Apesar do grande número de famílias monoparentais, os que criam sozinhos os seus filhos, ou com pouca participação do outro genitor, ainda convivem com o preconceito. O homem é o irresponsável que abandona o filho. A mulher, coitada, uma “fácil”, que estragou sua vida e não foi capaz de casar. Não são consideradas as hipóteses de morte, estupro, fim da relação ou a simples opção. E apesar da discriminação, as famílias diferentes se multiplicam, escancarando a necessidade de repensar os paradigmas e as ações contra os fora do padrão.
Há poucos estudos sobre mães solteiras no Brasil, e menos ainda sobre os pais. Alguns indicam que elas sofrem com a sobrecarga, com a baixa renda e com o stress. Fato é que, além dos prejulgamentos, há uma hipótese social “sutil” de que as crianças sofreriam perdas. Um cenário no qual pais sem condição criam filhos prejudicados. Isso não é verdade. Qualquer tipo de família pode criar os filhos com qualidade, havendo riscos de distúrbios em qualquer configuração.
Lares afetuosos, com convivência íntima e diálogo, inclusive na tomada de decisões, desenvolvem crianças saudáveis. Estudos afirmam que filhos de mãe solteira tendem a desenvolver maior independência, participação e responsabilidade. A causa: contexto familiar com mais intimidade, afetuoso e mais consensual. Por outro lado, eles podem ter menor autoestima, sendo a discriminação social responsável por essa característica.
“Pães” necessitam de mais recursos internos, para dar afeto e limite, e de uma boa rede social de apoio (pessoas que ajudem na criação de seus filhos). Mas, havendo preconceito, essa rede se reduz ou inexiste, o que intensifica o risco de adoecimento do responsável e da criança, que também não é socialmente aceita. Pensemos sobre o casamento obrigatório, a expulsão de casa, a demissão ou a não contratação de mães solteiras (sob argumentos do tipo “e se o filho adoecer”, ou ainda “não fará horas extras porque busca o filho na escola”), os pais solteiros (viúvos) que enfim têm direito à “licença-maternidade” e outros que (mesmo existindo muitos que abandonam seus filhos e engrossam o coro do preconceito social) querem ser pais, mas não conseguem. O preconceito é uma realidade. Pesquisando blogs de “pães”, tenho lido desabafos e comentários preconceituosos, agressivos e anônimos.
“Pães” querem o melhor para seus filhos, assim como as famílias tradicionais. Buscam mais qualidade de vida, tentam empreender e desejam mais tempo para os filhos. “Pães” precisam de apoio social, trocar experiências, profissionais preparados, esperança e coragem, horizonte e perspectiva. Sentir que é possível. Por isso, “pãe”, converse sobre suas dificuldades, busque redes de apoio e a experiência de outros como você. Nós não estamos sozinhos!
Tatiana Martins
é psicóloga, pãe de Francisco e coach de “pães”. É especialista em gestão estratégica de pessoas e em gestão estratégica da informação e mestranda em ciência da informação na linha de pesquisa gestão da informação e do conhecimento pela UFMG.