Por Karoline Barreto
Qual pai nunca ensinou ao filho a dividir as coisas e a ter atitudes bondosas em relação ao próximo? Alguns vão além e levam as crianças a asilos, hospitais e creches, no intuito de mostrar que existem realidades diferentes e que é possível ajudar. Ao fazer isso, contribuem não só com as pessoas mais necessitadas, mas com o desenvolvimento dos próprios filhos.
Isso porque a prática do bem na infância influencia a formação de valores e virtudes como generosidade, senso de justiça, altruísmo e emoções positivas e até mesmo auxilia no combate a doenças mentais que podem se manifestar na fase adulta. É o que explica a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental na infância e na adolescência Ana Cláudia Dutra Cipriano: “Crianças que praticam o bem se tornam adultos mais saudáveis mental e afetivamente, mais capacitados na resolução de problemas, mais dispostos a praticar a ética no trabalho e menos propícios a desenvolver um transtorno mental”.
Há estudos científicos que mostram que as pessoas ficam até mais felizes quando praticam boas ações. O neurocientista Jorge Moll Neto demonstrou que atitudes altruístas ativam no cérebro o sistema de recompensa, relacionado à sensação de prazer. E esse sistema é ativado mais intensamente quando doamos roupas para uma instituição de caridade, por exemplo, do que quando ganhamos roupas de presente. “Isso quer dizer que os pais estão buscando a felicidade dos filhos no lugar errado quando os enchem de bens materiais, mas não praticam a caridade”, diz Ana Cláudia.
Os gêmeos Vinícius e Gabriel Gabino, de 11 anos, aprenderam desde cedo o valor de praticar o bem ao próximo. Depois de uma visita com outros alunos do Colégio Sagrado Coração de Maria, onde estudam, ao asilo Casa do Ancião, no bairro Ipiranga, eles decidiram promover uma campanha de arrecadação dos itens que faziam mais falta na entidade. Passaram de sala em sala no colégio, produziram cartazes e até formularam um bilhete para ser enviado a todas as famílias dos colegas, pedindo fraldas, produtos de higiene pessoal e de limpeza. A iniciativa deu tão certo que eles conseguiram mais do que o esperado e ajudaram um segundo asilo de Belo Horizonte e outro em Januária. A mãe dos garotos, a engenheira Maria Tereza de Carvalho Gabino, diz que ficou orgulhosa e que fica feliz em vê-los fazer o que ela e o pai deles sempre incentivaram.
O coordenador do serviço de orientação religiosa do Colégio Sagrado Coração de Maria, Sergio Andrade, trabalha há 17 anos com ações de voluntariado e percebe que esse tipo de iniciativa sensibiliza as crianças. “A ação solidária permite desenvolver as dimensões da tolerância, do respeito e do protagonismo, elementos que contribuem para que a criança forme consciência crítica e cidadã desde a infância“, observa.
“Acredito que o trabalho voluntário amadurece o aluno em diversos níveis”, diz Maria de Lourdes Lopes Cançado, que atua há 35 anos no colégio Santo Antônio. Em uma das iniciativas que coordena, os alunos arrecadam itens de higiene pessoal para a Colônia Santa Isabel e recebem crianças de creches carentes para um lanche coletivo. Acompanhados por responsáveis, os alunos passam sete dias com comunidades quilombolas no Vale do Jequitinhonha e, no Natal, são ensinados a apadrinhar cartinhas de crianças carentes recebidas pelos Correios.
Para o confrade Paulo Jorge de Melo, orientador da Conferência de Crianças e Adolescentes São José de Calasanz, do bairro Graça, a prática de ações voluntárias possibilita que a criança desperte para uma nova dimensão da realidade e amplia a visão para a descoberta de novos valores para a vida. “Quem participa tem a oportunidade única de construir amizades que perduram para a vida e, no contato com os mais pobres, a consciência de que a presença de cada um vale mais que o pouco que podem oferecer“, afirma, emocionado.