Chinelada ou diálogo? Saiba o que é melhor para seu filho na hora da birra

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Apesar de tentadora para muitos pais, a chinelada pode ter consequências ruins para a criança
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Por Vilma Farias

Durante o último Encontro Canguru, evento mensal (sempre com entrada gratuita) que a Canguru oferece, com palestras sobre temas de interesse dos pais, a psicopedagoga Vilma Farias deu seu parecer sobre como as birras devem ser encaradas pelos responsáveis. A fala da especialista gerou um post no Facebook, que dividiu opiniões. Muitas mães se manifestaram a favor de atitudes auteras (inclusive, o uso das palmadas) em caso de birras. Por isso, tivemos a ideia de pedir a Vilma que explicasse melhor sua posição. O texto a seguir é sua resposta.

Chinelada: sim ou não?

Não podemos confundir a conexão com nossos filhos com a falta de limites. Não posso julgar a educação que os pais querem oferecer aos filhos, porém procuro levá-los a reflexão de que a família é a base da educação da criança e, por meio dela, de suas atitudes a criança terá as primeiras lições, principalmente no tocante aos limites. Crianças necessitam de limites que significam dar a segurança para que a criança desenvolva sua autonomia.

A família deve aproveitar a infância, um período propício para o estímulo do desenvolvimento saudável, visto que as conexões neuronais das crianças estão em constante evolução, assim como as funções executivas do cérebro que – se bem estimuladas – promovem o equilíbrio saudável da emoção e da razão.

Por isso, a família deve ser o porto seguro da criança. A família deve refletir sobre os valores que irão reger aquele lar. Quais são as nossas crenças? Qual é a missão da minha família? Por que as famílias precisam conversar com as crianças sobre missão, a fim de elencar de maneira lúdica e promover rodas de conversa uma vez por semana e reflexões como, por exemplo:

Como eu estou? Como você está? Como posso melhorar como pai ou até mesmo filho? Além de reconhecer as conquistas da semana, por mais que tenham sido pequenas, com objetivo da manutenção dos valores e da aprendizagem constante.

Agora, eu pergunto: a chinelada é a melhor forma de colocarmos limites em nossos filhos? Em primeiro lugar, os pais necessitam usar a autoridade afetiva com seus filhos. A autoridade é conquistada pela firmeza no diálogo e as atitudes, sem confundir com autoritarismo, caso contrário, encontrarão a fórmula aparentemente eficaz das famosas palmadas.

Será que bater é a solução?

Aparentemente, quando um pai bate no filho, em muitos casos, a criança momentaneamente não terá mais o comportamento inadequado, pois ela ficará com medo, mas não porque respeita a autoridade dos pais, mas por, muitas vezes, sentir que é culpada. A palmada a leva a criança a pensar que obter respeito é necessário bater, gritar, além de estimular nela  as tentativas de mentiras e, consequentemente, a falta de confiança na relação pais e filhos, ocasionando distanciamentos. Tudo isso gerará prejuízos no fortalecimento dos vínculos afetivos, fundamentais para o alicerce de uma adolescência saudável.

A infância é um período no qual a criança está receptiva à aprendizagem e o seu cérebro está em constante período de desenvolvimento e, por isso, expô-la frequentemente a gritos e agressividade pode desencadear o que a neurociência chama de “estresse tóxico”, produzindo cortisol e adrenalina em grande quantidade,  aumentando os níveis de açúcar no sangue e da pressão arterial, como consequência do medo e da angústia. Tudo isso prejudica seu crescimento e ela apresenta irritabilidade, agressividade, falta de sono, entre outros sintomas.

Enfim, temos que entender que colocar limites é necessário e, ao mesmo tempo, compreender o quanto atitudes agressivas e estressantes prejudicam o desenvolvimento dos nossos filhos, porque “violência gera violência”. Vale ressaltar que criança também copia os  comportamentos dos pais e internaliza: “Só consigo resolver tudo com agressão física ou gritos” – mas, dependendo da criança,  ela poderá ressignificar as agressividades com a resiliência.

Sendo assim, que filhos queremos deixar para o mundo? Queremos filhos criativos, com posicionamentos, com atitudes? Ou queremos filhos passivos, medrosos ou até mesmo agressivos?

Então, antes de chegar ao ponto de pensar em “dar chineladas” seria bom você parar e refletir sobre suas emoções, para conversar com seu filho sobre as emoções dele e, principalmente, refletir que a raiva e a tristeza não justificam determinados comportamentos.

Por isso, devemos repensar sobre a importância de praticarmos rodas de conversas com nossos filhos, conscientizando-os dos direitos e deveres, pois a sociedade é pautada em limites. Não podemos confundir é a escuta ativa, o diálogo com falta de limites, pelo contrário, a criança desde que nasce deve reconhecer seus pais como autoridades, ou melhor, pessoas que exercem a autoridade afetiva. Afinal, colocar limites nos filhos é um ato de amor.

Mas para aprender que o diálogo e o respeito as regras e aos combinados devem existir, o adulto precisa estar 100% presente quando estiver com seu filho e tudo isso exige dedicação, paciência e repetição.

São muitas as respostas e pontos de vista, porém antes de chegar a um estresse diário, culminando muitas vezes com agressividade verbal ou física, as famílias devem utilizar alguns passos:

•      Envolver a criança em rodas de conversa;

•      Reconhecer e validar as emoções;

•      Conversar sobre os valores e a missão da família;

•      Deixar claro o que é permitido, o que pode ser flexibilizado e o que não é permitido;

•      Os valores da família devem estar presentes em cada ação.

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