Da Redação
A obesidade é uma doença crônica cujo avanço tem se dado de forma acelerada em todo o mundo nos últimos anos. No Brasil, a situação não é diferente. De acordo com dados da pesquisa Vigitel Brasil 2016 da Saúde Suplementar, mais de 50% da população adulta está acima do peso, na faixa de excesso de peso e obesidade. Com o intuito de analisar a questão sob o ponto de vista das possibilidades de ação no setor da saúde privada, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) elaborou o “Manual de Diretrizes para o Enfrentamento da Obesidade na Saúde Suplementar Brasileira“.
Boa parte do manual se dedica a analisar o excesso de peso na infância e adolescência e trazer recomendações para combatê-lo. Veja abaixo os principais pontos pinçados pela reportagem da Canguru:
“O excesso de peso na infância aumenta o risco de obesidade na adolescência e consequentemente na vida adulta, com graves consequências para a saúde.”
“De acordo com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF (IBGE, 2010), coletados entre 2008 e 2009, no Brasil, 15% das crianças na faixa de 5 a 9 anos estavam obesas e 37% com excesso de peso. Na faixa de 10 a 19 anos, as taxas de excesso de peso eram de 34,8% para meninos e 32% para meninas, e de obesidade eram, respectivamente, de 16,6% em meninos e 11,8% em meninas (IBGE, 2010). Mais recentemente, o estudo populacional de base escolar ERICA2 – Estudo de Risco Cardiovascular em Adolescentes constatou taxa de obesidade de 8,4% entre os adolescentes. O excesso de peso foi constatado em 17,1% do total de estudantes.”
“Os fatores de risco para desenvolvimento de obesidade na infância são: prematuridade, bebês pequenos para idade gestacional (PIG), bebês grandes para idade gestacional (GIG), filhos de mães diabéticas, pais obesos, interrupção precoce do aleitamento materno e introdução inadequada da alimentação complementar, com oferta de alimentos ricos em gorduras e açúcares e o uso de leite de vaca antes de um ano de idade (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). Além dos determinantes biológicos, a forte influência do ambiente no desenvolvimento da obesidade infantil também deve ser considerada, e medidas que incidam no ambiente alimentar devem ser desenvolvidas e apoiadas.”
“Os períodos críticos para desenvolvimento da obesidade são, levando-se em consideração os fatores de risco, o período intrauterino, o primeiro ano de vida, entre cinco e seis anos e adolescência.”
Orientações para prevenir a obesidade, por faixa etária:
Orientações para uma alimentação saudável:
– Escolher com consciência os alimentos, observando-se as quatro categorias definidas de acordo com o tipo de processamento empregado na sua produção: alimentos in natura ou minimamente processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados;
– Tornar os alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
– Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Desde que utilizados com moderação em preparações culinárias com base em alimentos in natura ou minimamente processados, óleos, gorduras, sal e açúcar contribuem para diversificar e tornar mais saborosa a alimentação sem torná-la nutricionalmente desbalanceada;
– No primeiro ano de vida, o sal não deve ser adicionado à papinha da criança, assim como o açúcar. Outros temperos podem ser utilizados como: o alho, a cebola, o manjericão, etc.;
– Limitar o uso de alimentos processados, consumindo-os em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados;
– Dar preferência aos alimentos in natura ou minimamente processados nas preparações culinárias;
– Evitar alimentos ultraprocessados
Recomendações de atividade física, por faixa etária:
Crianças de 0 a 2 anos de idade
Bebês devem ser incentivados a serem ativos, mesmo que por curtos períodos, várias vezes ao dia, como brincar, engatinhar e arrastar. Aqueles que ainda não começaram a se arrastar/ engatinhar devem ser encorajados a serem fisicamente ativos alcançando, segurando, puxando e empurrando, movendo a cabeça, corpo e membros durante as rotinas diárias e durante atividades supervisionadas no chão, incluindo tempo em decúbito frontal.
Crianças que conseguem andar sozinhas devem ser fisicamente ativas todos os dias, durante pelo menos 180 minutos, em atividades que podem ser fracionadas durante o dia em ambientes fechados ou ao ar livre, como: ficar de pé, movendo-se, rolando e brincando, além de saltar, pular e correr. Essas crianças não devem permanecer em comportamentos sedentários por longos períodos, exceto quando estão dormindo. O comportamento sedentário representa o tempo em que as crianças estão fazendo muito pouco movimento físico, como passear de carro, ficar no colo, ou no carrinho de bebê. Permanecer em comportamentos sedentários por longos períodos não é benéfico para a saúde e para o desenvolvimento da criança e deve ser evitado.
Outra recomendação importante até os dois anos é que o “tempo de tela” (TV, tablet, celular, jogos eletrônicos) seja zero.
Crianças de 3 a 5 anos de idade
Crianças dessa faixa etária devem acumular pelo menos 180 minutos de atividade física de qualquer intensidade distribuída ao longo do dia. As brincadeiras ativas como: andar de bicicleta, atividades na água, jogos de perseguir e jogos com bola são as melhores maneiras para essa faixa etária se movimentar.
A partir dos três anos de idade atividades físicas estruturadas, como natação, danças, lutas, esportes coletivos, entre outras, também podem ser incluídas.
Recomenda-se que o “tempo de tela” seja limitado em até duas horas por dia, sendo que quanto menos tempo gasto frente às telas será melhor.
Crianças e adolescentes de 6 a 19 anos de idade
Crianças e adolescentes dessa faixa etária devem acumular pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa, tais como pedalar, nadar, correr, saltar e outras atividades que tenham, no mínimo, a intensidade de uma caminhada.
A recomendação da OMS é que os jovens de 5 a 17 anos devem acumular ao menos 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a alta. A ideia é atingir esta meta realizando atividades distribuídas em períodos menores durante o dia (trinta minutos pela manhã e mais trinta à tarde, por exemplo) (WHO, 2010). Qualquer tempo superior a esta recomendação mínima resulta em benefícios adicionais para a saúde.
Atividades de intensidade vigorosa, incluindo as resistidas – aquelas que predominantemente sejam capazes de fortalecer músculos e ossos a partir de sobrecargas, em especial o próprio peso corporal para, progressivamente, utilizar outras formas, como sobrecargas externas, como ocorre na musculação – devem ser realizadas em, pelo menos, três dias por semana, com vinte e cinco minutos de duração por sessão. Para a população pediátrica essas atividades podem ser não estruturadas, como brincadeiras que incluam saltos, atividades de empurrar, puxar e apoiando/ suportando o peso corporal.
Crianças e adolescentes devem ser encorajados a participar de uma variedade de atividades que contribuam para o desenvolvimento natural, tais como, caminhadas, andar de bicicleta, praticar esportes diversos, se envolver em jogos e brincadeiras tradicionais da comunidade em que estão inseridas.
Para crianças e jovens caracterizados por um comportamento mais sedentário, aconselha-se um aumento progressivo no nível de atividade até que se atinja a meta mencionada acima. É melhor começar com um volume menor de atividade física e, com o tempo, ir aumentando sua duração, frequência e intensidade.
Assim como para crianças de 3 a 5 anos de idade, comportamentos sedentários devem ser evitados e recomenda-se que o tempo de tela seja limitado em duas horas por dia, sendo que quanto menos tempo gasto frente às telas será melhor.