Por Agência Einstein – Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, descobriu que quando uma criança vive em uma casa próxima a espaços verdes, as chances de desenvolvimento do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) são menores. Esta é a maior pesquisa realizada até o momento sobre o assunto.
O TDAH é um dos diagnósticos psiquiátricos mais frequentes entre os pequenos e pode perdurar por toda a vida. Ele é caracterizado pela falta de atenção, inquietação e impulsividade. Uma das suas causas é a predisposição genética, mas outros fatores podem desempenhar um papel na evolução do transtorno, como o estresse.
“Nossos achados mostram que crianças expostas a ambientes com menos vegetação durante a primeira infância — até os cinco anos — possuem maior risco de receber um diagnóstico para TDAH em comparação com crianças que cresceram cercadas por áreas verdes”, explica Malene Thygesen, uma das autoras do estudo, publicado no periódico Environmental Health Perspectives.
As constatações foram obtidas a partir dos dados residenciais de cerca de 814 mil indivíduos nascidos na Dinamarca entre 1992 e 2007, além de diagnósticos para o distúrbio em crianças a partir dos cinco anos, no período de 1997 a 2016. Durante este intervalo, 3,65% das pessoas foram diagnosticadas com TDAH. Os cientistas também fizeram uso do chamado Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI, na sigla em inglês), que mede quão verdes são os arredores de uma determinada casa. A pontuação variava de -0,58 a 0,8, em que o menor valor representa uma vegetação esparsa, como aquela encontrada nas grandes cidades, e o maior indica uma vegetação mais densa, como são as florestas, áreas rurais e os parques urbanos.
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Os pesquisadores descobriram que, para uma diminuição de 0,1 ponto no NDVI, o risco de desenvolvimento de TDAH aumentava em 3%. “Os mecanismos básicos dos benefícios dos espaços verdes sobre a saúde mental ainda não são inteiramente compreendidos, mas diferentes caminhos foram sugeridos”, diz o estudo. Uma das explicações está na teoria da restauração de atenção. De acordo com a hipótese, sintomas como dificuldade de concentração e estresse — que intensificam o distúrbio — podem ser reduzidos a partir do contato com a natureza.
Além disso, a presença de espaços verdes diminui os níveis de poluição sonora e atmosférica, tanto por conta da menor circulação de veículos motorizados quanto pelo processo de fotossíntese realizado pelas plantas, em que elas absorvem o gás carbônico do ar. Segundo os cientistas, o excesso de estímulos causados pela poluição pode aumentar a irritação e o estresse nas crianças.
Eles também mencionam os benefícios trazidos pela realização de atividades físicas em ambientes abertos. “Espaços verdes podem agir como um facilitador que promove um cenário propício para o contato social e brincadeiras ao ar livre na vizinhança”, explicam os autores. “A coesão social em um bairro é associada à saúde humana e a melhora no bem-estar em geral.”
O estudo faz a ressalva de que, na Dinamarca, a maioria das crianças frequenta creches, o que pode limitar as descobertas. Além disso, não foi incluído o período de gestação, em que o nível de estresse da mãe pode afetar o desenvolvimento de sintomas do transtorno em seu filho.
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