Passeio que Luís Giffoni recomenda neste mês: ‘A beleza do fim do mundo’

'A região possui algumas das mais belas paisagens do planeta. Encantam, hipnotizam, seduzem, dão vontade de voltar.' Leia na #Canguru de julho

Por Luís Giffoni

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A beleza estonteante de Torres del Paine | Foto: Pixabay

 

Há um lugar na ponta da América do Sul, no Chile, junto ao Estreito de Magalhães, que se chama Fim do Mundo. É um forte abandonado à beira-mar, cercado por troncos de pinheiros. Casas e depósitos cobertos com grama resistem à passagem do tempo. Ali perto, no século XVI, as primeiras tentativas de colonização pelos espanhóis fracassaram. O clima não ajudou. No verão, neva, chove, venta forte, faz sol, volta a chover, gela, esquenta… Por que ir lá, então? A resposta é simples: a região possui algumas das mais belas paisagens do planeta. Encantam, hipnotizam, seduzem, dão vontade de voltar.

São montanhas de muitas cores sobrepostas, picos esculpidos pelas eras geológicas, lagos cristalinos, geleiras azuis, florestas de lengas e ñires, às vezes apenas vegetação rasteira com flores vermelhas e amarelas, colunas de orvalho no céu, córregos para matar a sede, pássaros estranhos como o nhandu, manadas de guanacos selvagens, caminhadas em glaciares onde a Idade do Gelo ainda não acabou… Na Patagônia chilena, a história humana se funde à história da Terra. É boa para os olhos e para o espírito. A América do Sul termina num paraíso.

Se você e seus filhos gostam de aventura, de vida ao ar livre, de caminhadas, de descobertas, Punta Arenas é a porta ideal de entrada para tudo isso. A cidade possui vários voos por dia para Santiago. Atende a quem exige conforto ou viaja com orçamento apertado. Dali se vê a Terra do Fogo, do outro lado do oceano. Nos arredores, existem várias colônias de pinguins. A poucas horas de carro ou ônibus, rumo ao Norte, chega-se a Puerto Natales e ao Parque Nacional Torres del Paine.

Torres del Paine apresenta uma das mais altas concentrações de beleza no mundo. Se você quiser fazer apenas uma excursão visual, leve seus filhos para um dos muitos hotéis existentes, luxuosos ou não, curta a natureza no calorzinho do quarto e saia apenas para conhecer as principais atrações, como a vista de Los Cuernos, um passeio pelo Lago Nordenskjold ou o Glaciar Grey. Talvez vocês até tentem pescar uma truta. Ou acariciar filhotes de nhandu (parecido com a ema) ou de guanaco (que lembra a lhama). Ou acompanhar o voo dos condores.

No entanto, a grande pedida para pais e filhos adolescentes é o Circuito W. O trekking dura quatro dias e visita os principais pontos do parque, com direito a cachoeiras, matas, lagos, avalanchas e bichos. Para quem não quer acampar, empresas oferecem refúgios para dormir, em quartos com até 13 camas, onde refeições são servidas em meio a interação de gente do mundo inteiro, de todas as idades. A cada tarde, nos quatro refúgios, ouve-se uma babel de línguas. Do lado de fora, adolescentes curtem o vento, que pode carregá-los e ruge entre as montanhas como locomotiva antiga. As noites de muitas estrelas mostram o Cruzeiro do Sul de ponta-cabeça. O barulho das cachoeiras embala o sono. O pio do torreón, nosso ticotico, desperta a manhã.

A Patagônia chilena pode ter sido o fim do mundo, mas hoje está integrada. Ainda bem, para pais e filhos de todos os continentes. O fim do mundo é lindo.

 

Luís Giffoni é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. giffoni@canguruonline.com.br

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