeito muito bom para essa situação de estar sozinha”, afirma Ligio Chaves. Os bichinhos também preenchem o tempo livre da criança, o que pode afastá-las das telas. “Eu não consigo ver desvantagens, a não ser que a família não tenha um ambiente adequado e tempo para o cuidado do pet”, completa.
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Pet não é brinquedo
“Os animais não são descartáveis e os pais devem ter esta consciência na hora de adotar um animal”, aponta Natalia Visciglia. Durante a pandemia, apesar do aumento de adoções de pets, a Vira Patas relatou que houve uma grande taxa de abandono. Embora os bichinhos tragam muitos benefícios para os adultos e para as crianças, os pets não são apenas uma distração. Eles requerem muitos investimentos, de dinheiro, tempo e amor. Por isso, a psicóloga reforçou que a família deve ser responsável e consciente na decisão.
“É importante que seja avaliado qual pet é indicado para aquela família e para aquela criança. Existem cachorros mais agitados, que exigem mais atenção, mais gasto de energia e isso tudo pode alterar muito a dinâmica familiar e trazer certos desconfortos”, explica Natalia. Com o isolamento social, o contato com os pets é muito mais intenso, assim, a escolha do bichinho deve ser muito bem pensada e analisada para combinar com o ritmo familiar. “Ter um animal exige equilíbrio e responsabilidade de quem cuida”, finaliza a especialista.
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