Por Catarina Ferreira e Gabriela Willer

Um ano depois de lançar o documentário O Começo da Vida, a diretora Estela Renner fez um balanço do que os especialistas, os pais e as crianças que conheceu nos nove países em que o filme foi rodado lhe ensinaram. O filme mostra o cotidiano de famílias de classes sociais e de culturas distintas, mas que têm um forte objetivo em comum: amar seus filhos para que eles sejam capazes de crescer, seguir seus sonhos e realizar suas potencialidades.
Sentimentos universais que prezam pela construção de um futuro melhor. Apesar de ter sido filmado em dezoito cidades, em países como Brasil, Canadá e China, Estela explica que o recorte escolhido por ela para contar sua história não foi geográfico, mas afetivo. Isso justifica o fato de os lugares das entrevistas não serem identificados no filme.
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Dentro do que chama de “recorte afetivo”, a diretora, mãe de três filhos, buscou igualar o conhecimento dos acadêmicos a respeito da primeira infância ao sentimento dos pais com quem conversou. Entre entrevistados está o especialista James Heckman, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2000, e mães de perfis variados, como Simone, mãe de doze filhos à época da filmagem, e a modelo Gisele Bündchen.
O filme evidencia que, para além de sua carga genética, as crianças são fruto do meio em que vivem. “E nós somos esse meio, as crianças se formam a partir de nós, das histórias que contamos”, diz Estela. As descobertas das crianças sobre si mesmas e seu entorno foram outro destaque entre os aprendizados da diretora. “Elas não precisam ser entretidas o tempo todo. Ao contrário, podem passar um tempo sozinhas, com toda a segurança, e, nesse período, ouvir a própria voz, perceber seu peso no chão, um vento que bate no rosto.”
A aprendizagem dos bebês vem desde o útero. Após o nascimento, cada passo é fruto de muita observação e experimentação desses pequenos cientistas. E isso vem mostrar que eles não são tábulas rasas, mas sim seres capazes de moldar toda uma percepção de mundo.
Além de focar em seu aprendizado com O Começo da Vida, Estela relembrou sua trajetória como documentarista. Assinados por ela, os filmes Muito Além do Peso (2012), sobre obesidade infantil, e Criança, a Alma do Negócio (2008), a respeito das propagandas dirigidas ao público infantil, resultaram na mudança de posicionamento de grandes marcas e também de políticas públicas. Já O Começo da Vida foi exibido em mais de 7 000 salas de cinema ao redor do mundo e hoje é utilizado na campanha mundial da Unicef pela primeira infância.
Vale a pena ver e rever
Pedimos Estela para indicar outros filmes relacionados ao universo infantil. Seus escolhidos compõem uma lista heterogênea, com documentários nacionais e internacionais, cobrindo temas como o parto, a alimentação e o bricar e com espaço até espaço para uma animação ficcional. Confira:
Território do Brincar (2014)
Documentário dirigido por David Reeks e Renata Meirelles conta com produção de Estela Renner e apresenta crianças de diversas regiões do Brasil narrando o brincar infantil. Seus gestos contam histórias e constroem uma linguagem própria, nos apresentando a nós mesmos.
Bebês (2010)
Obra do cineasta francês Thomas Balmès, o documentário mostra quatro bebês de lugares e culturas diferentes e expõe similaridades entre a forma como essas crianças brincam, choram e formam laços de afeto entre si e com os adultos. A diferença entre eles mostra que tudo é uma construção e não uma condição biológica.
Renascimento do Parto (2013)
Essa produção nacional mostra as experiencias e questionamentos sobre a opção médica dominante na hora de decidir o tipo do parto. O diretor Eduardo Chauvet, Renascimento do Parto liga essas escolhas ao alto número de cesarianas e partos com intervenções traumáticas (e desnecessárias) no país e no exterior.
O alimento é importante (2008)
Como seu nome sugere, o debate sobre a alimentação e a saúde é o assunto principal do documentário australiano dirigido por James Colguhoun e Carlo Ledesma. Até que ponto os alimentos que ingerimos estão nos ajudando ou prejudicando é um dos questionamentos do filme.
Crianças Invisíveis (2006)
A pobreza retratada na história de sete crianças de diversas localidades mostra a realidade de quem precisa crescer mais cedo para encarar a vida. Produção encomendada pela Unicef, o documentário é assinado por oito diretores, entre os quais a brasileira Katia Lund.
Bebês do Mundo (2015)
A francesa Emmanuelle Nobécourt mostra as semelhanças no modo como as mães cuidam dos bebês nos diferentes continentes, ao mesmo tempo em que foca nas descobertas das crianças em relação a si mesmas e ao mundo ao redor.
Divertida Mente (2015)
Vencedor do Oscar de Animação, o filme dirigido por Peter Docter é a exceção nesta lista, como único longa de ficção. A história mostra o que se passa com as emoções (e como elas se formam dentro da cabeça) da pequena Riley, enquanto a garotinha é obrigada a lidar uma brusca mudança de rotina, depois de se mudar para uma nova cidade com os pais.