Ainda que notícias mostrem retrocessos no que diz respeito a políticas públicas relacionadas aos direitos relacionados à sexualidade, sobretudo de crianças e adolescentes, as próprias infâncias fazem com que o tema circule pelo ambiente escolar, e trazem questões que reivindicam o direito à informação sobre seus corpos e sobre desenvolvimento dentro das escolas, opina a psicóloga e colunista do Uol, Elânia Francisca, especialista em gênero e sexualidade, em artigo sobre o tema.
Ela lembra que a escola é o local onde crianças e adolescentes mais convivem com seus pares, o que proporciona a criação de laços de amizade e resolução de conflitos. Esse convívio também fomenta o contato com contextos culturais, comunitários e familiares plurais, e é comum, nesse contexto, que as crianças queiram conversar com pessoas adultas sobre suas descobertas.
Uma criança pode querer entender, por exemplo, qual a diferença entre a sua religião e a de sua amiga. Outra pode querer compreender por que um amigo mora num serviço de acolhimento institucional, enquanto ela mora com a mãe e a avó. Também há crianças que querem entender por que os outros corpos são tão diferentes do seu, ou por que o pai não deixa o filho menino brincar de boneca. Nessas conversas informais podem surgir até denúncias de violência sexual contra crianças por parte de familiares, alerta a especialista.
É natural que a escola abra espaço para que as crianças se expressem, falem do seu dia a dia e levantem questionamentos. São perguntas dos mais variados temas, inclusive relacionados a gênero e sexualidade, que devem ser acolhidos pelos adultos e respondidos dentro de um compromisso ético e metodologia adequada, ressalta a psicóloga. Ela explica que o desenvolvimento sexual saudável significa se desenvolver acessando informações sobre sexualidade com metodologias e informações adequadas a sua faixa etária.
“Mesmo tendo uma resistência de alguns segmentos adultos de nossa sociedade para o debate sério sobre a importância de falar do desenvolvimento sexual infantojuvenil, as próprias crianças e adolescentes trazem a pauta e mostram a urgência de termos espaços seguros de aprendizado sobre o próprio corpo e o respeito aos demais corpos”, comenta Elânia.
Ela acredita que profissionais da educação podem e devem dialogar com crianças sobre essas indagações, fomentando o debate de ideias e a construção de conhecimento com base em informações reais, sem fundamentalismos e pautado na ciência, na ética profissional e respeito às fases de desenvolvimento de crianças e adolescentes.
“Infelizmente, ainda temos muito caminho para percorrer em defesa de algo que deveria ser básico, mas é fortalecedor perceber que as crianças estão mostrando cotidianamente que precisamos falar sobre desenvolvimento sexual saudável na infância”, conclui a especialista.
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