Como você pode criar filhos melhores para o mundo? 14 personalidades respondem!

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    14 especialistas de diversas áreas, além de mães leitoras da Canguru, respondem à difícil questão: o que é preciso fazer para educar filhos melhores para a sociedade?

    Por Cristina Moreno de Castro, Juliana Sodré, Luciana Ackermann, Rafaela Matias e Verônica Fraidenraich

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    Pode-se dizer que esta é a pergunta de um milhão de dólares: o que devemos fazer para criar filhos melhores para o mundo? São inúmeros os livros, as palestras e os filmes que procuram responder a esse dilema que acompanha pais – e especialmente mães – desde que o mundo é mundo. A Canguru transformou isso em missão, meta e slogan e tenta desde seu início, em outubro de 2015, trazer respostas relevantes. Portanto, esta reportagem especial de mês das mães não tem qualquer pretensão de esgotar o assunto.

    Porém, convenhamos: os conselhos vindos de referências em diversas áreas sem dúvida contribuem com a reflexão, não é mesmo? Estamos falando de personalidades como a criadora da disciplina positiva, a terapeuta e doutora em educação Jane Nelsen, que também é mãe de sete filhos e avó de 18 netos; Fernanda Lee, que é pioneira na divulgação da disciplina positiva no Brasil; e a coach para pais número um do Reino Unido, palestrante internacional e diretora do The Parent Coaching Academy, Lorraine Thomas. Nos referimos também à premiadíssima escritora paulistana de livros infantis Ruth Rocha, com mais de 200 títulos traduzidos para 25 idiomas em seu currículo; aos psicanalistas e escritores Lidia Rosenberg Aratangy, Rossandro Klinjey e Francisco Daudt; ao filósofo Mario Sergio Cortella; e às educadoras Tania Zagury, Tais Bento e Roberta Bento. Sem falar na psicoterapeuta norte-americana Tina Bryson, coautora dos best-sellers Disciplina sem Drama e O Cérebro da Criança; em Fernando Dolabela, autor do best-seller O Segredo de Luísa; e no médico Daniel Becker, um dos pioneiros da pediatria integral e um dos criadores do Programa Saúde da Família.

    Foram esses 14 renomados especialistas que nossa equipe de reportagem consultou para tentar contribuir com o debate. Afinal, qual é a responsabilidade dos pais sobre as pessoas que os filhos vão se tornar ao longo da vida? Para Lorraine Thomas, simplesmente não há compromisso maior do que este: “O mundo que deixamos para nossos filhos depende das crianças que deixamos para o mundo”. A coach, escritora e palestrante britânica diz que os pais são capazes de criar verdadeiros super-heróis, que podem fazer a diferença no mundo. Como? “Seja um ótimo modelo. E nutra valores familiares fortes”, diz ela, que acredita que sempre é possível sermos pioneiros na criação dos nossos filhos.

    Ser bom exemplo para os pequenos também foi o principal ponto destacado pela psicanalista Lidia Aratangy, que é especializada em família e autora de mais de 20 livros – entre eles o best-seller Pais que Educam Filhos que Educam Pais. “Se você quer ter filhos melhores, trate de dar bons exemplos nas miudezas do cotidiano. Isso não se confunde com fazer belos sermões nem com enunciar sua posição diante dos grandes problemas da humanidade. Afinal a vida se define no varejo e no concreto, não no atacado e no abstrato”, afirma. Ela dá exemplos práticos: parar em fila dupla na frente da  escola demonstra pouco caso com os outros; não respeitar a faixa de pedestre é um ato de indisciplina; furar fila é um exemplo do malfadado “jeitinho”; dar gorjeta para se livrar de uma multa demonstra que, com dinheiro, tudo se resolve; mentir para a criança gera filhos mentirosos; assim como bater neles contribui para torná-los violentos. “Ou seja: se você quer ter filhos melhores, aja como uma pessoa melhor e um cidadão consciente”.

    Referência em educação e família no país, Tania Zagury, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de 26 livros publicados no Brasil e no exterior, segue a mesma linha: “Você quer um mundo melhor? Para poder concretizar essa ideia, você tem que melhorar, começando dentro da sua casa. E precisa saber que isso tem um custo alto e afetivo”.

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    Para criar filhos melhores, deve-se ter uma educação baseada no respeito, na responsabilidade e, principalmente, no amor, com o
    fortalecimento do vínculo familiar. Isso fará com que nossos filhos explorem todo o seu potencial e se tornem pessoas melhores.
    — Manuela Moreira, mãe de Maria Eduarda, de 6 anos, de São Paulo | Foto: Juliana Frug

    Amor e carinho

    Foi mesmo no afeto e na dedicação que boa parte das respostas transitaram, de diferentes maneiras. “Crianças melhores são crianças amadas e respeitadas, não é preciso mais nada”, resumiu a escritora Ruth Rocha, que, no ano passado, foi laureada como Personalidade Literária no Prêmio Jabuti pelo conjunto de sua obra e por sua contribuição para a formação de leitores no Brasil. “Desde que a criança nasce é importante estimulá-la de todas as formas: cantando para ela, conversando, contando histórias, corrigindo seus erros com carinho e com toda a delicadeza”, defende.

    “Um vínculo afetivo forte pode superar qualquer conflito, erro ou dificuldade em qualquer fase da vida”, acredita Fernanda Lee, que é cofundadora da organização Disciplina Positiva no Brasil. “Demonstre aos seus filhos que você está ao lado deles ao assumir a sua parcela de responsabilidade do problema, ao praticar a escuta ativa e ao passar um tempo especial semanalmente dedicado a cada um deles. Quando a criança se sente  compreendida, ela é encorajada a ser ela mesma”, diz.

    Mas é óbvio que os pais e as mães dedicam todo o seu tempo e afeto para as crias, não? Para o filósofo, escritor e doutor em educação Mario Sergio Cortella, não é bem assim. “É preciso uma dedicação maior do que aquela que se vem tendo, um esforço maior em relação ao exercício da maternidade e da paternidade”, afirma. Ele também diz que dois fatores são essenciais nesse exercício de criar os filhos: a humildade para buscar aprender com os outros (“e não supor que criar filhos seja uma atividade automática”) e a parceria entre as pessoas que formam as crianças, com reflexão e consenso prévios nas conversas entre pai e mãe.

    É importante também não confundir o carinho com a promessa de felicidade. Para o doutor em psicanálise Rossandro Klinjey, que é mais conhecido como palestrante e escritor, a última promessa que um pai ou mãe pode fazer ao seu filho é a de que ele será feliz. “Em vez disso, prometa dar o máximo que você pode para que seus filhos tenham competência de viver a vida da melhor forma possível”, aconselha.

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    Ensinamos a nossa filha o ‘aprendizado da escuta’, saber ouvir a neces- sidade do outro, o que o coleguinha tem a dizer, e sempre
    deixando-a livre para explorar o meio com muita criatividade.
    — Alessandra Marques, mãe de Melissa, de 3 anos, de Beagá | Foto: Gustavo Andrade

    Sonhos e potencial

    Outros entrevistados também destacaram a importância de dar autonomia aos filhos para resolverem os próprios problemas em casa e na escola. Foi a resposta de Jane Nelsen, a criadora da badalada filosofia da disciplina positiva. Ela defende que as crianças sejam instadas a darem sua contribuição nas tarefas do lar e nas salas de aula. “Isso não apenas cria um mundo melhor para as crianças, mas faz com que se envolvam na missão de criar um mundo melhor para todos”, afirma.

    O médico pediatra Daniel Becker aponta duas grandes questões do nosso tempo que a coletividade terá de enfrentar na geração dos nossos filhos: a desigualdade e a sustentabilidade do planeta. “Eles vão ser mais felizes se forem pessoas conscientes dessas questões e virem os pais envolvidos num ativismo decente pela justiça social e pela melhoria do meio ambiente”, defende Daniel, que já atuou no Médicos Sem Fronteiras e destaca a importância de as crianças experimentarem a natureza para aprenderem a amá-la.

    Já o escritor Fernando Dolabela acrescenta que os filhos devem transformar o mundo “por meio de inovações que gerem coisas boas para a coletividade”. Como os pais podem contribuir com isso? Propiciando instrumentos para que os jovens sejam os atores dos novos tempos, muito além da educação convencional. “Os grandes protagonistas das próximas décadas serão os que estiverem dispostos a inovar, obsessivamente, dentro de princípios que respeitem toda forma de vida e a liberdade. Engenheiros, médicos e demais profissionais de altíssimo nível que se limitarem a operar rotinas serão substituídos pela inteligência artificial”, diz.

    É preciso, portanto, permitir que as crianças explorem seus sonhos e potencialidades para produzirem resultados relevantes para o mundo do futuro, para os filhos e os netos delas. Se os pais não sabem como fornecer esse tipo de base, ao menos uma ajuda já podem providenciar: ensinar aos pequenos a lidarem com a frustração e a autoestima. Esta é a receita das educadoras Tais e Roberta Bento, especialistas em neurociência cognitiva, autoras do livro Socorro, Meu Filho Não Estuda e fundadoras do portal SOS Educação: “As duas capacidades são importantes para uma boa relação com os estudos e com a aprendizagem. Saber lidar com a frustração ajuda para que reajam de forma mais tranquila aos obstáculos que certamente virão e para que não desistam jamais. E a autoestima em nível adequado evita que sejam vítimas e causadores de bullying”. Para elas, que são mãe e filha, as duas habilidades juntas formam a combinação perfeita de escudo protetor e de combustível para que nossos filhos não desistam de alcançar seus próprios sonhos.

    Outras quatro habilidades são citadas como fundamentais pela psicoterapeuta americana Tina Bryson, que acaba de lançar o livro The YES Brain: equilíbrio, resiliência, discernimento e empatia. “Essas quatro habilidades podem ser construídas pelos pais e pelos educadores e são fundamentais para o sucesso das crianças e para melhorar o mundo”, explica.

    Mas se seu dilema é justamente sobre como fornecer todos esses subsídios apontados por todas essas personalidades com seus preciosos conselhos, fica a regrinha do médico e psicanalista Francisco Daudt: “Tente se lembrar de sua própria infância e se perguntar do que gostou e o que lhe faltou, para então replicar e corrigir na criação de seus filhos”. Nada como a experiência real e prática para aprimorar o que sempre parecerá uma missão impossível.

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    Criamos a Maria Luiza sem rotular pessoas nem ter nenhum tipo de preconceito, pois passamos para ela que todos são
    importantes como seres humanos, independentemente de raça, cor ou classe social.
    — Andréa Luiza Belém, mãe de Maria Luiza, de 4 anos, do Rio

    Leia artigo de Daniel Becker sobre o assunto.

    O que as mães dizem

    Veja algumas das respostas de leitoras da Canguru que chegaram até nós:

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