Os cachorros trazem uma felicidade imensa às crianças. Basta observá-las interagindo com esses bichos para constatar como elas ficam felizes nessas horas. Quando as crianças chegam da escola, por exemplo, é comum que queiram brincar com o animal, fazer carinho em sua barriga e, por que não, receber lambidas e latidos de volta. Não à toa, uma nova pesquisa, recém-publicada na revista de ciência e medicina Plos One, da Public Library of Science, dos Estados Unidos, confirma essa poderosa conexão entre crianças e cachorros.
Descobriu-se que intervenções assistidas por esse animal ajudam a reduzir o estresse nas crianças. Segundo o estudo, sessões duas vezes por semana com um cão e seu treinador diminuíram significativamente os níveis de cortisol – o hormônio do estresse do corpo – que eles mediram através de amostras de saliva das crianças. A intervenção se mostrou mais eficaz do que sessões de relaxamento guiadas com os pequenos.
“Nosso estudo mostra, pela primeira vez, que intervenções assistidas por cachorros podem realmente levar a um menor estresse em crianças com e sem deficiência, durante um período escolar específico”, disse Kerstin Meints, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade de Lincoln, na Inglaterra, em entrevista ao Jornal The New York Times.
Como funcionou o estudo
Foram analisadas 149 crianças neurotípicas e não neurotípicas de 8 e 9 anos na Grã-Bretanha, classificadas em três grupos. Em um grupo, as crianças passaram 20 minutos duas vezes por semana, ao longo de um mês, com um cão e seu treinador. Eles acariciavam o cachorro por alguns minutos, se o cão e as crianças estivessem dispostos a isso, fariam algumas perguntas e brincariam. Em outro grupo, as crianças trabalharam em exercícios de relaxamento no mesmo período de tempo, sem nenhum cachorro por perto, fazendo algumas atividades corporais relaxantes antes de se deitar em tapetes de ioga para ouvir uma meditação guiada. Um terceiro grupo serviu apenas de controle.
Os pesquisadores coletaram amostras de saliva de todas as crianças para medir seus níveis de cortisol antes e depois do teste que durou quatro semanas, e também mediram os níveis de cortisol das crianças neurotípicas antes e depois de cada sessão. No geral, eles descobriram que as crianças do grupo de intervenção com cachorros tinham níveis de cortisol mais baixos do que seus colegas nos grupos de relaxamento e controle.
“Como um manipulador clínico que trabalha em tempo integral com um cão de treinamento, não estou surpreso ao ver resultados tão positivos saindo deste estudo”, revelou Ali Spikestein, coordenadora do programa Paws and Play dog no Mount Sinai Kravis Children’s Hospital, em Nova York, ao jornal americano.
Ali Spikestein diz conhecer bem o potencial terapêutico dos caninos, trabalhando regularmente com 3 cães em um hospital, para obedecerem comandos e às vezes abraçarem crianças que estão sentindo dor significativa ou que estão lutando por simplesmente estar em um ambiente hospitalar. Ainda que já esteja acostumada, ela disse que foi “emocionante e promissor” ver um novo estudo analisando especificamente o papel potencial que os cachorros podem desempenhar para acalmar crianças saudáveis nas escolas.
Segundo a reportagem do NYT, pesquisadores e profissionais de saúde mental dizem que há uma necessidade real de mais pesquisas sobre como as intervenções assistidas por animais de todos os tipos podem ajudar as crianças. A professora de psicologia afirmou que também espera ver mais ensaios controlados, bem como estudos de longo prazo que possam responder a perguntas sobre a frequência com que as crianças devem participar de sessões de terapia assistida por cães e quanto tempo as sessões devem durar. Há ainda grandes questões sobre a importância de as crianças poderem tocar o cão durante as sessões, ou se é simplesmente suficiente para elas estarem na presença do animal e se a terapia em grupo ou individual tem melhor eficácia.
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Interação com cachorros deve ser ensinada às crianças
A autora da matéria, a jornalista Catherine Pearson, que tem dois filhos e uma cachorrinha, Annie ‒ uma vira-lata de 18 quilos e orelhas caídas ‒ ressalta a importância de diferenciar a terapia canina e “os tipos de interações imprevisíveis que crianças e animais de estimação têm quando estão simplesmente juntos em casa”. Embora a pesquisa tenha demonstrado que ter um cachorro pode ser bom para o desenvolvimento psicológico das crianças. “Existe uma diferença entre um animal treinado e um animal doméstico”, enfatiza a médica Arun Handa, psiquiatra do departamento de psiquiatria infantil e adolescente do Hospital Infantil da Filadélfia. Mas ela também declarou que os animais domésticos podem fornecer algum tipo de conforto e apoio para essas crianças.
As crianças que participaram do estudo foram lembradas antes das sessões de não beijar, abraçar ou aglomerar seus cães de terapia de forma alguma, e sempre estavam monitoradas de perto por adultos. Caso os cães dessem algum sinal de insatisfação ou cansaço – como lamber o nariz, mover o corpo ou a cabeça para longe, ou bocejar repetidamente – as sessões eram encerradas.
Catherine Pearson diz que tenta pôr em prática esse tipo de treinamento em sua casa. “Às vezes, tenho que lembrar meus filhos de dar espaço a Annie; outras vezes, é ela quem precisa ser lembrada. Mas, na maioria das vezes, meus filhos e meu cachorro parecem compartilhar um entendimento emocional que não posso deixar de sentir que é bom para eles”.
Seja qual for o ambiente, portanto, é válido ensinar as crianças a interagir com cachorros. A Academia Americana de Pediatria tem uma página de orientações aos pais sobre como escolher e viver com um animal de estimação na família.
— Os animais fornecem esse amor incondicional —disse Handa — E vêm de um lugar de apoio sem julgamento — completa.
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