Artigos
Educação robótica: a imersão em múltiplas áreas do conhecimento
Cada vez mais adotada por instituições de ensino brasileiras, a robótica tem estimulado aspectos diferenciados nos processos de aprendizado. Esse método dialoga com uma educação multidisciplinar por desenvolver, a partir da criação de projetos, uma experiência imersiva em diversas áreas de conhecimento. As crianças podem ter a oportunidade de aprender mais concretamente sobre eletricidade, condutores e circuitos.
A educação robótica é focada em pesquisa, descoberta e construção de uma máquina. A construção pode ser feita com o uso de kits já prontos, com peças pré-estabelecidas, ou através da transformação de outros materiais, como sucata e itens recicláveis. Os alunos desenvolvem as habilidades necessárias para produção de um robô capaz de receber comandos e realizar tarefas.
“Elas perdem o medo de manusear componentes que só poderiam ser tocados quando algum aparelho eletrônico parasse de funcionar ou quando a curiosidade falasse mais alto. No entanto, o ambiente controlado da sala de aula não só os incentiva a explorar essa curiosidade, como também os conscientiza sobre o funcionamento e a importância desses itens para a sociedade. Esse método de ensino permite que, além de ampliarem suas perspectivas sobre esse campo, as crianças também desenvolvam suas próprias ambições e comecem a se imaginar trabalhando com mecatrônica, engenharia e todos esses ramos da tecnologia que até então estavam debaixo dos seus narizes, mas nunca foram explorados”, relata Rafael Lagrange, coordenador técnico pedagógico da SuperGeeks, primeira escola de programação e robótica voltada para crianças no Brail.
De acordo com Fábio Ferreira, professor de Robótica Educacional, Educação STEAM, Educação Maker e Pensamento Computacional no Colégio Cândido Portinari, esse método é capaz de englobar as 10 competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
- Conhecimento: obtido através da construção do robô que, mesmo sendo uma simulação da realidade, visa explorar ideias e conceitos de situações reais;
- Pensamento científico, crítico e criativo: impõe ao aluno uma alfabetização científica, estimula a criticidade e promove a transição do lúdico para o criativo;
- Repertório cultural: amplia os campos do conhecimento do abstrato para o concreto, através do contato com componentes diversos;
- Comunicação: incentiva o compartilhamento de descobertas, a partir das linguagens matemáticas e científicas;
- Cultura digital: apropriação constante das tecnologias e recursos digitais;
- Trabalho e projeto de vida: direcionamento os caminhos que trilham para o ensino superior/profissão direta e indiretamente;
- Argumentação: utilizada como base no desenvolvimento dos projetos;
- Autoconhecimento e autocuidado: a robótica possibilita um olhar para humanidade e autorreflexão;
- Empatia e cooperação: é um ambiente de aprendizagem cooperativo e colaborativo, que requer a troca permanente, com aprendizagem aluno-aluno;
- Responsabilidade e cidadania: a ciência deve ser desenvolvida com consciência, através da reflexão sobre os dilemas éticos no desenvolvimento/utilização das tecnologias;
“O construcionismo presente na robótica permite uma aprendizagem prática que transcende a teoria, estabelecendo uma aprendizagem mais tangível, sendo assim mais significativa. Um aluno do 6º Ano que aprende noções de física, a exemplo da força de atrito, construíndo e programando um robô móvel que vai se deslocar sobre superfícies diferentes, percebendo o atrito gerado entre as superfícies, tende a ter mais facilidade em se aprofundar no assunto quando chegar no ensino médio. Mesmo não aprendendo conceitos e fórmulas, sua compreensão sobre este fenômeno torna o aprofundamento deste conhecimento mais orgânico e interessante”, explica Fábio Ferreira.
Por se tratar de uma disciplina vasta, pode ser vinculada a outras matérias do ensino regular a partir dos 8 anos de idade. A OBR (Olimpíada Brasileira de Robótica), atualmente organizada pela UNICAMP em parceria com outras instituições, como o SESI, conta com alunos do 1º ano do Ensino Fundamental ao 9º ano do Ensino Médio, com até 19 anos. Os estudantes podem se inscrever em duas modalidades, teórica e prática, competindo individualmente e em grupo, tanto de forma presencial quanto online, com robôs e provas digitais.
Relativamente nova no Brasil, a robótica educacional precisa ser desmistificada, esclarece o professor Alexandre Lasthaus. Ele enfatiza a importância de maior divulgação da disciplina por parte dos docentes, tornando as aulas mais atrativas e divertidas. “Ensinar robótica não é apenas entregar um saco com peças nas mãos do aluno e pedir que siga o manual de montagem e pronto. É a mesma coisa que dizer que um marceneiro consegue aprender a profissão apenas seguindo instruções de montagem de móveis. O objetivo final não é construir um robô, mas sim usar essa construção como meio para se trabalhar no aluno conceitos e habilidades como raciocínio, lógica e resolução de problemas, servindo como apoio às outras disciplinas.”
LEIA TAMBÉM:
[mc4wp_form id=”26137″]
Maria Clara Villela
Maria Clara Villela é estudante de jornalismo na faculdade Cásper Líbero. Fascinada por escrita, já desenvolveu textos em diversas editorias, incluindo esporte, parentalidade e política, suas maiores paixões.
VER PERFILAviso de conteúdo
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.
Veja Também
Apenas 1 em cada 20 crianças e adolescentes cumprem estas três recomendações fundamentais para o desenvolvimento
Metanálise global com mais de 387 mil jovens revela que a maioria não segue orientações consideradas essenciais para obter melhores...
Você sabe o que são os 9 minutos “mágicos”?
Teoria baseada em estudos de neurociência viralizou na internet. Para especialista, faz sentido e funciona, mas está longe de ser...
Seu jeito influencia o jeito que seu filho aprende
Sempre imaginei que incentivo, afeto e boas oportunidades fossem o trio principal. Mas, lendo um estudo publicado no Journal of...
Invisibilidade, não: OMS publica diretrizes inéditas sobre infertilidade e isso muda tudo
Em documento histórico com 40 recomendações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a infertilidade como prioridade de saúde, pede...






