Vale dar mesada para que os filhos leiam livros (e saiam das telas)?

Na tentativa de fazer com que as crianças tomem gosto pela leitura, pais decidem dar uma recompensa financeira; veja opinião de especialistas

43
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Não bastasse a luta diária para regular o tempo de tela dos filhos, muitos pais enfrentam ainda outro desafio: fazer com que as crianças leiam livros – uma prática que promove inúmeros benefícios. Segundo o neurocientista e pesquisador francês Michel Desmurget, a leitura é a melhor invenção da humanidade para “estruturar o pensamento, organizar o desenvolvimento do cérebro e civilizar nossa relação com o mundo”.  

Na ânsia de querer que a filha faça da leitura um hábito, a escritora e crítica cultural canadense Mireilli Silcoff tomou uma decisão radical: pagou 100 US$ (quase R$ 570) para que a garota de 12 anos lesse um livro.  

“Entre as estratégias de mãe, esse foi definitivamente um último recurso, e o valor pago foi certamente excessivo. Não posso dizer que estou orgulhosa — mas estou extremamente satisfeita. Porque o plano funcionou. Funcionou tão bem que sugeriria a outros pais de leitores relutantes abrirem as carteiras e corromperem seus filhos para ler também”, disse Mireille, em artigo em que conta a sua saga no jornal norte-americano The New York Times (para assinantes),  publicado também na Folha e em O Globo

Ela lembrou que diante do aumento do tempo de tela na pandemia, “é justo concluir que a leitura de lazer é uma atividade cada vez mais ameaçada entre as crianças”. 

LEIA TAMBÉM:

Segundo a escritora, para leitores de longa data como ela, é fácil entender a importância de ler livros. Porém, essa não é a opinião da filha, que disse não gostar de ler e não ver isso como um problema. Mireille então argumentou que os romances são a melhor maneira de aprender sobre como funciona o interior das pessoas. Mas ouviu da filha que assistir às pessoas nas redes sociais, que estavam sempre expondo os sentimentos, também permite esse aprendizado.  

“Eu disse que os livros ofereciam narrativas. Ela respondeu, “Netflix.” Eu disse que os livros ensinavam história. Ela respondeu, “A internet.” Eu disse que ler a ajudaria a entender a si mesma e ela disse, ‘Ah, não, obrigada. Vou só viver.’” 

Reportagem do portal Uol publicada recentemente também conta histórias de pais, no Brasil, que ofereceram valores entre R$ 10 e R$ 30, para incentivar os filhos a lerem – o que, no geral, trouxe resultados, segundo os próprios genitores. 

Especialistas ouvidos pela reportagem explicam que a estratégia exige cautela para que não passe uma “mensagem negativa”. A ideia precisa ficar muito clara para a criança ou adolescente, afirmou Danielle Admoni, psiquiatra especializada em infância e adolescência e supervisora de residência da Unifesp, em São Paulo. 

Ela diz ser válido explicar ao filho que ele “está recebendo dinheiro porque ler é uma coisa muito importante, que será gratificante e que, mais para frente, deve ler sem receber dinheiro”.  O problema, de acordo com Danielle, é associar a leitura a uma recompensa. “Aí perde um pouco a função do prazer do livro, de todos os ganhos da leitura.” 

“Qual mensagem que você quer transmitir a seu filho?”, questiona a psicóloga Ana Flavia Pereira, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também na capital paulista. Para ela, a estratégia deve ser muito bem explicada, ou não se sustentará por muito tempo, porque a leitura passa pelo prazer, emoções e criatividade. “Dando dinheiro, talvez ela entenda como algo que deve ser feito de forma rápida e superficial. Ela pode ter pouca iniciativa espontânea, o que não é legal”, diz. 

Como incentivar a leitura nas crianças 

Confira algumas das dicas para incentivar o hábito de leitura das crianças e adolescentes —o que pode ajudar a reduzir o tempo de tela.

Ser exemplo. Se os pais ficam o tempo todo usando telas, a situação se torna realmente mais difícil. “Não é só o que a gente pede, mas, principalmente, o que a gente faz”, pontua Danielle Admoni. 

Não apresentar os celulares ou a TV tão cedo. “Essa criança não comprou o celular sozinha. Em uma situação em que tudo foi permitido, fica mais difícil voltar atrás. Não deixe chegar nisso”, diz a psiquiatra. 

Incluir outras atividades no dia a dia, principalmente em contato com a natureza, e participar delas ao lado dos filhos. 

Deixar os livros disponíveis, em prateleiras ao alcance das crianças. 

Explicar a importância da leitura e como ela pode ajudar na escola; 

Criar um ambiente de leitura que seja agradável (luz baixa, sem telas acesas); 

Fazer leitura coletiva com a família, envolvendo todos os moradores da casa; 

Para mais atividades, leia aqui a reportagem completa do Uol.

Veja outra sugestões do livro Faça-os ler! Para não criar cretinos digitais, do neurocientista francês Michel Desmurget.

Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui