Por Rafaela Matias
Quando decidiu que lançaria o filme “O que queremos para o mundo?“, o diretor mineiro Igor Amin, de 30 anos, deparou com uma barreira. Ele ouviu de muitos que seria difícil, talvez até impossível, colocar o longa nos cinemas. A partir daí, cresceu em toda a equipe não apenas a vontade de levar o filme às telonas, mas também a de levar crianças carentes para se encantarem com um mundo de fantasia que pertence, ainda hoje, quase exclusivamente às elites.
Além de ampliar o acesso do público infanto-juvenil às salas de cinema e proporcionar uma experiência enriquecedora a estudantes de escolas públicas, a iniciativa reforça a ideia do próprio filme. O longa propõe a utilização do audiovisual como instrumento para conscientização e reflexão social, contando a história de quatro amigas que, após um trabalho de escola, precisam pensar em uma solução para os problemas do mundo.
Veja como foi a primeira sessão educativa de ‘O Que Queremos para o Mundo?’:
Para colocar em prática a ideia, foi lançada a campanha #leveumacriançaaocinema, idealizada pela Cocriativa, empresa de audiovisual belo-horizontina. A ideia é reunir pessoas que abracem a causa e contribuam no site Catarse, para possibilitar que 1.400 crianças de escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte possam ir ao cinema participar de exibições educativa do filme. Cada criança beneficiada receberá um ingresso para a exibição do filme “O Que Queremos para o Mundo?”, um combo de pipoca com suco e uma oficina especial com debate filmado para escolas e famílias após a sessão.
A campanha fica no ar até 5 de janeiro de 2017. Clique AQUI para ajudar.
Gostou da ideia? Então, leia abaixo a entrevista completa com o diretor Igor Amin.
Canguru: Como surgiu a ideia de fazer o longa?
Igor Amin: Quando era criança, tinha muitas dificuldades na escola, pois vivia em um complexo de inferioridade por não me adaptar aos padrões. Ao decidir fazer filmes sobre a infância, quase 20 anos depois, resolvi ouvir outras crianças sobre o que elas queriam para o mundo e pude constatar muitas das vivências que, tempos atrás, eu mesmo tinha na escola. Isso me inspirou a escrever a história do filme contando a vida de Luzia, uma criança diferente.
Canguru: Qual foi a sua principal inspiração?
I.A.: Minha principal inspiração foram as crianças Índigos e Cristais, dotadas de uma intuição elevada e com muita dificuldade de lidar com padrões autoritários e pré-estabelecidos na sociedade, seja na escola, em casa ou no dia-a-dia. Foi nessas crianças, que usam sua criatividade e sentimentos altruístas e empáticos a todo momento, que vi a possibilidade de as crianças serem grandes agentes transformadoras das comunidades ao seu redor.
Canguru: O filme busca sensibilizar crianças e jovens em busca de um mundo melhor. Para você, o que precisamos para ter um mundo melhor?
I.A.: Precisamos deslocar nossa atenção e escuta verdadeira para o outro, essa prática a qual chamamos também de escuta empática, valorizando a diversidade e a criatividade. Esse deslocamento nos permite sair da zona de conforto e deixar de lado a convicção de que somos os protagonistas da sociedade, para nos relacionarmos com o meio em que vivemos. E como diz a Luz, personagem do filme, “Cada um de nós é a força que falta no outro para realizarmos o que queremos para o mundo”.
Canguru: De que forma o filme pretende tocar as crianças e os adolescentes que forem ao cinema?
I.A.: De forma simples e objetiva, o filme quer mostrar que o diferente pode sim nos surpreender com sua percepção de mundo e reinventar nosso cotidiano.
Canguru: O filme reflete, de alguma forma, a cultura mineira ou belo horizontina?
I.A.: Nós da equipe somos mineiros, com uma cultura forte e muito rica, com uma relação entre a cidade grande e o interior. Refletimos no filme uma característica muito mineira, essa volta constante ao interior. Mas não são apenas as fazendas, sítios ou pequenas cidades, é nosso interior de verdade, dentro de nós, uma fuga saudável e com a qual, infelizmente, estamos perdendo cada vez mais o contato.
Canguru: A campanha #leveumacriançaaocinema pretende levar 1.400 crianças de escolas públicas para sessões educativas do filme “O Que Queremos para o Mundo?”. De onde surgiu a ideia de fazer sessões para crianças de escolas públicas?
I.A.: Um dia me disseram que nós nunca conseguiríamos colocar o filme nos cinemas e isso levantou uma vontade ainda maior do que só passar o filme nesse grande meio de comunicação: levar crianças sem condições financeiras e que estudassem em escolas públicas para irem ao cinema. Se cada um de nós é essa força que falta no outro, então não estamos sozinhos. São muitas pessoas colaborando para que esse sonho se torne realidade e temos certeza de que juntos faremos mais.
Canguru: Qual é o principal objetivo da ação?
I.A.: O principal objetivo da ação é mostrar que o coletivo é capaz de levar crianças ao cinema, reforçando o sentimento de que precisamos garantir acesso à educação, arte e entretenimento para as infâncias, diversas em sua natureza e carentes de conteúdos de qualidade ou que abordem diferentes assuntos.
Canguru: O financiamento coletivo espera receber uma contribuição de 84 mil reais. Além dos combos criativos para as crianças, a quais outros fins o valor será destinado?
I.A.: Não é nada barato ter sessões garantidas em um cinema, pois pagamos custos dos funcionários, das necessidades básicas no cinema, de várias pessoas envolvidas na campanha e, principalmente, o que propomos de diferencial: além de 1 ingresso, 1 pipoca e 1 suco, realizar ações educativas desde a recepção das crianças até oficinas para expansão das ideias do filme, transformando o produto audiovisual em uma ferramenta sócio-pedagógica. Para isso, contamos com profissionais como arte educadores, publicitários, jornalistas, produtores e cineastas para garantirem a qualidade do que propomos e é por isso que convidamos a todos para somar e juntos contribuirmos de coração aberto.
Sobre o filme
A construção da obra passou por um processo real de cocriação, capacitando musicalmente as quatro atrizes mirins, que através da Direção Musical de Cecília Valentim e Sérgio Leoni, desenvolveram a trilha sonora original. Com a direção de elenco de Silvia Fuller, as atrizes principais, Olívia Blanc, Milena Megrè , Sofia Sgarbi e Helena Trojahn, que nunca tinham tido experiência com atuação, desenvolveram seus personagens de maneira intuitiva, cocriada e orgânica. As quatro personagens principais são inspiradas nos quatro perfis das crianças Índigo e Cristal: Artístico, Transcendental, Tecnológico e Humanista.
Sobre o diretor
Igor Amin é artista multimídia, educador audiovisual e gestor sociocultural. Seus trabalhos artísticos são focados em cinema, educação e novas mídias. Além do longa O que queremos para o mundo? (2016), também dirigiu a websérie Mãeana (2016) e os curtas Dona Árvore (2011) e Os Sonâmbulos (2011). Dirigiu mais de 30 vídeos de micro-duração exibidos em festivais nacionais e internacionais de cinema como no Centre George Pompidou, durante o Pocket Films em Paris, França. Sócio-diretor da Cocriativa Conteúdos Audiovisuais, viabiliza estudos e negócios em Audiovisual, Transmídia e Economia Criativa. Atualmente é coordenador pedagógico do projeto Câmera Cotidiana no estado de Goiás.
Reportagem atualizada em 14/11/2016