Uma deficiência visual relacionada ao cérebro, que até recentemente era considerada rara, pode afetar uma em cada 30 crianças, de acordo com uma nova pesquisa que investiga a prevalência de deficiência visual cerebral (CVI). As descobertas lideradas pela Universidade de Bristol, na Inglaterra, publicadas na última quarta-feira (3), na Developmental Medicine and Child Neurology, visam aumentar a conscientização sobre problemas visuais relacionados ao cérebro entre pais e professores para ajudá-los a identificar sinais da condição mais cedo. Os testes de gráfico ocular nem sempre conseguem identificar essa deficiência – embora avaliem muito bem o quanto uma pessoa pode ver os detalhes de uma letra ou símbolo de uma distância específica.
Para a visão, sabe-se que o cérebro é tão importante quanto os olhos e muitas questões relacionadas à visão são causadas por áreas do cérebro que não funcionam bem. Tratam-se de problemas que não são resolvidos com o uso de óculos e incluem dificuldades em mover os olhos, ver coisas no espaço ao redor (campo visual) e reconhecer objetos com precisão e rapidez.
O estudo, financiado pelo Instituto Nacional para Pesquisa em Saúde (NIHR), investigou quantas crianças em idade escolar podem ter problemas visuais relacionados ao cérebro que não foram previamente diagnosticados.
Pesquisadores da University of Bristol Medical School coletaram informações sobre 2.298 crianças de 5 a 11 anos em 12 escolas, usando questionários para professores e pais. Eles convidaram mais de 10% das crianças (262 alunos) para uma avaliação detalhada usando testes validados para identificar crianças com deficiência visual relacionada ao cérebro, sugestivos de CVI.
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Com base nos resultados levantados, a equipe descobriu que, em média, cada classe de 30 crianças teria uma ou duas crianças com pelo menos um problema de visão relacionado ao cérebro. Eles constataram que não havia um problema que se destacasse como mais comum que os outros: as dificuldades observadas incluíam problemas com os movimentos dos olhos, campo visual, reconhecimento de objetos e visão desordenada.
A equipe também descobriu que as crianças que estavam lutando para aprender e já recebiam ajuda extra na escola eram mais propensas a ter problemas de visão relacionados ao cérebro: 4 em cada 10 crianças com suporte para necessidades educacionais especiais tinham um ou mais problemas visuais relacionados ao cérebro, enquanto para todas as crianças era apenas cerca de três em 100.
Cathy Williams, autora principal do estudo e professora associada em oftalmologia pediátrica na Escola de Medicina de Bristol e consultora nos Hospitais Universitários de Bristol e Weston NHS Foundation Trust (UHBW), explicou: “Embora isso não prove que esse tipo de problema de visão seja a causa das dificuldades de aprendizagem para qualquer criança em particular, o estudo sugere que atender às necessidades visuais das crianças, como tornar as coisas maiores ou menos desordenadas, pode ser um bom lugar para começar.
Se as intervenções podem funcionar para reduzir o impacto desses problemas na aprendizagem das crianças, podem também melhorar os resultados educacionais e de bem-estar para as crianças”. Os autores recomendam no futuro que a verificação detalhada da visão de todas as crianças que precisam de apoio extra na escola, bem como as avaliações existentes do pediatra e da psicologia educacional, podem melhorar os resultados para as crianças.
O Projeto CVI é um programa de cinco anos de trabalho financiado pelo NIHR para investigar quantas crianças têm CVI, a melhor forma de encontrá-las e apoiá-las, e quais áreas de suas vidas são mais afetadas. Mais informações sobre o projeto podem ser acessadas em www.thecviproject.co.uk.
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