Meia noite o filho chama. Teve um pesadelo. Fico com ele até pegar no sono outra vez. Durmo também.
Acordo com trovões. Duas da manhã. Chove de madrugada. Me levanto para fechar a janela da cozinha. Tarde demais. O vento forte jogou toda a chuva para dentro. Entro na cozinha e já me molho, uma ducha fria na madrugada. Fecho a janela, enxugo o chão. Volto para a minha cama.
A gata pula em mim com medo da tempestade. Medito e volto a dormir.
Acordo cedo para desbloquear o app de controle de pais do computador do meu filho. Primeiro dia de aula, passando para o turno da manhã, mas ainda no ensino remoto. Meu marido senta ao lado dele para ajudar a se conectar na plataforma. Ocorreram algumas mudanças e meu filho não consegue acessar. Fica nervoso. O pai liga para o técnico do colégio. A fila do atendimento está enorme.
Olho o grupo de pais do sexto ano no Whatsapp, vejo como eles acessaram. Saio da cama, vou tentar ajudar. Menino tá surtando. Esbraveja. Diz que não tem acesso à aula. Falo para entrar do jeito que os pais explicaram, ele diz que não dá. Não quer tentar outra vez.
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Marido sai de cena. Técnico atende o telefone, pede pra fazer o que eu já tinha falado. Ele faz. Tudo certo. Aula de matemática. Agradeço o técnico e ele da uma risadinha quando comento que filho não ouve, mas é bom ter alguém (além de mim) para falar o que eu já havia falado.
Chegamos àquela fase de mãe estar sempre errada ou chata ou as duas coisas:
– Minha mãe me lembra de escovar os dentes várias vezes ao dia Me lembra que esta na hora do banho.
– Minha mãe me faz levar os pratos e copos que usei para a cozinha. Me lembra de limpar a caixa da gata todos os dias. Colocou controle de pais no meu celular e no meu computador e controla quais aplicativos vou usar e o tempo de tela.
– Minha mãe quer que eu saia do apartamento, pelo menos uma vez por semana.
– Minha mãe reclama quando eu começo a ver YouTubers falando de Minecraft. Ela quer que eu arrume meu quarto. Quer que eu dê descarga, que eu pendure a toalha no toalheiro depois do banho. Minha mãe quer que eu faça bolo, só porque ela me ensinou e agora meus bolos ficam melhores que os dela.
– Minha mãe ficava vigiando para eu não matar a aula online.
Eu odeio ser chata, mas ser chata é papel de mãe e de pai. E é cumprindo esse papel com maestria que seguiremos mais um ano letivo, que começa com aula online, mas vai ter aula presencial. Vamos testar esse sistema híbrido. Com medo do coronavirus, mas com muito medo dos danos psicológicos de mais um ano longe da escola, dos colegas, da socialização. Me resta confiar nos protocolos, e torcer para que a vacina chegue ao maior número de pessoas, o mais rápido possível.
Escola não é depósito de criança, escola é fundamental, não apenas para o aprendizado, mas para o contato com o diverso. Para aprender a conviver com a coletividade. Educação precisa ser prioridade. Como pais, precisamos ser chatos e cobrar do poder público. Por escolas abertas, por investimentos na educação pública. Por vacina.
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