Casos de depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes aumentaram significativamente durante a pandemia da Covid-19. Recentemente, um levantamento da Folha de S. Paulo, constatou que, pela primeira vez na história do país, há mais jovens com esses problemas do que adultos. A análise foi feita com base em dados da Rede de Atenção Psicossocial do SUS, de 2013 a 2023.
“Os sinais mais comuns de ansiedade em crianças e adolescentes incluem mudanças de comportamento, como irritabilidade, inquietação, dificuldade de concentração, alterações no sono e na alimentação. Fisicamente, podem se queixar de dores de cabeça e no estômago, ou sentir a respiração mais acelerada. Muitas vezes, eles evitam situações sociais ou atividades que antes eram prazerosas. Em adolescentes, a preocupação excessiva com o futuro ou o desempenho pode ser um indicador importante”, explica Marília Scabora, psicóloga e fundadora da Tribo Mãe, um grupo de acolhimento e apoio materno.
A psicóloga afirma que há dois tipos de ansiedade aos quais os pais devem se atentar: a situacional, ligada a provas ou eventos específicos, e o transtorno de ansiedade, que tende a ser mais persistente e interfere nas atividades diárias da criança ou adolescente. “Se a ansiedade é desproporcional ao evento, dura por semanas ou meses, e afeta a capacidade de funcionamento em casa, na escola ou nas interações sociais, é importante buscar uma avaliação profissional”, alerta.
LEIA TAMBÉM:
Como ajudar durante as crises de ansiedade
Para Marília, uma rotina que equilibre momentos de estrutura e flexibilidade pode trazer benefícios para crianças e adolescentes. “Horários definidos para dormir, comer e estudar, intercalados com atividades livres, ajudam a criança a prever o que vai acontecer, o que traz segurança. Além disso, incluir momentos de conexão com os pais, como ler juntos, caminhar ou fazer algo criativo, fortalece o vínculo e cria um ambiente acolhedor e estável.”
Assim, vale pensar em atividades que coloquem o corpo em movimento, em especial ao ar livre, para descarregar a energia acumulada, e naquelas que trazem maior proximidade entre pais e filhos. A seguir, a especialista lista cinco dicas para os momentos de crise de ansiedade.
1. Validação emocional: “É importante escutar o que a criança ou adolescente sente, sem minimizar suas preocupações, criando um espaço seguro para que eles possam expressar seus medos”, sugere Marília.
2. Criação de estratégias de respiração: Ensinar técnicas simples de respiração, como inspirar lentamente pelo nariz e expirar pela boca, ajuda a criança a recuperar o controle quando se sentir ansiosa, orienta a psicóloga.
3. Manutenção de uma rotina estruturada: Crianças e adolescentes se sentem mais seguros em um ambiente previsível. “Estabelecer horários regulares para atividades diárias, como refeições, estudos e sono, pode reduzir a ansiedade”, conta.
4. Estimular o contato com a natureza: O simples ato de caminhar ao ar livre, brincar em parques ou praticar jardinagem pode ser muito eficaz para aliviar a ansiedade.
5. Criar oportunidades de autocuidado e relaxamento: “Incentivar práticas como o mindfulness, a meditação ou até mesmo o simples ato de brincar e se divertir, sem pressões, pode ajudar a regular as emoções”, finaliza.
Ansiedade nos pais
“É importante que os pais estejam atentos ao próprio nível de estresse e ansiedade, pois as crianças captam esses sinais. Cuidar da saúde mental da família como um todo cria um ambiente mais equilibrado para todos. Além disso, respeitar o tempo e o processo de cada criança é essencial. Nem todas as estratégias funcionarão de imediato, mas a presença constante e o apoio emocional fazem uma grande diferença no enfrentamento da ansiedade”, conclui Marília.