De acordo com a ONU (Organização Mundial da Saúde), uma em cada 160 crianças tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em todo o mundo, são mais de 70 milhões de pessoas com o transtorno, que se caracteriza pelos padrões de comportamentos repetitivos e a dificuldade de comunicação e interação social, entre outros aspectos. O transtorno costuma ser identificado por especialistas quando a criança tem entre um ano e meio e três anos, mas os pais podem detectar os primeiros sinais do autismo a partir dos 8 meses de vida, dependendo do grau do transtorno, segundo Fabiele Russo, neurocientista e fundadora da plataforma NeuroConecta, que divulga informações sobre o TEA.
“Intervir precocemente ajuda no desenvolvimento da pessoa com autismo. Ela poderá adquirir habilidades sociais e de comunicação que lhe darão mais independência ao longo da vida”, ressalta Fabiele.
A importância dos estímulos
A neurocientista explica que o cérebro humano possui uma habilidade chamada neuroplasticidade, que permite organizar e modificar sua estrutura em resposta aos estímulos do ambiente externo. “A neuroplasticidade ocorre durante toda nossa vida, mas é mais intensa no início da infância e é por isso que a intervenção precoce é tão importante”, explica a especialista. Isso significa que as experiências vividas nos primeiros anos de vida são essenciais para desenvolver e melhorar habilidades. “A estimulação dos neurônios precocemente contribui para esse processo de reabilitação e otimização de resultados funcionais do cérebro de quem convive com o autismo”, relata a neurocientista.
Quanto mais cedo a pessoa com o transtorno realiza práticas que estimulam o funcionamento do cérebro, mais os neurônios podem ser treinados para superar limitações decorrentes do autismo.
Diagnóstico e sinais do autismo
O diagnóstico do TEA é feito de forma clínica, baseado em evidências científicas e conforme critérios estabelecidos por DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-11 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde).
“A análise normalmente é feita em uma entrevista com os pais da criança, além da avaliação observacional de comportamentos”, explica Fabiele. Dependendo do resultado, a criança pode ser conduzida por uma equipe multidisciplinar de médicos, incluindo um pediatra, psicólogo, fonoaudiólogo, educador físico, terapeuta ocupacional e assistente social.
Vale ressaltar que, em alguns casos, é necessário realizar testes genéticos e rastreio para problemas médicos relacionados com o autismo, entre eles, síndromes genéticas.
A seguir, a neurocientista lista alguns sinais de autismo que podem ajudar no diagnóstico precoce, levando a criança para uma entrevista com um especialista em transtorno de espectro autista.
1. Comportamentos repetitivos
Um comportamento muito comum em pessoas que têm autismo é a estereotipia, que são movimentos repetitivos que a pessoa realiza, como por exemplo, se balançar para frente e para trás. “Isso acaba acontecendo sem nenhum motivo aparente e pode dificultar o convívio social”, explica a especialista.
As estereotipias causam estranheza e podem ser motivos de bullying por parte de outras pessoas, no entanto, são benéficas para os portadores do transtorno. “Esses movimentos repetitivos acontecem quando a pessoa está tentando se organizar por dentro e processar o que está sentindo, aliviando estresse e ansiedade e até mesmo fazendo parte de algo prazeroso”.
2. Resistência a mudanças
É comum que as pessoas com transtorno do espectro autista sejam resistentes a mudanças. “Isso inclui novos alimentos, mudanças de disposição de móveis, roupas e até mesmo brinquedos”, comenta a especialista. De acordo com Fabiele, essas pessoas podem se apegar a manias e rotinas, tendo interesse intenso em fazer coisas específicas e repetidamente, como dito anteriormente sobre a estereotipia.
3. Fixação por objetos incomuns
Todos nós temos assuntos de maior interesse, mas no caso dos autistas, isso acontece com uma intensidade muito grande. “Eles possuem uma fixação por objetos e personagens, entre outros aspectos, e o tema de interesse vai mudando ao longo do tempo, mas as características permanecem”, comenta a especialista. Essa fixação se chama hiperfoco e muitas vezes acaba virando uma obsessão nas crianças com o transtorno.
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