Por Cristina Moreno de Castro
Alguns dos principais desafios vividos pelos professores do ensino básico em escolas de todo o Brasil estão reunidos e resumidos em narrativas de 22 diretores, coordenadores e professores no livro Desafios Reais do Cotidiano Escolar Brasileiro, recém-lançado.
O projeto foi coordenado por Katherine Merseth, que é professora sênior da Escola de Educação da Universidade de Harvard, em parceria com o Instituto Península – organização que trabalha para aprimorar a formação de professores – e o Instituto Singularidades.
O livro traz casos reais seguidos de questões para reflexão e para discussão.
Há, por exemplo, a história de uma mãe que exigiu que o filho não participasse da “hora do brinquedo” porque ele só queria brincar de bonecas e o dilema da diretora dessa instituição, em São Paulo.
Há ainda desafios relacionados a bullying, questões raciais, mudanças nas propostas pedagógicas das escolas, violência no ambiente escolar e muito mais.
Leitura obrigatória para todos que se interessam pela melhoria da educação em sala de aula. O livro pode ser baixado gratuitamente, em português e inglês, clicando AQUI.
Leia abaixo duas sinopses de narrativas envolvendo a educação infantil que estão no livro:
DESAFIOS DO ENSINO INOVADOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Marta é a diretora da Escola da Mata, uma instituição de Educação Infantil mantida por uma indústria. A escola, conhecida por suas práticas inovadoras, tem como princípios a relação próxima com a natureza, o desenvolvimento integral e o brincar. No entanto, a inovação está sendo ameaçada pelas exigências dos patrocinadores, influenciados por algumas famílias que reivindicam alterações drásticas na proposta da escola. Por outro lado, professores e funcionários pressionam a diretora para que ela mantenha os princípios que fazem daquela escola uma instituição à frente de seu tempo.
GÊNERO E PRECONCEITO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Em uma pequena cidade do interior de São Paulo há escolas urbanas e rurais. A escola rural, de período integral, embora localizada a 30 minutos da cidade, recebe muitos alunos vindos da zona urbana e tem como diretora Elizabete, que assumira a gestão escolar dois meses antes do episódio que se narra. Até sua chegada, a escola, tranquila e sem problemas graves, não registrara conflitos que pedissem discussões aprofundadas. Porém, com a entrada de um novo aluno da Educação Infantil, muitos conflitos começam a surgir. A mãe acusa a escola de influenciar a sexualidade de seu filho, uma vez que, após começar a frequentá-la, começou a ter atitudes “diferentes e estranhas”. Ela exige que o aluno deixe de participar das aulas de atividades rítmicas e da “hora do brinquedo”, durante a qual o menino só queria brincar com bonecas. Inicialmente a diretora discordou, mas, com o passar do tempo e diante de ameaças, resolve acatar as “ordens” da mãe. O problema se agrava quando o aluno sofre ao se ver excluído de algumas atividades curriculares. Os professores insistem em não aceitar sua exclusão, a mãe insiste em não querer que o filho seja “incentivado” a “fazer atividades de meninas”, e Elizabete vê-se em uma encruzilhada: qual o melhor caminho a tomar?