O Brasil vive um delicado momento político e econômico, marcado pela alta da inflação e custo de vida elevado. A incerteza com relação ao futuro do país é inclusive um dos fatores que pesa na hora de casais optarem por ter ou não filhos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 60 a taxa de fecundidade das famílias brasileiras era superior a 6, e desde então vem caindo, com a marca de 2,8 até o início do século 21. Em projeção, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirma que, até 2030, a taxa deve ser de apenas 1,5. O país está abaixo da média mundial, que é de 2,4 filhos por mulher.
A pesquisa intitulada “Inflação: Percepções do Consumidor”, realizada pelo Instituto Ipsos, em dezembro de 2021, revelou que cerca de 80% dos brasileiros acreditavam que o custo de vida nos próximos 6 meses aumentaria. O levantamento, que contou com a participação de 1.000 pessoas, estava certo. São Paulo, uma das maiores metrópoles do país, é um exemplo. Dados do “Custo de Vida Por Classe Social”, estudo realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), apontam o maior aumento do custo de vida na Região Metropolitana de São Paulo desde 2015.
O aumento nos preços se estendeu a todas as áreas, inclusive aos produtos infantis e custo do ensino privado. Atualmente, Brasília (DF) é a cidade brasileira mais cara para se criar uma criança, seguida de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). A diferença dos gastos entre SP e RJ é expressiva. Segundo levantamento da Plano, fintech de educação financeira, isso decorre da diferença nos custos do ensino privado, que é consideravelmente mais caro em bairros específicos. “Cidades menores podem apresentar custos até 25% mais baixos na criação dos filhos”, disse Ricardo Hiraki, sócio-diretor da Plano, em entrevista ao Jornal O Estado de S.Paulo.
Pelo alto custo das escolas particulares, a maior parte dos brasileiros está matriculada em escolas de ensino público, aponta o último Censo Escolar, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A pesquisa ainda revela que apenas 18% dos brasileiros têm acesso ao ensino privado.
O custo para criação de um filho varia de acordo com a renda familiar. Segundo Hiraki, famílias com renda mensal acima de R$15 mil nas cidades mais caras, destinam de 20% a 30% de seu dinheiro para a criação dos filhos. Neste caso, o custo mensal para criação de uma criança passa de R$3 mil. O investimento, desde o nascimento até os 18 anos, é acima de R$650 mil.
O final da infância e início da adolescência, dos 7 aos 14 anos, é a fase mais cara, relata Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de Economia no Insper, em entrevista à Revista Forbes. Segundo a especialista, é nessa época em que as crianças desenvolvem autonomia, o que reflete na expansão de gostos e interesses, elevando o consumo. Além disso, o período é marcado por custos adicionais, como aparelhos ortodônticos e cursos de idioma.
Nas famílias de classe média os custos são maiores, mas representam uma parcela menor da renda total familiar. Já, nas famílias de menor renda, apesar de os gastos serem consideravelmente mais baixos, eles representam um peso bem maior no orçamento global.
Em busca de custos mais baixos e educação mais qualificada, as cidades afastadas dos grandes centros acabam sendo uma opção para algumas famílias. Nessas localidades, os pais podem encontrar alternativas de escolas e atividades extracurriculares relativamente mais baixas.
A pesquisa “Custo de Vida Nacional”, realizada em maio de 2021 pela Mercer, empresa especialista em gestão de ativos, destaca que o custo de vida pode variar em até 14% nas cidades brasileiras. A pesquisa revela que a categoria “serviços domésticos”, que inclui itens como diária para limpeza, babá e serviços de lavanderia, é a que mais pesa no orçamento.
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