Mães também contam (pequenas) mentiras

Às vezes, é preciso apelar para verdades não tão verdadeiras assim para explicar algo aos filhos ou convencê-los do inconvencível. Quem nunca?

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Mulher de óculos e mãos em forma de reza faz cara de culpa
Como explicar de onde vêm os presentes de Papai Noel? E os ovos de Páscoa? Vida de mãe não é fácil...
Buscador de educadores parentais
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Conheço algumas mães que inventam mil histórias sobre a origem dos legumes e os mais aleatórios efeitos na vida da pessoa para convencer o filho a comer. Eu tenho uma prima que só comia couve porque a mãe dela dizia que o verde da folha fazia os olhos dela ficarem mais verdes. Uma amiga minha disse para o filho que ele precisava tomar banho e parar de comer doces deitado na cama, porque, do contrário, as baratas viriam dormir com ele.

Aqui em casa eu pesquiso no Google as doenças mais loucas e estatísticas mais estapafúrdias para argumentar com meus filhos. Às vezes dá certo, noutras perco na argumentação porque eles sabem usar o Google melhor do que eu. E assim, seguimos mentindo mais um dia.

Em toda data comemorativa me sinto mal por mentir. No Natal, já não sei qual argumento usar para explicar de onde vêm os presentes e o porquê do Papai Noel não comprar exatamente o que eles querem ganhar. Não é minha culpa, que meu filho mais velho, muito bem informado sobre as mentiras que conto, induz os mais novos a pedirem um unicórnio. “Se (repare no emprego da conjunção já me acusando) Papai Noel existe, é claro que existe unicórnio, né, mamãe?”. Daqui a pouco me visto de verde e interpreto um gnomo, quem sabe uma rena, com nariz vermelho e tudo.

Na Páscoa não consigo explicar os ovos de chocolate saindo de um coelho. Meus filhos pesquisaram também e descobriram que é um mamífero. Eu sei que deveria comemorar este espírito investigador, mas tem dificultado e muito meu trabalho de mãe-lúdica. Ao menos posso contar a história e ainda mostrar a foto da barata que de fato dormia com o filho da minha amiga. Eu só não sei se foi uma prova implantada ou se realmente a barata seduzida pelos farelos de biscoitos resolveu montar acampamento ao lado do travesseiro do menino e morreu esmagada. Eu escreveria na cabeceira da cama “aqui jaz uma barata que morreu feliz”.

Já não consigo olhar nos olhos do mais velho sem rir ou chorar diante do boicote que ele está fazendo contanto aos mais novos toda a verdade. Dia desses fiquei horas fazendo pegadas de coelho só para provar que ele existe e o pior nem é fazer, mas limpar depois.

Estamos em novembro e ainda tem tinta branca grudada no chão do corredor. Eu que não me presto a este ridículo de ficar de joelhos limpando isso. Já até praguejei o pobre coelho que eu mesma inventei. Pareço aquelas pessoas com múltipla personalidade. Um dia eu explico sobre honestidade, no outro eu digo para a criança colocar dente embaixo do travesseiro.


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