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Fim do ano sem surtar? O que ninguém fala sobre ser mãe em dezembro
Todo ano é a mesma coisa: dezembro começa e prometemos a nós mesmos que, desta vez, vai ser diferente. Neste ano, não vamos deixar tudo acumulado ou para a última hora, vamos delegar mais, dormir melhor, assumir menos compromissos, dizer mais “não”, para priorizar a nós mesmos. Só que a gente pisca e, quando vê, está ali correndo atrás da lista de presentes, do supermercado, tentando conciliar festa da escola, encontros familiares, confraternização do trabalho… Tudo isso sem esquecer de postar fotos perfeitas e felizes no Instagram. O problema é que tanta correria cansa e esgota a saúde mental.
E não é só impressão, não! Uma pesquisa da American Psychiatric Association mostrou que quase um terço dos adultos (31%) já esperava viver mais estresse nas festas de fim de ano, e isso antes mesmo de elas começarem. Metade das pessoas citou o custo dos presentes como fator de tensão e outra grande parcela se preocupou com as refeições e com o acúmulo de obrigações sociais.
O psiquiatra Guilherme Trevizan Kortas, do Hospital Sírio-Libanês, vê isso todos os anos, em sua prática profissional. “Novembro e dezembro são disparados os meses em que as pessoas mais procuram ajuda. Muita gente chega já no limite”, ele afirma. E faz sentido: nesse período, tudo parece acontecer ao mesmo tempo. Termina ano letivo, fecha ciclo no trabalho, começam as viagens, as apresentações, os reencontros. É uma sobrecarga silenciosa, porque, culturalmente, fim de ano tem que ser feliz, não é?
O corpo dá sinais
O problema é que o corpo não acompanha esse roteiro idealizado. Ele fala – e bem alto! Só que, muitas vezes, fingimos que não estamos ouvindo. Os primeiros sinais podem ser sutis: sono bagunçado, fome que desaparece ou aumenta, irritação por qualquer coisa, crises de ansiedade. Às vezes, é só aquela sensação de que a mente não desliga nem por cinco minutos — você está ali embalando presentes, mas a cabeça está correndo uma maratona.
“Quando o corpo está presente, mas a cabeça não consegue parar, é sinal de que algo não vai bem”, diz o psiquiatra. Quantas vezes seguimos no piloto automático, acreditando que “depois do Natal melhora”, “depois do Ano-Novo eu descanso”? Só que a hora de desacelerar nunca chega.
As redes sociais colaboram para o aumento do estresse. Há uma certa pressão para postar a “melhor ceia”, “o vestido perfeito”, “a viagem dos sonhos”. A vida alheia parece sempre mais organizada, mais alegre, mais bonita. Mas o efeito disso é cruel. “Existe uma exigência implícita de que todos precisam estar bem. Isso cria um cenário irreal e, muitas vezes, solitário”, explica Kortas. A gente tenta acompanhar, tenta corresponder, tenta dar conta — até perceber que está vivendo o fim de ano dos outros, não o nosso.
Quando o excesso vira alerta
Os exageros típicos da temporada — comer demais, beber demais, tentar relaxar à força — também não ajudam. Pelo contrário: podem piorar o humor, bagunçar o sono e intensificar o esgotamento. A intenção é aliviar, mas o efeito é exatamente o oposto.
Por isso, o psiquiatra insiste: autocuidado não é luxo. É prevenção. “Não espere a bomba estourar. Buscar apoio profissional antes que o sofrimento se agrave é um gesto de responsabilidade consigo mesmo”, diz ele. É sobre se escolher, mesmo quando o mundo pede que você escolha todo o resto.
Cada família é de um jeito, cada rotina é diferente, mas algumas atitudes podem transformar o fim do ano num momento menos idealizado e menos tenso. As dicas são:
- Planeje as compras e compromissos com antecedência (e aceite que nem tudo será perfeito).
- Escolha os eventos que fazem sentido — você não precisa estar em todos os lugares.
- Reduza o uso das redes sociais, especialmente se perceber que elas aumentam a comparação. Ao usar, lembre-se de que aqueles são apenas recortes da vida e que por trás da pose perfeita, há muita bagunça.
- Cuide do básico: dormir, comer bem, respirar. Parece simples, mas é o que sustenta tudo.
- Busque apoio psicológico ou psiquiátrico ao primeiro sinal de dificuldade — não é fraqueza, é coragem.
O fim do ano não precisa ser perfeito para ser feliz. Organizar tudo também não pode ser responsabilidade de apenas uma pessoa. Divida a carga e lembre-se de que nada vale o preço da sua saúde mental. Às vezes, celebrar é simplesmente permitir-se ir mais devagar – e lembrar que as memórias felizes são mais importantes e permanentes do que qualquer storie ou feed.
Canguru News
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