Você já viu algum pai pedir ajuda para outro pai sobre as complexas questões que a paternidade traz?
Se essa pergunta deu um “bug” é porque provavelmente a imagem do pai responsável, acolhedor, sensível e que abraçou realmente a paternidade, ainda é muito rara na nossa sociedade. Mas eles existem, ainda que em número bem pequeno, perto do abismo de pais que vivem e se acomodam dentro da cultura patriarcal.
O movimento de pais responsáveis, acolhedores e sensíveis está crescendo, felizmente, mas há um enorme problema neste movimento, um problema que as mães já resolveram há muito tempo, e se chama “rede de apoio”.
A nova geração de pais não consegue criar redes de apoio e se sente extremamente só – a solidão paterna é uma grande amiga desse novo pai.
Os movimentos de grupos paternos ainda são bem pequenos, tanto que se você procurar no Google grupos de acolhimento paterno, provavelmente os encontrará a partir da terceira página.
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Se é difícil encontrar grupos, profissionais formados em educação parental que atendem exclusivamente os homens/pais são ainda mais raros – mas posso dizer com propriedade que eles existem.
Recentemente, voltei a atender como orientador e terapeuta parental com foco na paternidade e, para minha surpresa, estou encontrando muitos homens que sabem pedir ajuda, querem ajuda e se vulnerabilizam para isso, não é lindo?
Estou muito feliz de poder ajudar os homens, não somente com dicas de criação com os filhos, mas também no acolhimento.
Questões como, a angústia de voltar ao trabalho, dúvidas dolorosas sobre as dificuldades do relacionamento conjugal depois da chegada dos filhos, o peso das questões financeiras, o medo de ser igual aos seus antepassados, o luto dos supostos amigos e a solidão que vem com essa decepção são muito peculiares dos homens e que agora, aos poucos, podem ser reveladas, tratadas e acolhidas.
Se você conhece algum pai que precisa de ajuda, compartilhe esse texto, para que ele possa saber que existe um caminho para toda essa transformação.
Mas lembre que a decisão de ser ajudado é dele. Me lembro de um pai que atendi, que logo que chegou me disse:
- — Minha esposa disse para eu conversar com você, mas para ser sincero, nem sei por que estou aqui.
Esse foi um atendimento bem denso, até o momento que ele entendeu por que estava lá, isso demorou três sessões.
Muitos homens só pedem ajuda depois que sofreram bastante tentando resolver os problemas sozinhos e isso também aparece nos atendimentos, ou seja, a maioria dos homens ainda carrega o modelo de masculinidade onde o homem deve ser o protetor da família, deve trazer o sustento, deve ensinar o filho a jogar bola e deve ser o homem que a sociedade moldou.
Meus atendimentos são com foco na parentalidade, mas quando o pai precisa, podemos e devemos falar sobre os padrões da masculinidade, afinal a paternidade só será tranquila, quando o homem se sentir tranquilo consigo mesmo.