Crianças entre seis e oito anos devem se habituar ao uso de telas, tendo seu próprio celular e conta em redes sociais. É o que defende Jordan Shapiro, 42 anos, filósofo americano, autor do livro “The new childhood: raising kids to thrive in a connected world” (“A nova infância: criando filhos para prosperar em um mundo conectado”, em tradução livre).
Em entrevista para o jornal O Globo, durante a Cúpula para Inovação na Educação (Wise, na sigla em inglês), realizada em Qatar, em novembro de 2019, Shapiro explicou que, nessa idade, é mais fácil moldar hábitos digitais saudáveis, já que as crianças se espelham nos pais e querem ser iguais a eles. “Se digo, não jogue esse game porque é estúpido, elas vão acatar. Agora, já adolescentes, eles mandam eu me calar. Você tem que construir esses hábitos desde criança. É muito mais fácil mudar a cabeça de uma criança.”
Contra a corrente da maior parte de pediatras e especialistas em educação, que veem o uso das telas com prejuízos ao desenvolvimento infantil, Shapiro sugere que os pais explorem a tecnologia junto com seus filhos.
Questionado quanto aos possíveis problemas que a exposição das crianças às telas poderiam causar, o filósofo diz que as pesquisas sobre o assunto não falam em danos aos pequenos. “Médicos tentaram provar que havia (algum tipo de problema) e não conseguiram. A recomendação da OMS para não se dar telas para crianças antes dos dois anos não é porque o tempo na frente da delas é perigoso, e sim porque o mais importante nesta idade é o contato olho no olho, interações entre crianças e adultos, falar com a criança”, relata Shapiro. Ele afirma que isso, de fato, é muito importante, e há o medo de que, com o acesso às telas, os pais diminuam o tempo de contato com a criança, mas, para ele, a recomendação assusta.
Como encarar a tecnologia
Mais que discutir se a tecnologia é boa ou ruim para as crianças, ele diz que é fato que ela existe e devemos saber como preparar os pequenos para lidar com essa realidade. “Talvez até seja um erro, talvez seja terrível viver num mundo conectado. Mas o gênio está fora da lâmpada. Não dá mais para voltar atrás.”
Shapiro diz que é importante pesquisar se há formas melhores de se usar as telas e qual o impacto do desenvolvimento com o YouTube ou videogames. De acordo com o filósofo, há pessoas preocupadas com isso, mas não o suficiente. “Passamos décadas estudando os benefícios de se brincar em playgrounds. Mas não passamos o mesmo tempo investigando o espaço digital.”