Infelizmente, ainda existe muito preconceito e desinformação em relação ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que afeta entre 3% e 5% da população infantil em todo o mundo e acompanha cerca de 50% delas ao longo da vida. “Muita gente não acredita que isso seja realmente um problema de saúde, o que dificulta muito a adesão ao tratamento e traz prejuízos enormes para a criança que tem TDHA”, afirma o pediatra Paulo Telles.
Ele diz que é natural que os pais apresentem certa resistência ao receber o diagnóstico de TDAH no filho. “Podem surgir uma variedade de sentimentos, muitos negam, alguns ficam assustados e questionam o diagnóstico. Por isso é importante cuidar dos pais, acolher, ouvir suas dúvidas e angústias, para que o tratamento da criança comece com todo mundo alinhado e confiante”, comenta o pediatra.
A neuropsicopedagoga Keila Chicralla ressalta que o transtorno não tem cura, mas o tratamento traz grande melhoria nos sintomas apresentados e, por consequência, mais qualidade de vida à criança.
“Os sintomas do TDAH não são exclusivos do transtorno. Todos nós temos dias em que estamos mais agitados e distraídos, sem motivação ou impulsivos. Entretanto, quando estes sintomas ocorrem com grande frequência e intensidade, trazendo sérias consequências à criança, estaremos diante do TDAH”, afirma a especialista.
Ela relata que o apoio familiar é fundamental e quanto mais informações os pais tiverem sobre o assunto, mais poderão ajudar o filho. “Na grande maioria das vezes, ao ser informado sobre o TDAH do filho e buscar conhecimento sobre o tema, muitos pais constatam sintomas do TDAH em si mesmos e em outros familiares próximos, vindo a buscar tratamento, ainda que tardiamente, após terem passado décadas sofrendo com esse transtorno invisível (por não alterar a aparência da pessoa) e de alta taxa de hereditariedade”, pontua a psicopedagoga. Abaixo, os especialistas explicam em detalhes o que é o transtorno e dão sugestões de como ajudar na rotina da criança.
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Desconfio que meu filho tem TDAH. O que devo fazer?
O primeiro passo é a busca de atendimento médico com um neurologista infantil ou psiquiatra infantil, que avaliará a necessidade de medicamentos associados à equipe multidisciplinar com psicólogo, pediatra especializado em desenvolvimento, pedagogo ou psicopedagogo. Os profissionais da saúde que acompanham a criança precisam educar e orientar a família sobre todos os sintomas, diferenças comportamentais, possibilidades terapêuticas e como lidar com os desafios e sintomas da criança. “Mas diria que a família e a escola têm papel fundamental e determinante no processo”, ressalta Telles.
Quais as características do transtorno?
O TDAH é um transtorno neurobiológico que surge na infância e tem como principais características falta de atenção, agitação e impulsividade. “Na maioria das vezes, teremos um grau maior de prejuízo na atenção sustentada (foco), na memória (memória de curto prazo), no controle inibitório (impulsividade), hiperatividade (movimentação constante), na dificuldade de auto regulação (principalmente do humor) e na deficiência nas funções executivas. Para estas dificuldades o tratamento deve ser feito com uma equipe multidisciplinar”, explica Keila.
Como o TDHA afeta o dia a dia das crianças?
Uma criança que é mais agitada, menos atenta pode acabar sendo estigmatizada como mal educada, desafiadora, ou com mal comportamento. Se o diagnóstico não for feito de forma correta, se a família não buscar auxílio a criança acabará sofrendo muito. “Teremos prejuízos sociais, emocionais, de autoestima. Por isso o tratamento e acompanhamento adequados são tão importantes para o desenvolvimento adequado da criança, só assim ela atingirá todo seu potencial sócio, cognitivo e emocional”, esclarece Telles.
Ele tem causas hereditárias?
Alguns transtornos de neurodesenvolvimento como o TDAH, possuem componentes genéticos, e são altas as chances de que o transtorno seja encontrado em várias pessoas da família. O que não quer dizer que se o pai tem, o filho obrigatoriamente terá. Porém, além da questão genética, fatores ambientais também influenciam.
Quais as formas de tratamento para o TDAH?
O tratamento baseia-se em intervenções psicoterápicas, sendo a terapia cognitivo-comportamental a forma com mais evidências científicas de benefício. “Muitas vezes é necessário também o tratamento psicofarmacológico, através de medicamentos receitados pelo psiquiatra, os quais podem ser muito importantes em alguns casos. O diálogo e a informação aos pais são essenciais para que a adesão seja correta”, orienta Telles.
Como a escola pode ajudar no desenvolvimento da criança com TDAH?
A escola e os professores têm papel fundamental neste processo, por isso a comunicação entre todos é muito importante e essencial para que a criança consiga conviver de forma harmoniosa em todos os ambientes que frequenta. Porém, segundo o pediatra, nem todas as escolas estão aptas e preparadas para atender de forma adequada crianças com demandas diferentes, por isso os pais devem escolher sempre uma escola que participe de forma ativa e seja capaz de acolher as demandas de cada criança.
Como os pais podem ajudar na convivência da criança com o transtorno?
- Estabeleça uma rotina, use calendário e avisos para a realização de atividades.
- Estipule um tempo em cada atividade, use um marcador de tempo, e, dê alguns minutos de pausa para que a criança faça algo que gosta.
- A criança com TDHA tem dificuldade em finalizar tarefas. Por isso, ensine-a e a ajude a realizar as atividades até o final.
- Tente estabelecer pausas e momentos de relaxamento e meditação. Há vários aplicativos com sons de natureza e músicas calmas que podem ser usados para isso.
- Estimule a prática de exercícios físicos regulares e atividades que deem prazer à criança com TDAH e também a ajudem a gastar energia e contribuir para a concentração e a disciplina.
- Convide amigos do seu filho para vir brincar em casa. A princípio, se preciso, fique próximo e os ajude nas brincadeiras. A ideia é ajudar a criança a fortalecer vínculos com amigos e fazer com que ganhe confiança.
- Esteja sempre presente, reforce de forma positiva, isso é muito importante contribuir para auto estima da criança.
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Olá, Rejane, tudo bem?
Lamento que você tenha passado por isso. É natural que você queira entender melhor o assunto e faça muitas perguntas, ainda mais logo após receber o diagnóstico. Espero que você tenha encontrado outros profissionais que de fato a ajudaram no direcionamento do melhor tratamento para a sua filha. Abs, Verônica.
Lembrei de qdo recebi o diagnóstico da minha filha, e na minha ignorância e preconceito com a medicação ,eu perguntei se havia algo natural e fui expulsa da sala.
O médico (psiquiatra) abriu a porta e mandou que eu saísse da sala , me acusando de ser contra o tratamento.
Enquanto na vdd era só uma pergunta.
Gostei muito da reportagem,estou cursando educação especial