Por Juliana Sodré
No último sábado (21 de outubro), a psicóloga e terapeuta sexual Sônia Eustáquia da Fonseca foi a convidada do Encontro Canguru de Belo Horizonte. Casais, mães e pais estiveram presentes na palestra apresentada pela diretora de jornalismo da Canguru, Ivana Moreira, para saber um pouco mais sobre como manter um bom casamento “apesar” dos filhos.
Entre brincadeiras com a plateia e intervenções de Ivana Moreira, a palestra falou de um tema sério que despertou o interesse de muita gente. Entre os aprendizados, Sônia começou a palestra dando o alerta: ter um bebê muda o relacionamento de um casal. Por mais que os filhos sejam bem planejados, a rotina fica diferente, exige mais responsabilidade e tanto o homem como a mulher ganham novas funções, que vão além de fraldas, banhos e amamentação. Por isso, os casais precisam estar bem preparados.
E mostrou ao longo da ‘aula’ que é preciso que os pais compreendam que a construção de uma família não acontece da noite para o dia com a chegada de uma criança. Reconhecer que haverá momentos de discordância é importante para buscar o equilíbrio saudável da vida do casal. Pois, na opinião dela, casamento por si só já proporciona mudanças em algumas situações do casal como:
– Cuidados com o corpo: homens e mulheres tendem a não se preocupar mais tanto com a aparência após o casamento.
– Saudade de sentir saudade: ficam juntos demais, não sentem a falta um do outro.
– Não ter mais tempo sozinhos: além de sentir menos saudade, os casados têm menos tempo para si.
– Perda da individualidade: o sagrado futebol com os amigos foi “proibido”. O happy hour dela com as amigas também é sempre criticado pelo marido. Um dos desafios da vida conjunta é manter a individualidade mesmo estando casados.
– Fazer sexo pode parecer fácil demais depois de casado: o engraçado do casamento é que o casal pode finalmente fazer amor todos os dias, mas não faz. Nosso dia a dia é cansativo e existe o desgaste natural.
– Brigas sob o mesmo teto: quando há uma discussão não há para onde fugir e é preciso encarar o conflito. O casamento muda a dinâmica do relacionamento de namoro na hora de encarar os problemas. Não dá para ir para a casa da mãe.
– Obrigações sociais: o casamento traz mudanças drásticas no relacionamento com a família e nas obrigações sociais.
A chegado do filho, portanto, para a palestrante, é a “crise necessária” para o crescimento do casal. Especialmente quando se dá o nascimento do primogênito. Para ela, é a experiência que caracteriza o fim do “romance” para a chegada do papel de pais. A vida muda para os dois e os dois mudam internamente, e essa “crise’ tende a evoluir para uma família sólida. Ou não.
Ao se tornarem pais, o homem e a mulher devem aceitar a nova condição e adaptarem-se ao novo estilo de vida, unindo-se na divisão de tarefas e educação e reorganizando a vida financeira da casa através do diálogo e da flexibilidade.
Sem filhos
Sônia Eustáquia reservou um momento da sua apresentação para falar sobre os casais sem filhos. E apresentou uma pesquisa realizada no Reino Unido, com 5 mil pessoas, entre homens e mulheres. A pesquisa mostra que os casais sem filhos se consideram mais felizes no relacionamento. A principal justificativa é a dedicação de mais tempo para a manutenção do relacionamento, com apoio, conversa e frases como “eu te amo”.
O levantamento britânico apontou que os homens têm duas vezes mais probabilidade de sentir falta do contato sexual com suas parceiras, embora isso, de acordo com os entrevistados, não afetasse o nível de satisfação com o relacionamento.
Nos Estados Unidos compararam casais com e sem filhos, e os pesquisadores concluíram que a taxa de declínio da satisfação é quase duas vezes mais aguda em casais com filhos do que aqueles sem.
Esses aspectos negativos de ter filhos podem explicar em parte porque um número cada vez maior de mulheres nos Estados Unidos e em todo o mundo não querem procriar. De acordo com o Censo nos EUA, o porcentual de mulheres americanas entre 15 e 44 anos sem filhos aumentou enormemente em apenas duas gerações: de 35% em 1976 para 47% em 2010. Apesar deste quadro mostrado pelos pesquisadores, muitas mães (e pais) consideram os filhos sua maior alegria. Muitas mulheres acham que a recompensa de ver os filhos crescerem vale o ônus que pode acarretar o relacionamento com seu parceiro.
A mesma pesquisa mostra que quanto mais baixa a satisfação do casal com a relação, a probabilidade de um divórcio também diminui. Portanto, ter filhos pode deixá-los deprimidos, mas ficarão deprimidos juntos.
Assim sendo, para que os brasileiros não respondam e sofram do mesmo mal, a sugestão dada é que casais sigam algumas dicas:
– Em 2002, a Organização Mundial da Saúde incluiu o sexo como um dos pilares mais importantes para a qualidade de vida, ao lado de família, lazer e trabalho. Por isso, não dá para deixar o sexo de lado, ele tem um peso grande na vida a dois. Os papéis de mulher-amante ou homem-amante precisam andar em paralelo com o de mãe e pai para que o casamento seja saudável.
– Toda relação precisa de manutenção ao longo do tempo. Isso significa sair para jantar de vez em quando, compartilhar angústias, viajar juntos, dividir as pressões do dia a dia e ter uma hora para conversar sobre tudo. Independente dos filhos, o casal precisa rever o momento em que estão vivendo e se abrir para fazer adaptações na rotina.
– A falta de diálogo é muito perigosa, é um dos principais motivos de fim de relacionamento. É por meio da conversa que a gente vai entender o que o outro está sentindo e descobrir qual é a melhor maneira de lidar com as questões do dia a dia.
– É normal que, com a chegada das responsabilidades, o cuidador da criança se torne mais mandão, autoritário e exigente. Aqui vale um cuidado para não transformar o parceiro num catalisador de pressões e cobranças. Frases do tipo ‘você não faz nada direito’, ‘eu já falei mais de mil vezes’, ‘não aguento cuidar de mais uma criança’, quando repetidas exaustivamente, podem deixar a relação muito pesada. “Colocar todas as nossas expectativas no outro e culpá-lo sempre por nossas frustrações torna a rotina do relacionamento mais complicada”.
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