O uso de celular e outros dispositivos eletrônicos desde cedo, e em excesso, pode estar associado ao aumento de casos de dores nas mãos em crianças e jovens, condições que são mais frequentemente observadas em adultos. Nos últimos cinco anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 10.688 atendimentos ambulatoriais na faixa etária dos 7 aos 17 anos com diagnóstico de tenossinovite e sinovite.
A tenossinovite é a inflamação da capa que envolve o tendão, que funciona como uma “corda” ligando o músculo ao osso. Isso pode causar dor, inchaço e dificuldade para mover a área afetada.
Já a sinovite é a inflamação da membrana sinovial, que reveste as articulações, onde os ossos se encontram, como mãos, joelhos e cotovelos. “Essa condição se manifesta através de dor, inchaço, rigidez articular e sensação de calor na região afetada, sendo comum em doenças como a artrite”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Rui Barros.
O número de casos dessas duas condições cresceu 32,3% entre 2020 e 2024, segundo dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIASUS). Nesse período, o estado de São Paulo liderou os atendimentos, com 3.400 casos, seguido pelo Rio de Janeiro (1.591), Pará (1.245) e Minas Gerais (491).
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“O uso constante das mãos para digitar, rolar a tela ou segurar o celular pode, em algumas situações, contribuir para o surgimento de dores nas mãos, devido à sobrecarga das estruturas do sistema musculoesquelético. Sinais claros de inflamação nos tendões, músculos e estruturas periarticulares, não são comumente observados. Mas, eventualmente, podem estar presentes, resultando em variados graus de dificuldade de movimentação das mãos”, relata o médico. Embora não haja comprovação científica robusta, o uso excessivo de dispositivos móveis é um possível fator de risco para as dores nas mãos, afirma.
Ainda, outra condição comum entre crianças, o ‘dedo em gatilho’, um dos tipos de tenossinovite, se caracteriza por um bloqueio no movimento do dedo, que pode ficar preso em posição dobrada e depois esticar de forma abrupta. Ele costuma ocorrer após movimentos repetitivos realizados durante a digitação ou navegação nas telas, o que, “em alguns casos, pode sobrecarregar os tendões das mãos, levando à dor e eventual inflamação”, comenta o médico.
Para evitar esses tipos de problemas desde tão cedo, o especialista ressalta a importância de controlar o uso de dispositivos eletrônicos e incentivar a mudança de hábitos. “É importante estimular atividades que promovam o movimento natural das mãos, como esportes, brincadeiras ao ar livre e até mesmo a escrita manual, que exige uma variação maior dos movimentos”, pontua.
“Precisamos alertar os pais sobre esses riscos. As mãos são essenciais para praticamente todas as atividades diárias, e lesões nessa região podem ter impactos duradouros. Criar hábitos saudáveis no uso da tecnologia agora pode evitar problemas futuros para essa geração”, conclui.