Bebês têm microplásticos no corpo antes mesmo de nascer, mostra ciência

Pesquisadores já encontraram microplásticos dentro de óvulos, espermatozoides e até em placentas humanas. Especialistas alertam que pode haver impacto na fertilidade e contam como é possível reduzir a exposição
Bebês e microplásticos: Como é possível reduzir a exposição?
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Bebês e microplásticos: Como é possível reduzir a exposição? Foto: Freepik

 

Você sabia que um bebê que ainda nem nasceu já pode sofrer os impactos da poluição ambiental? É o que revela a descoberta feita recentemente por pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda. Os cientistas encontraram microplásticos –partículas de plástico tão pequenas que, muitas vezes, não conseguimos ver a olho nu – dentro de óvulos, espermatozoides e até dentro de placentas humanas.

As partículas invisíveis se soltam de embalagens, roupas sintéticas, garrafas plásticas e milhares de objetos ao nosso redor e conseguem atravessar barreiras biológicas que antes pareciam intransponíveis.

O estudo, publicado em novembro de 2025, analisou tecidos e fluidos reprodutivos de participantes voluntários e encontrou partículas de polietileno (PE), polipropileno (PP) e poliuretano (PU), tipos de plásticos presentes em praticamente tudo o que usamos no dia a dia.

A descoberta acende um alerta importante para quem tenta engravidar e mesmo para quem já tem filhos e se preocupa com o futuro da saúde dos filhos.

No Brasil, de 10% a 15% dos casais em idade fértil enfrentam dificuldade para engravidar. Atualmente, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) estima que 8 milhões de brasileiros podem ser inférteis ou precisar de apoio médico para realizar o sonho de ter um filho. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a infertilidade afeta 1 em cada 6 pessoas em todo o mundo.

Fatores como estresse, tabagismo, sedentarismo, obesidade e o adiamento da maternidade e da paternidade já são amplamente conhecidos como alguns dos maiores causadores de impactos na fertilidade. Agora, os poluentes ambientais passam a integrar a lista de vilões.

“Os microplásticos são partículas extremamente pequenas, capazes de entrar nas nossas células através do transporte de nutrientes e água. Por isso, estão sendo encontrados dentro de óvulos, espermatozoides e outras células do organismo”, explica a ginecologista e obstetra Graziela Canheo, especialista em reprodução humana, da La Vita Clinic (SP).

Ao perceber a presença das partículas estranhas, o corpo reage como se estivesse sob ataque.  “Uma vez dentro da célula, os microplásticos geram um processo inflamatório. As células tentam destruí-los. Se não conseguem, podem até entrar em morte programada. Esse mecanismo de defesa pode comprometer a função celular e impactar a fertilidade”, acrescenta.

Por enquanto, a ciência está apenas começando a medir o tamanho real desse impacto. Mais pesquisas são necessárias para investigar como os poluentes agem no organismo, de forma mais completa. “Sabemos que há um prejuízo potencial ao funcionamento celular, mas ainda faltam estudos robustos para entender quanto isso afeta, de fato, a fertilidade humana”, aponta.

Como se proteger no dia a dia (especialmente se você planeja engravidar)

Ainda que seja impossível eliminar completamente os microplásticos, é possível reduzir a exposição de forma significativa, com algumas medidas. Aqui, a especialista lista exemplos práticos:

– Evite aquecer comida em recipientes de plástico, já que o calor libera partículas para os alimentos.

– Prefira vidro, inox ou cerâmica, tanto para cozinhar quanto para armazenar alimentos.

– Reduza o uso de itens descartáveis, pois copos e talheres de plástico são grandes emissores de microplásticos.

– Dê preferência a roupas com fibras naturais. Poliéster e outras fibras sintéticas eliminam microplásticos a cada lavagem.

– Use filtros de água confiáveis. Alguns modelos já retêm micropartículas.

Uma luta de todos

Embora algumas atitudes individuais ajudem a reduzir a exposição, para que o impacto seja realmente significativo, é necessário um movimento maior — envolvendo governo, empresas e consumidores — para diminuir a quantidade de plástico em circulação e garantir descarte adequado do material. “Precisamos pensar nas próximas gerações. Reduzir o consumo de plástico hoje é uma forma de proteger a fertilidade de amanhã”, destaca a médica.

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