As indefinições quanto ao fim do período de isolamento social têm deixado muitas famílias preocupadas sobre possíveis prejuízos ao aprendizado escolar de seus filhos. Em especial, pais de alunos no 1º ano do ensino fundamental se perguntam o quanto a falta de aulas presenciais pode retardar o processo de alfabetização das crianças.
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Liliane Gomes, coordenadora pedagógica da educação infantil e do 1º ano do ensino fundamental da escola bilíngue Stance Dual, na zona central de São Paulo, relata que de fato alguns pais a procuraram perguntando se os filhos poderiam “desaprander” o que já haviam visto ou não avançar na leitura e escrita tanto quanto poderiam neste ano. “É comum as crianças estarem em diferentes níveis – uns já sabem ler, outros, não – e isso vai depender das experiências, vivências e habilidades de cada um, por isso o 1º e 2º anos são fases importantes que a gente considera que é o período de alfabetização”, relata a coordenadora da escola, que alfabetiza as crianças primeiro na língua materna e, depois, introduz um segundo idioma.
Legislação define que o processo de alfabetização ocorra em até dois anos
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina que os dois primeiros anos do fundamental tenham como foco o processo de alfabetização. Isso significa, portanto, que nesse período a criança passe a dominar o sistema de escrita e seja capaz de de ler e escrever textos de diferentes gêneros – o que pode incluir contos, fábulas e romances, mas também regras de jogos, bulas de remédios e listas de supermercado, por exemplo.
Patrícia Diaz, pedagoga e diretora de desenvolvimento educacional da Comunidade Educativa Cedac, lembra que o ano letivo é uma organização artificial para o desenvolvimento da criança. “Se ela não aprende agora, não é um prejuízo irrecuperável, ela pode aprender depois”, diz. Além disso há outras experiências que as crianças adquirem em casa, neste período de quarentena, que também são importantes e as aproximam do universo letrado.
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“A gente sabe que não é só na escola que a criança aprende, ela está imersa em situações de leitura e escrita no seu cotidiano”, destaca Renata Frauendorf, coordenadora dos programas de alfabetização do Instituto Avisa Lá.
Leituras de textos diversos aproximam a criança do sistema de escrita
A advogada Luciana Crincoli, mãe de João, 6 anos, e Lucas, 4 anos, conta que no começo da quarentena realmente ficou preocupada ao pensar que o filho mais velho poderia demorar mais tempo que o previsto para aprender a ler e escrever.
“Ele gosta de copiar as histórias que lê nos gibis e está numa fase em que tem muita curiosidade sobre o processo de escrita, mas é difícil para nós, como pais, suprir essa demanda em casa”, diz Luciana.
Ela então procurou se informar com amigos e em livros sobre o processo de alfabetização, e se tranquilizou ao perceber que poderia ajudá-lo em casa. “Passei a ler contos diariamente com ele, além de incentivá-lo a escrever, a seu jeito, desde receitas de bolo da avó até os nomes dos molhos e comidas nas etiquetas dos preparos congelados”, conta a mãe. Jogos como banco imobiliário e quebra-cabeças relacionados aos países também passaram a fazer parte das atividades de rotina. “Percebo que ele tem progredido no reconhecimento das letras”, diz Luciana.
Aos pais não cabe de forma alguma assumir o papel do professor, mas, ao promover brincadeiras e atividades diversas, eles podem ajudar os filhos no processo de alfabetização. “São atividades que provavelmente os pais já fazem em casa com as crianças, mas se eles tiverem consciência de que elas contribuem para o processo de alfabetização, talvez fiquem menos angustiados”, reflete a coordenadora do Avisa Lá.
Patrícia, da Cedac, complementa: “ao vivenciar situações de leitura, pensar sobre o texto escrito e conversar a respeito disso com adultos, as crianças vão ampliando o seu repertório, observando como a escrita se apresenta na nossa sociedade”. Com a ajuda das educadoras, preparamos abaixo uma série de sugestões que os pais podem fazer com os filhos. Confira.
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Atividades para ajudar as crianças no processo de alfabetização:
PRÁTICAS DE LEITURA
- Ler livros infantis com as crianças.
- Ler receitas de bolo (ou outros preparos) junto com os filhos, para que eles separem os ingredientes, observem as medidas e participem da produção do prato.
- Ler trechos de notícia de jornal e comentar sobre o assunto lido.
- Abrir sites voltados a crianças e ler as informações ali presentes.
- Ler a biografia de um cantor que a criança gosta muito.
- Ler junto com a criança as instruções de um jogo para depois jogarem juntos.
- Ler para si mesmos (os adultos) e compartilhar esse comportamento com os filhos, comentando sobre o que estão lendo ou o que diz o livro, por exemplo.
- Observar junto com as crianças as embalagens de produtos e o que está escrito ali.
PRÁTICAS DE ESCRITA
- Se fazer de escriba para a criança: ela dita e a mãe escreve. Podem ser as regras do jogo, uma receita ou um trecho de história que leram juntos. “Essa é considerada uma linguagem escrita da criança em que ela só não está grafando do próprio punho porque não sabe escrever mas vai ditar pensando como se escrevesse”, diz Patrícia Diaz.
- Sugerir que a criança recorte letras de revistas antigas e com elas arme palavras que conhece – seu nome, dos amigos e familiares, por exemplo.
- Sugerir que a criança escreva, da forma que ela conseguir, a lista de compras do supermercado, a lista dos amigos que mais sente saudade, o recado para os avós ou os aniversariantes do mês.
- Criar calendários e sugerir às crianças que preencham com os dias da semana e façam anotações de como estava o tempo, por exemplo.
- Aproveitar o momento de home office e trabalho no computador para sugerir que a criança brinque ao lado, digitando também em um teclado velho ou de papelão.
PRÁTICAS ORAIS
- Pedir que a criança reconte histórias lidas (ou ouvidas), podendo criar uma nova versão para o final da história.
- Usar trechos de histórias conhecidas para brincar de teatro, sugerindo que a criança mude o tom de voz de acordo com o personagem representado.
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Boa tarde.
A nossa preocupação deve ser no sentido de orientar as famílias a interagir com as crianças,com atividades lúdicas em tempos de quarentena sabemos que o desafio é grande,e nós enquanto professores, não podemos querer que os pais se tornem professores.
Enfim estamos diante de um mal global,mas sabemos que vai passar e que teremos que nos adaptar ao novo normal .
A matéria aborda a preocupação com os prejuízos à aprendizagem e esclarece a importância do papel da família nesse momento, para minimizar os prejuízos acerca da alfabetização das crianças, que esse momento pode ser aproveitado para auxiliar tanto leitura, quanto na escrita, porém não assumindo o papel dos professores, mas sim aproveitando o momento para uma interação prazerosa com as crianças.
Nesta matéria,mais uma vez fica clara a preocupação sobre a quarentena(isolamento social)e os prejuízos à aprendizagem escolar,ao universo letrado! Fala também da importância do papel da FAMÍLIA para minimizar tais prejuízos e o quanto podem fazer e devem fazer,para que as crianças continuem motivadas(interesse aceso)tanto na leitura ,quanto na escrita.Mais e maior preocupação neste momento:estarmos e ficarmos BEM e VIVOS!!!