Pesquisa feita com alunos da rede estadual de ensino de São Paulo mostra que houve uma defasagem na aprendizagem durante a pandemia. Alunos do 5º ano do ensino fundamental apresentaram 46 pontos a menos (queda de 19%) na proficiência em Matemática, e 29 pontos a menos (queda de 13%) em Língua Portuguesa, no início de 2021 em comparação com 2019, conforme dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Os resultados indicam que o aluno chegou ao 5º ano apenas com o que aprendeu no 3º ano – uma regressão de dois anos de estudos. Para o 9º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, a defasagem foi menor, o que sugere que o ensino remoto na pandemia prejudicou, em especial, os estudantes mais novos. A análise foi realizada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF)
O secretário estadual da Educação de São Paulo, Rossieli Soares disse que as informações obtidas poderão orientar a manutenção e o desenvolvimento de políticas eficazes à retomada da aprendizagem, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental. “Nossos esforços são direcionados para retomar o ciclo positivo alcançado antes da pandemia”, conta. Rossieli também defendeu a volta às aulas presenciais como forma de evitar uma queda de aprendizagem ainda maior. “Trata-se de uma das primeiras e mais importantes pesquisas com o tema na atualidade. Diante desses dados, temos a convicção da importância do retorno às aulas para contribuir no processo de retomada de aprendizagem dos nossos alunos e para reduzir, aos poucos, todos os impactos causados, e já previstos, pelo distanciamento social”, afirmou o secretário.
Ao Jornal Nacional, da TV Globo, a professora Lina Kátia de Oliveira, responsável pela avaliação, explicou que a queda acentuada em Matemática tem relação com a importância do professor em sala de aula. “Problemas envolvendo as operações básicas de multiplicação e de divisão, problemas muito elementares que dependem de apoio gráfico envolvendo adição e subtração. Se o menino não é um leitor proficiente no quinto ano, se ele demonstra as habilidades de leitura como leitor iniciante do terceiro ano, a dificuldade na matemática é automática”, disse a professora.
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O estudo
Foram avaliados cerca de 7 mil estudantes para cada ano escolar – do 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio –, considerando uma amostra representativa e de diferentes perfis sociais e regionais do Estado, nos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática. Aplicados em formato impresso e de forma presencial, os testes incluíam itens baseados nas escalas de proficiência do SAEB.
A pesquisa comparou a proficiência desse grupo de estudantes, que iniciam agora o 5º e o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º do Médio, com o nível atingido pelo grupo que concluiu as mesmas etapas em 2019. Assim, a rede estadual de São Paulo identifica quanto, em média, esses estudantes precisam avançar neste período letivo para alcançar o mesmo resultado de anos anteriores devido à defasagem na aprendizagem causadas durante a pandemia.
A tabela abaixo apresenta os resultados da pesquisa em comparação com o SAEB de 2019 e 2017, para Língua Portuguesa e Matemática. A margem de erro da pesquisa amostral é de 1,2 pontos para mais ou para menos.
Retomada das aulas presenciais
Desde o dia 8 de setembro do ano passado, o Governo de SP autorizou a reabertura das escolas para atividades de reforço e acolhimento emocional. A retomada de aulas para o Ensino Médio ocorreu em 7 de outubro e, para o Ensino Fundamental em 3 de novembro, pautado em medidas de contenção da epidemia, seguindo as recomendações sanitárias do Centro de Contingência do Coronavírus.
Em janeiro deste ano, 140 mil estudantes da rede estadual participaram das aulas presenciais de reforço e recuperação e em 8 de fevereiro houve o início do ano letivo de 2021, com aulas presenciais para até 35% dos estudantes, diariamente. Segundo a Seduc-SP, em todo o Estado, 5,3 mil escolas estaduais receberam R$ 1,4 bilhão através do Programa Dinheiro Direto na Escola de SP entre 2020 e 2021 para manutenção e conservação das unidades para a volta segura das aulas presenciais.
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