A fala, a comunicação da criança e as habilidades socioemocionais

A linguagem, a forma como a criança se comunica, tem relação intrínseca com as habilidades socioemocionais que ela terá no futuro

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Bebê de fralda sentada no chão fala ao celular
Estimular e não deixar o seu filho usar a tecnologia em excesso pode ajudar no desenvolvimento da fala
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O desenvolvimento da fala pode ter implicações no desenvolvimento das habilidades socioemocionais que a criança vai desenvolver na própria infância e na vida adulta, como a capacidade de lidar com frustrações, a sociabilidade, a comunicação efetiva, a tolerância, entre vários outros aspectos.

Quem falou sobre o tema numa conversa com a Canguru News foi a fonoaudióloga e pedagoga Deborah Zarth Demenech. A especialista foi uma das colaboradoras do livro “Habilidades Socioemocionais: por que Essas Competências Precisam Ser Desenvolvidas na Primeira Infância?”, sob a coordenação editorial da jornalista Ivana Moreira, fundadora da Canguru.

A fonoaudióloga trabalhou por 15 anos com adolescentes e desenvolveu, recentemente, um método de atendimento humanizado chamado Fada Falah, que considera todas as implicações de eventuais dificuldades de fala e comunicação da criança.

Segundo Deborah Demenech, a maior parte das dificuldades de construção das habilidades socioemocionais surgem na primeira infância e não são acolhidas da forma correta. A habilidade de se comunicar, sobretudo, decorre disso.

“Na medida em que o bebezinho vai se desenvolvendo, ele encontra formas diferentes de se comunicar. E essas formas expressam se ele está desenvolvendo as suas habilidades socioemocionais ou não”, alerta a especialista. Os pais devem, portanto, observar alguns pontos: a criança está se comunicando ou não? A criança está se comunicando bem ou não? A criança está com dificuldades de aprendizado?

Segundo a fonoaudióloga, muitas vezes os próprios médicos ou outros especialistas não detectam algumas dificuldades que surgem juntamente com a dificuldade da fala. Ela explica que existem as habilidades visíveis, que estamos acostumados a enxergar, como o momento em que a criança deve começar a andar, por volta de um ano de idade. Mas também existem as invisíveis, que muitos pais e até especialistas não conhecem bem e não identificam. Por exemplo: a criança que tem dificuldades na fala vai desenvolver dificuldades socioemocionais, inevitavelmente, “porque a interação dela com outras crianças vai ser diferente e ela terá muitas dificuldades”.

É por isso que, segundo Deborah, os pais não devem esperar muito tempo para levar a criança para atendimento caso percebam dificuldades de fala e de comunicação. Na maior parte das vezes, alerta ela, a criança tem um problema orgânico, respiratório ou auditivo, e a falta de tratamento e de orientação podem levá-la a vivenciar outras dificuldades psicológicas que poderiam ser evitadas.

“Se a criança tem dificuldade de comunicação por problema orgânico e você falar: ah, ele é preguiçoso para falar, ele vai acreditiar e vai se tornar isso. Muitos profissionais deixam de encaminhar as crianças [para tratamentos e atendimentos] por fazerem julgamentos das condutas dos pais”, contesta.

Você é o que você comunica

Com base na premissa “você é o que você comunica”, a especialista explica que tudo o que falamos para as crianças fica marcado para sempre na vida delas. Muitas vezes os próprios pais estigmatizam a criança. “Costumamos dizer que uma imagem vale mais que mil palavras. Mas uma palavra que você fala para o seu filho cria uma imagem mental dele próprio que nem mil palavras conseguem reverter”, diz.

A primeira coisa a descartar no caso de desenvolvimento da fala é exatamente se a criança tem alguma dificuldade auditiva ou respiratória. “Mesmo se a criança tiver diagnóstico de TEA e TDAH. A criança que não respira bem por causa da adenóide não dorme bem, tem mais irritabilidade, menos tolerância à frustração. Mas claro. Ela nunca dormiu!.” Essa criança, completa, terá também que trabalhar suas habilidades socioemocionais, porque esse quadro deixa consequências futuras.

Para Deborah, é preciso reforçar palavras otimistas às crianças, durante tratamentos. Ela aconselha também os pais a deixarem um pouco a tecnologia de lado e buscarem mais interações, trocas afetivas e conversas com as crianças, o que mais estimula o desenvolvimento socioemocional e da própria fala. A tecnologia, diz ela, tem um contexto limitante: “É ilusão achar que recursos físicos, dar só o celular, o tablet, a melhor escola, isso vai melhorar o desenvolvimento da criança”. Por fim, ela aconselha: se você percebe que seu filho tem dificuldades de falar e de se comunicar, procure logo um especialista, confie nos seus instintos e vá sanar a dúvida.


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