Por Rafaela Matias
No dia 13 de outubro, estreou nos cinemas de Belo Horizonte o filme Dentro da Caixinha, do cineasta belo-horizontino Guilherme Reis, 37. O longa infantil propõe um resgate às brincadeiras de roda, com suas danças circulares e suas cantigas clássicas, que perpassam diversas gerações.
No enredo, três crianças – os irmãos Arthur (Leônidas José), Laura (Manoela Domingos) e João (Cauã Carvalho) – passam as férias na casa da avó, Neusa (Marta Morais). Enquanto os três se divertem com videogames e redes sociais, uma tempestade provoca queda de energia e, a partir daí, desencadeia várias descobertas. Sem acesso aos passatempos tecnológicos, os meninos ficam entediados e cabe à avó revirar seu baú de lembranças, surpreendendo os netos com o divertido universo das brincadeiras de roda.
Veja o trailer:
Com o filme, o diretor – que realizou os curtas Jardim das Cores (2008), Bênção (2016), Era Uma Vez… (2007), Manipulação de Massa (2006) e American Movie (2003) e lançou em 2013 seu primeiro longa-metragem, Família – pretende despertar na meninada o interesse pelas brincadeiras antigas e a descoberta de um universo de diversão que vai além da tecnologia. Veja abaixo a entrevista completa:
Canguru: Qual foi a sua maior inspiração para o longa?
Guilherme Reis: Minha maior inspiração foi a capacidade que as crianças têm de brincarem com a imaginação, transformando um sapato em navio, um lápis em foguete. Por que não imaginar um mundo de fantasias dentro de uma caixinha? Com isso, tive a ideia de juntar essa premissa “fantástica” com a música brasileira em sua essência mais popular, que são as cantigas de roda.
Canguru: Pode-se dizer que o filme faz uma crítica ao excesso de tecnologia na vida das crianças?
G.R.: O filme levanta reflexões sobre o excesso de tecnologia na vida das crianças. Porém, sem colocar as novas formas de entretenimento e comunicação como vilãs da contemporaneidade. O roteiro enfatiza que o mundo está mudando rápida e radicalmente, e esse fato atinge inclusive as cantigas de roda, que sofrem mudanças na forma e conteúdo. Ops, dei uma pista do final do filme…
Canguru: Como você pretende que o longa afete as crianças que forem ao cinema?
G.R.: Eu sempre quis fazer com que as crianças se divertissem muito e, de quebra, despertassem o interesse por brincadeiras e histórias das gerações anteriores. Mas a recepção do filme me surpreende a cada sessão pública. Hoje, acompanhei uma sessão com mais de 800 crianças da rede pública de Ibirité, onde exibimos “Dentro da Caixinha” para mais de 5.000 alunos. Os meninos, de 5 a 11 anos, bateram palmas durante várias partes do filme e, ao final, entoaram um coro estridente: “De novo, de novo!”. As professoras ficaram emocionadas e muitas saíram chorando da sessão.
Canguru: O filme pretende, de alguma forma, mostrar a cultura de Minas Gerais? Como?
G.R.: O filme teve uma pesquisa que ultrapassou as fronteiras culturais de Minas Gerais. Há cantigas do folclore gaúcho, há um baião representando o nordeste, uma guarânea, duas marchas e várias cirandas, por exemplo. Músicas de diversas regiões do país, relidas por um time de primeira linha, sob a direção musical de Rafael Nelvam. A intenção foi fazer uma obra universal para cruzar fronteiras e mostrar nossa cultura para o mundo.
Canguru: Os atores mirins que participaram do longa já conheciam as brincadeiras ou precisaram aprender? Como foi esse contato?
G.R.: Nos testes de elenco percebemos que clássicos, como Ciranda Cirandinha, são conhecidos pela maioria das crianças, até hoje. Isso se deve ao trabalho de preservação e difusão das cantigas de roda feito pelas escolas, sobretudo no período de alfabetização. As brincadeiras (coreografias) foram desenvolvidas pelo coreógrafo Fernando Barcellos especialmente para o filme.
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Sobre o cineasta:
Formado em Belas Artes com habilitação em Cinema de Animação pela UFMG e em Comunicação Social pelo UniBH, realizou os curtas Jardim das Cores (2008), Bênção (2016), Era Uma Vez… (2007), Manipulação de Massa (2006) e American Movie (2003). Lançou em 2013 seu primeiro longa-metragem, Família. É diretor da produtora Postura Digital que se dedica a trabalhos autorais e comerciais.