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Na pandemia, quem se sai melhor: famílias com filho único ou com mais filhos?
Com as adversidades provocadas pela pandemia, a composição familiar gera consequências distintas na rotina. Família grande é um alívio no isolamento social ou motivo de confusão? Quem está lidando melhor com os desafios impostos pelo isolamento e aulas virtuais: as famílias com filho único ou as de dois ou mais? A Canguru News ouviu duas especialistas sobre o tema.
Para Deborah Moss, neuropsicóloga e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP, realmente, famílias com filho único estão sofrendo mais na pandemia. “Agora algumas aulas presenciais estão voltando, mas a fase das aulas só online é muito complicada, por não ter ninguém para interagir, dividir a atenção e até brigar.
Quando se tem mais de um filho, por mais que as idades não coincidam, há um parceiro, tem alguém para conversar e até desabafar, dependendo a faixa etária”, diz Deborah. Também há um incentivo para levantar do sofá, o que tem sido difícil em tempos de pandemia. “Quando você tem um parceiro, sai um pouquinho também de atividades solitárias, das telas, do tablet, do celular, para brincar”.
Mas como tudo na vida, contar com irmãos durante o isolamento social também tem outro lado. “Famílias com irmãos podem sofrer mais por estarem todos dentro de casa. Às vezes o apartamento é pequeno, há frustrações, e isso é descontado no irmão… Pode haver conflitos, como brigas, ou a criança mais velha usar a mais nova como ‘bode expiatório’, ou ficar pegando suas coisas – isso tem mais chance de acontecer quando está todo mundo ‘junto e misturado’, e por isso é necessário o olhar dos pais nessas relações que ficaram mais intensas na pandemia”, recomenda.
Para a doutora em Linguística Vívian Cristina Rio Stella, idealizadora e curadora da VRS Academy, onde desenvolve e aplica soluções de aprendizagem criativa, a alegria e o carinho das crianças fazem com que toda a correria do dia a dia tenha mais sentido, embora seja mais cansativo. “Acho que ter filhos nos força ainda mais a ser empáticos, a sair do modo automático
e sair da nossa própria bolha para entrar em universos de brincadeira, de imaginação”, diz.
Ela fala por experiência própria, pois tem mais de uma criança em casa. “Tenho duas filhas e acho uma benção elas terem uma à outra para brincar, conversar, até mesmo divergir, porque isso faz parte da vida. Seria mais penoso ter uma filha só pela solidão e por ter mais mundo adulto ao alcance para a criança”, afirma – e isso até pode dar uma ‘folguinha’ para os pais. “Com as duas, sinto que elas entram no universo delas, brincam entre si, até demandam menos que a gente brinque com elas por ter a companhia uma da outra”.
Administrando o dia a dia
Seja em uma família com filho único ou com vários filhos, administrar a rotina na pandemia, proporcionando algumas atividades de lazer ou evitando brigas, dá trabalho. Depois de mais de um ano, “os pais já não têm mais repertório”, resume a neuropsicóloga Deborah. Mas ainda é possível dar algumas recomendações para ter um pouco mais de harmonia. “Quando possível, estabeleça momentos em que toda a família fique off-line, mesmo porque os pais, no home office, estão com dificuldade em separar os momentos de lazer e de trabalho, e definir um momento para o ‘fim do expediente’. Ficou tudo muito complicado. A principal dica é, em algum momento, todo mundo guardar as telas – inclusive os adultos! Isso é importante para manter uma rotina, dentro do possível.”
E da rotina, segundo ela, não tem como fugir, mesmo na pandemia, porque ela é a ordem das atividades diárias. “Essas crianças têm hora para acordar, seja para aula presencial ou online, senão a chance de perder o controle é muito grande. Assim como os pais se preparam para a reunião online, as crianças também precisam ter uma rotina para se arrumar e assistir às aulas via remota. O que estamos vendo são crianças assistindo às aulas no Zoom descabeladas, de pijama, sem escovar os dentes. Os pais precisam passar esses valores às crianças.”
Deborah atende em seu consultório crianças com problemas para dormir, sendo especialista no tema, e ressalta que até o sono tem sido afetado. “Esse estímulo das telas está deixando todo mundo muito pilhado, indo dormir muito tarde, mas é preciso também estabelecer uma rotina para a noite. Não é só horário de dormir, mas também de parar e de ficar junto”.
Para Vívian Stella, não é possível brincar o tempo todo, claro, mas reservar algum momento do dia para estar totalmente presente, nem que seja por 15 minutos, faz diferença. “Criar brincadeiras, conversas, desafios, até mesmo para limitar tempo de uso de telas e outros desafios da convivência em casa são formas de tornar o dia a dia com as crianças – ou a criança – mais leve.”
Leia também: 3 livros sobre ansiedade e solidão para ler com as crianças
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Renata Corte
Jornalista formada pela Cásper Líbero (SP) e pós-graduada em Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Já atuou em redações de rádio e jornal diário, na assessoria de imprensa do setor público, no Governo do Estado de São Paulo, e grandes empresas como o grupo CCR. Não tem filhos por conta própria mas tem uma enteada linda.
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