Recentemente, completamos um ano de pandemia no Brasil, com o caos instalado. Somos o epicentro da doença, está escancarado o desgoverno que vive esse país e nossos mortos correspondem a 20% dos óbitos mundiais. Não há palavras para descrever o tamanho dessa tristeza.
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler Ross, pioneira nos estudos sobre a morte, o morrer e os cuidados paliativos, descreveu no fim da década de 1960 o modelo chamado de “Cinco estágios na vivência do luto” ou “Cinco estágios da agonia” – maneira como tive o primeiro contato com essa teoria na Universidade.
Os cinco estágios são: negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e aceitação. São fases não necessariamente lineares pelas quais passamos ao enfrentar momentos de luto e grandes transformações. E já se vai um ano em que diariamente temos que elaborar as nossas perdas. Em outra oportunidade, escrevi sobre o luto infantil, mas volto a esse assunto, porque é de extrema importância nos autoconhecermos e sabermos acolher nossos sentimentos para sermos bons modelos de resiliência aos nossos filhos.
Durante esse último ano, todos já tivemos esses sentimentos descritos pela autora, mas nem sempre com a mesma intensidade e nem sempre na mesma fase entre os diversos componentes da família. Equilibrar todas as funções e responsabilidades da vida adulta e ainda entender e acolher o sentimento dos outros familiares não tem sido fácil, mas a saída para qualquer crise envolve encontrar soluções e não somente apontar culpados.
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Peço para que todos repitam como um mantra que a piora da pandemia não teve nada a ver com o retorno às escolas para aulas presenciais, como já ouvi de alguns, mas sim da irresponsabilidade e mau comportamento dos adultos que, seja por cansaço ou necessidade, não respeitam as regras de isolamento social e uso de máscaras.
Somado a isso, e também por causa desse comportamento, a nova variante P.1 apareceu no Brasil e se mostra muito mais infectante, comprometendo a capacidade do sistema de saúde. O atraso em adquirir vacinas e prosseguir com a imunização populacional em maior velocidade nos coloca em uma situação ainda mais suscetível.
Nesse cenário, chegamos ao pior momento da pandemia e quebrando recordes negativos diários. Mais uma vez, as escolas foram impedidas de funcionar, colocando as crianças em confinamento como uma manobra de desespero para manter os pais em casa. Espero que essa interrupção – quando adotada – não dure mais tempo do que o necessário como vimos no ano de 2020. Repito quantas vezes forem necessárias que Educação é serviço essencial e deve ser tratada como tal.
Repito, também, até ficar rouca, se necessário for, que, enquanto não houver vacinação em nível populacional, o uso de máscaras adequadas, o isolamento/distanciamento social e a lavagem das mãos continuam sendo nossas principais armas no combate a essa pandemia. No arsenal das habilidades comportamentais, que continuemos aprendendo a exercitar e fortalecer nossa resiliência, nossa empatia e compaixão pelo próximo.
Outros vírus respiratórios continuam circulando e atingem seu ápice na época de outono-inverno em que adentramos. Nas alas pediátricas dos hospitais que ainda resistem em não ser transformadas em “leitos-covid”, já vemos aumento de internações pediátricas pelo vírus sincicial respiratório, o vírus da bronquiolite. Além disso, o velho conhecido influenza já tem sua vacina na versão 2021 e o início de aplicação ocorreu em 12 de abril pelo Programa Nacional de Imunização do SUS. Também já está disponível para agendamento em algumas clínicas privadas. Manter o calendário vacinal em dia também é uma forma de não precisarmos do sistema de saúde sobrecarregado.
Conte com seu pediatra para evitar idas desnecessárias a hospitais e laboratórios com coletas de exames oportunas e orientação confiável sobre tempo de isolamento e cuidados gerais em vigência de alguma outra infecção viral.
Sejamos a mudança que queremos ver no mundo. Fiquem em casa e se cuidem.
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