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Integração na bagagem
Dizem que o mundo é um livro com milhares de páginas, e quem não viaja lê apenas uma. É verdade. A abertura para a diversidade da Terra, dos países, das culturas e das pessoas nos oferece uma rica leitura da vida e do planeta. Descobrimos em outros lugares soluções seculares para problemas que nos preocupam. Em troca, temos resposta para questões que outras pessoas ainda enfrentam. Aprendemos a sobreviver com pouca coisa. Saboreamos comidas com as quais nem sonhávamos. Descobrimos que o passado sempre tem algo a nos ensinar, e as obras das gerações que nos precederam destronam nosso ufanismo da modernidade. Admiramos a beleza que nosso planeta azul desvela em cada cantinho. Às vezes, ela nos fascina tanto que nos deixa atordoados. Percebemos a cada passo a fragilidade e, paradoxalmente, a força da vida. Vemos nos mares, rios, montanhas e vales o retrato das eras, isto é, a violência, a calmaria e os acasos que desembocaram em nosso tempo. De fato, o mundo é uma enorme enciclopédia que se abre ante nossos olhos e se entrega sem exigir nada em troca. Basta que tenhamos um espírito que acolha as novidades.
Há um aspecto adicional que as viagens, curtas ou não, nos oferecem, e às vezes nem nos damos conta disso. Quando viajamos com os filhos, costumamos nos integrar mais. Aquelas picuinhas do dia a dia tendem a desaparecer. As dificuldades no relacionamento idem. Crianças e adolescentes, tomados pela curiosidade, despertam para outros contextos e se preparam melhor para a diversidade. Diante das carências, tão gritantes no Brasil e no mundo, em geral reconhecem o valor do carinho e do conforto que têm em casa. Ante os desafios que as viagens quase sempre impõem, aprendem a se virar — e solucionam sozinhos os problemas. O amadurecimento acontece sem dor. Já (re)descobri meus filhos, em suas diversas idades e fases, através das viagens. É sempre gratificante. Gostamos, agora que já são adultos e têm filhos, de viajar juntos. A gente se integra em novas situações e lugares, além de recordar os bons momentos que curtiu ao longo da vida.
Para uma boa interação, ninguém precisa ir muito longe. Basta que perceba quão amplo e diverso é o livro do mundo que se abre, em qualquer canto, diante de nossos olhos. E quão amplos e diversos somos todos e cada um. É aí que mora a riqueza da viagem. Descoberto o segredo, ela se torna uma experiência para a vida inteira, experiência que jamais alguém nos tirará.
LUÍS GIFFONI
é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos.Contato: avoando@cangurubh.com.br
Canguru News
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