Em setembro de 2012, as Nações Unidas declararam que, pela primeira vez em toda a história da humanidade, as mortes secundárias relacionadas às doenças crônicas não comunicáveis (NDC) foram superiores às mortes relacionadas a doenças infecciosas. Elas provocaram 38 milhões de mortes no ano de 2012 (68%). Mais de 40% dessas mortes (16 milhões) foram consideradas prematuras (acometeram pessoas com menos de 70 anos de idade). Três quartos (28 milhões) de todas as mortes por NDC e 82% das mortes prematuras aconteceram em países de baixa e média renda.
Fatores de risco que são modificáveis, tais como dietas pobres em nutrientes e sedentarismo, são causas importantes de NDC. O alto consumo de açúcares na forma livre é uma preocupação devido a sua associação com dietas de pobre qualidade nutricional, obesidade e risco aumentado para o desenvolvimento de NDC.
Um número cada vez maior de evidências epidemiológicas conclui que o consumo excessivo do açúcar afeta muito a saúde, vai além de simplesmente adicionar calorias.
Ao mesmo tempo, o açúcar por si só não é necessariamente prejudicial. Refrigerantes, açúcares e doces parecem ter um impacto negativo na qualidade nutricional dos alimentos, enquanto alimentos lácteos e cereais previamente adocicados podem ter um impacto positivo por estarem associados a nutrientes importantes, desde que consumidos adequadamente.
Um número cada vez maior de evidências epidemiológicas conclui que o consumo excessivo do açúcar afeta muito a saúde, vai além de simplesmente adicionar calorias. O açúcar eleva o fator de predisposição para o desenvolvimento das doenças relacionadas a Síndrome Metabólica. Isso inclui:
A- HIPERTENSÃO: a frutose aumenta os níveis de ácido úrico, o que contribui para elevar os níveis de pressão.
B- DIABETES E AUMENTO DOS TRIGLICÉRIDES: a ingestão de frutose favorece a lipogênese (formação e acúmulo de gordura) e facilita o processo de resistência insulínica (a qual a pode evoluir para diabetes).
C- ACELERAÇÃO DOS PROCESSOS DE ENVELHECIMENTO: causada por alterações dos lipídeos, das proteínas e do DNA resultante da ligação da frutose a essas moléculas.
A frutose exerce efeitos tóxicos hepáticos semelhantes aos ocasionados pelo uso do álcool. Isso não é surpresa, pois o álcool é derivado da fermentação do açúcar. Alguns estudos têm mostrado associação do consumo exagerado do açúcar com câncer e alterações cognitivas.
O uso do açúcar pelo ser humano gera dependência. Ele age no centro regulador do apetite, diminuindo a supressão da grelina (indicador de fome para o cérebro), interferindo na liberação e sinalização da leptina (relacionada à saciedade).
O açúcar interfere também na função da dopamina, que age no centro de recompensa cerebral, diminuindo assim a sensação de prazer relacionada ao alimento e incentivando a ingestão de mais alimentos.
Filomena Camilo do Vale é especialista em terapia intensiva pediátrica, mestre em pediatria pela UFMG, pediatra do CTI infantil da Santa Casa BH e da Clínica Criança e Companhia.
Denise Alves Brasileiro é especialista em terapia intensiva neonatal e pediátrica, com atuação em nutrição infantil, pediatra da Clínica Mon Petit e pediatra responsável pelo grupo de Reeducação Alimentar Infantil da Unimed BH.