Políticas corporativas de apoio a mães e pais que trabalham ainda deixam muito a desejar no Brasil. No geral, as empresas parecem não reconhecer o valor que a criação dos filhos tem para a sociedade, embora devessem fazê-lo, acredita o jornalista catarinense e escritor Marcos Piangers. Para ele, estar com a família e cuidar dos filhos é muito mais valioso do que o melhor dos desempenhos que um indicador econômico pode apontar. “Esse é o momento em que a gente tem a chance de cuidar da nossa sociedade para o futuro“, diz o autor dos best-sellers “O Papai é Pop” e “O Papai é Pop 2”, que também dá palestras sobre tecnologia e inovação.
No inicio de julho, Piangers participou do webinário “Apoiando Mães e Pais que trabalham”, promovido pelo Bloom Famílias, benefício corporativo que oferece apoio às famílias, e pelo Back to Humans, um laboratório de pesquisa e monitoramento de tendências e sentimentos em relação ao trabalho. No evento, ele destacou a importância de mães e pais que trabalham contarem com apoio das empresas e falou sobre a necessidade dos homens participarem efetivamente da criação dos filhos. A seguir, Piangers fala mais sobre essas e outras questões. Confira.
A família, o home office e as empresas na quarentena
“Sua vida está um caos e você está louco para voltar para o escritório. Você não entende como alguém pode gostar de trabalhar em casa. É que, vamos lá, isso não é trabalhar de casa. Isso é um caos, uma tentativa de adaptação pós-apocalíptica, uma fase de transição, um aprendizado desesperado. Isso não é o novo normal. Isso não é sua vida daqui pra frente. Isso não é home office, isso é guerra. Guerra contra a montanha de louça suja na pia, contra os brinquedos espalhados pela casa, contra as aulas dos filhos que começam exatamente no meio da sua reunião mais importante. Pais, o que estamos vivendo não é home office. E o que nossos filhos estão tendo não é ensino à distância. É tudo adaptação, e temos que ser compreensivos uns com os outros – e as empresas, conosco! Executar os malabarismos de casa, crianças e trabalho pode nos tornar menos produtivos profissionalmente, mas é um trabalho de valor incalculável.”
A importância da licença-paternidade
“Várias pesquisas mostram que quando o homem tem licença-paternidade estendida ele constrói uma relação mais duradoura com seu filho, terá uma vida mais equilibrada, do ponto de vista profissional e afetivo, ele será mais produtivo, vai adoecer menos e será um funcionário melhor. A chegada da criança na vida de um homem possibilita aprender. Tudo o que ele precisa é entender que igualdade de gênero dá uma maior abertura e sensibilidade para participar do trabalho doméstico e isso não vai deixar a vida dele pior, mas sim muito melhor.”
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A necessidade de promover a igualdade de gênero
“Além de todas as pesquisas que falam sobre a necessidade desse equilíbrio entre os gêneros, o homem tem que entender que essa é a coisa certa a se fazer como cidadão, como ser humano, como uma pessoa que respeita a própria esposa, as filhas, mãe, irmãs e mulheres em geral. O homem é mais feliz quando está perto dos filhos e participa, é mais completo, muitos homens vivem essa mentira de que vida boa é trabalhar muito e ser bem remunerado, no fim da vida, a gente vê muita gente se arrepender.”
A participação dos pais na criação dos filhos
“A primeira infância é profundamente importante para criar uma geração mais equilibrada e produtiva. A criança sai melhor na escola, no mercado de trabalho, é melhor cidadão e esse é o momento que a gente tem de criar nossos filhos para transformar a sociedade, o nosso país e o mundo. Estar com a família e cuidar dos filhos é profundamente importante para nossa vida em sociedade. Esse é o momento em que a gente tem a chance de cuidar da nossa sociedade para o futuro.”
A tendência de muito homem a achar que a vida em família é ruim
“Esse homem muitas vezes acreditou em diversas mentiras. Ele aceitou que uma vida de sucesso tem ligação com o sucesso financeiro e é algo descolado da família, da participação na vida dos próprios filhos. Essa mentira que nos contaram, reforçada por diversos produtos culturais e mesmo por discursos dos avós e pais, nos levam a uma vida de uma masculinidade profundamente destrutiva. A gente dirige de forma perigosa, bebe mais, tem um estilo de vida mais violento, competitivo, agride nossos afetos, esposas e filhos, tem comportamento doentio e que nos destrói.”
Os valores que não aparecem no PIB (produto interno bruto, que mede a riqueza de uma nação)
“Se a bolsa de valores subir, fica todo mundo feliz, mas a sociedade é constituída de vários outros dados que não aparecem no PIB. São valores, infelizmente, nem sempre bem vistos por uma sociedade que só quer olhar para os seus dados econômicos. Não se deve usar o PIB como padrão para bem-estar da nação mas sim a força de nossos abraços, a capacidade da educação que a gente passa para os nossos filhos. As brincadeiras, o ping pong na nossa sala com as crianças, isso sim é importante. Os KPIs (indicador de desempenho de uma organização) não medem os colos, o chão limpo, os abraços apertados. A força do nosso afeto não aparece na meta. O PIB não mede a função mais valiosa do mundo, criar nossos filhos, da melhor forma que conseguimos, com amor e esforço, mesmo no meio do caos e da confusão.”
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