Por que um título enganoso numa publicação que preza pela credibilidade de sua informação jornalística, caso desta Canguru News? Afinal, a Suécia não tem nem 11 milhões de habitantes. Ele serve para chamar a atenção para um excelente artigo (mais um) do economista Pedro Fernando Nery, no Estadão desta terça-feira (dia 15/12). Nele, Nery relata que 11 milhões de brasileiras receberam neste ano da epidemia o auxílio emergencial dobrado, pois são “mulheres provedoras de família monoparental”. Criam o (os) filho (os) sozinhas. Receberam o auxílio dobrado pois não têm emprego fixo e vivem abaixo da linha de pobreza. Com o fim do auxílio, metade volta ao Bolsa Família (R$ 41 por mês) e a metade, mais de 5 milhões (uma Noruega, lembra) não receberão mais nenhum benefício.
Em seu artigo, Nery descreve as condições difíceis do mercado de trabalho para as mulheres em geral e mais ainda para as pobres e negras. Imagine, para as que ainda têm de cuidar sozinhas dos filhos, quando muito com ajuda de parentes e vizinhos, num País em que nem com as escolas elas estão podendo contar? Uma questão negligenciada por aqui desde que a epidemia chegou. Corremos o risco, como já foi alertado, de que entremos em 2021 sem uma definição sobre as voltas às aulas, pois o assunto não foi tratado da forma que merecia durante estes 9 meses de epidemia. Pior, estas mães monoparentais, não vivem na Suécia (que também teve problemas no enfrentamento da covid), mas num País em que a melhor saída para o momento dramático que todos vivemos, a vacinação em massa, vem sendo tratada pela principal autoridade do Brasil como uma questão política e não de saúde pública.
Neste cenário, 2021 será um ano difícil para as mães solo, escreve Nery. Não só para elas, mas certamente ainda mais para elas. Com a indefinição da volta às aulas, sem auxílio emergencial, e com o mercado de trabalho fechado para muitas, a perspectiva será ainda mais dramática.
“No Brasil, a maternidade é uma sentença de pobreza”, escreve Nery. Este grupo, esquecido, diz ele, precisa de uma renda básica e de um conjunto de políticas públicas que estão fora do debate nacional. Um debate público mais atento a outras questões: reeleições, compadrios, defesa de corporações, etc. Mas Nery termina o artigo com um viés otimista. “Diante das dificuldades de 2021, há uma oportunidade de mudar. A sociedade não deve abandonar as mães solo a serem mães sozinhas”, afirma. O que podemos fazer por estas mães brasileiras e seus filhos?
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