6 atitudes que os pais podem adotar para aliviar a carga mental das mães

Para o educador parental Mauricio Maruo, a divisão equilibrada dos cuidados com os filhos ajuda a evitar a sobrecarga nas mulheres

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Médica examina bebê que está no colo do pai
Assumir tarefas como levar o filho ao médico ajudam a aliviar a sobrecarga da mãe
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Normalmente, quando saímos do estágio “homem em um relacionamento”, para o estágio pai, muitas mudanças positivas acontecem. Porém, não devemos esquecer que esse mesmo homem que se tornou pai e vivencia essas transformações está inserido em uma cultura patriarcal machista e muitos homens replicam esses comportamentos machistas após a paternidade mesmo sem perceber.

O texto de hoje vai falar sobre um assunto que já faz parte da história de muitas famílias, a carga mental que geramos nas mães dos nossos filhos. Esse assunto já foi explorado em muitas mídias, e são as mulheres as maiores consumidoras do tema

A formação de um pai não se restringe somente ao básico dos cuidados de uma criança – aliás se fossem “todos os cuidados” seria lindo, mas para a maioria dos homens até os cuidados básicos se restringem ao que eles foram ensinados em sua criação. Ou seja, se eles foram criados em um ambiente onde a responsabilidade de criar os filhos era sempre papel da mãe, eles provavelmente cresceram sem uma referência masculina de cuidados com crianças e muitas vezes essa falta de referência é um dos pontos que gera uma carga mental enorme nas mulheres.

Mas nem só de referências vive o homem moderno, devemos lembrar que nossa geração tem algo que a geração dos nossos pais e nossos avós não tinham, estou falando do fácil acesso às informações. Hoje, temos muitos homens percebendo que seu papel na sociedade mudou, e não somos iguais aos nossos antepassados, porém o desafio maior é entender que não é porque não pensamos como nossos pais que não deixamos de replicar atitudes que eles faziam. Costumo dizer para as famílias que me procuram que com o nascimento de uma criança também nasce uma responsabilidade que não conhecíamos e em muitos casos essa responsabilidade ainda fica nas costas da mãe, replicando o que nossos pais faziam. 

Quando falo de responsabilidade me refiro à questão do homem conseguir abraçar essa transformação e entender que junto com o nascimento do seu filho(a) vêm 1 milhão de coisas agregadas e são essas coisinhas agregadas que causam a carga mental na mulher. 

Um exemplo clássico do que estou dizendo com base em conversas que tive com alguns pais:

— Eu trabalho bastante e quando chegava em casa fazia questão de dar banho no meu filho, era o meu momento com ele.

Legal, né? #SQN

Por trás de um pai que acredita que somente o momento do banho é o momento dos dois, existe uma mãe que provavelmente ficou o dia inteiro trocando fraldas, dando de mamar, fazendo o bebê dormir, lavando roupas do bebê, limpando sujeiras que o bebê possa ter feito, fazendo comida para o bebê (quando ele já começou a comer), dando banho quando o bebê faz um cocô monstro, enfim…

Normalmente a carga mental é gerada por uma falta de sintonia de um dos lados, e não estou dizendo que devemos concordar ou aceitar tudo que o outro lado pensa ou fala, mas sim ter uma proposta válida para ambos. Por exemplo:

  • Um pai que ainda acredita que apenas o momento do banho já é o suficiente, provavelmente ele vai gerar carga mental na mulher.
  • Por outro lado, uma mãe que é controladora e não deixa o pai cuidar “do seu jeito” das crias, também está propícia a gerar carga mental nela própria.

Mas, quando falamos na criação de filhos, principalmente de bebês ou crianças pequenas, pelo menos as necessidades básicas precisam estar alinhadas, alguns exemplos:

  • Fazer um revezamento de cuidados com o sono, com a alimentação, a higiene etc.
  • Adequar os horários em relação às necessidades do bebê, para que não sobrecarregue nenhum lado.
  • Se informar sobre quais são as vacinas que seu (sua) filho(a) precisa tomar, por que ele vai tomar essas vacinas, quando e onde deve tomá-las.
  • Se informar sobre os saltos de desenvolvimento, pois as mudanças de comportamento dos bebês também são motivos de carga mental.
  • Um clássico dentro da carga mental materna, ambos devem ter o contato fácil do(a) pediatra.

Quando minha filha tinha 2 anos, muitas vezes, me sentia um peixe fora d’água ao conversar com alguns amigos pais e perceber que muitos deles causavam cargas mentais sem perceber – e eu me policiava o tempo todo para não replicar isso também.

A seguir, listo 6 atitudes para todos os homens/pais poderem contribuir com uma vida familiar mais saudável: 

1. Procure informações 

Essa é uma atitude super interessante por dois motivos. O primeiro motivo, é que muitos homens ainda continuam com uma resistência muito grande em procurar informações sobre os cuidados e a criação dos filhos, acreditando que essas informações vão vir da mulher. E os que procuram, quando encontram, normalmente esquecem de se questionar se o método é bom ou não para a dinâmica da família, gerando uma carga mental materna desnecessária. 
Vamos nos colocar um momento no lugar da mãe: normalmente ela que vai atrás dessas informações, avalia, questiona, discute, cria um TCC e compartilha tudo mastigado para o pai, algo que nós homens temos a total capacidade de fazer. Então porque muitos não fazem?

O segundo motivo é que mesmo que tenhamos a atitude de ir atrás das informações, avaliar, questionar, discutir e criar um TCC, hoje existem pouquíssimas matérias e artigos voltados exclusivamente para os pais. 

Vamos nos colocar um momento no lugar do pai, eu sou um pai que quero muito ajudar minha companheira com a amamentação, então eu procuro algum vídeo sobre ajuda na amamentação, e muitos vão ser direcionadas para as mães (falando a linguagem de mães). Isso para muitos homens é um universo completamente diferente, onde eles saem com muitas dúvidas. Agora imagine que este mesmo pai encontre um vídeo onde um outro pai conta como ele ajudou na amamentação da sua criança? Qual dos dois você acha que ele vai entender melhor e pode ajudar mais? 

2. Antecipe-se

Um dos pontos que causam o desgaste emocional materno é a falta de atenção e previsibilidade masculina. Questões práticas para alguns podem ser muito complexas para outros, mas quando falamos do cuidado com as crianças todas as questões devem ser compartilhadas por igual. Como já comentei acima, questões como vacina, pediatra, alimentação, saltos de desenvolvimento e assim vai…

Costumo dizer que nós, seres humanos, somos diferentes dos animais porque somos dotados de uma coisa muito bonita que nenhum animal tem, ela se chama Imaginação. Porém, muitos de nós não sabemos usar direito a imaginação, então proponho uma prática positiva do uso da imaginação para todos os homens que querem aliviar “um pouco” a carga mental materna. Utilize a imaginação a seu favor. Por exemplo: Imagine que você está em casa sozinho com seu (sua) filho(a), que está com 39º de febre e você não tem ninguém para pedir ajuda. O que você faria?

Antecipar possíveis cenários com os cuidados e criação dos filhos é um bom começo para gerar as atitudes que aliviam a carga mental da mulher/mãe.

3.  Incentive a procura de redes de apoio 

Essa atitude pode parecer um pouco machista, pois dá a impressão que estou incentivando o homem a se livrar da responsabilidade, mas na verdade as redes de apoio são espécies de comunidades ou, se preferir, aldeias. Por mais que o homem seja mega desconstruído, ainda assim ele vai encontrar uma barreira empática de gênero que não conseguirá ultrapassar. 

Essa barreira é algo específico de gêneros, por exemplo:

  • Não conseguimos saber como é a dor do parto.
  • Como são as mudanças hormonais.
  • Quais as sensações da amamentação e por aí vai.

Podemos até tentar entender todas essas fases, mas nunca vamos sentir como uma mulher sente, então dizer a famosa frase “eu sei como é” não ajuda muito, pelo contrário até piora. Lembre-se, incentivar a procura de redes de apoio com outras mães não é machismo, mas sim um ato de acolhimento.

4. Procure redes de apoio de homens/pais

Essa é uma atitude que muitos homens são resistentes, não sei ao certo o porquê, mas posso dar um chute. Acredito que por mais que tenhamos a consciência de que somos uma geração que é bem diferente dos nossos pais, ainda assim a maioria dos homens acredita que falar com outros homens não vai ajudar muito na criação dos filhos. 

  • Teimosia talvez
  • Falta de informação talvez
  • Um pouco de machismo estrutural talvez

A questão é que as redes de apoio de homens ajudam muito sim, pois como disse antes a linguagem de gêneros facilita o entendimento, então vou deixar alguns perfis que podem ajudar:
@paternidadecriativa
@paizinhovirgula
@homempaterno
@psicologia_da_paternidade
@umpapaixonado

5. Pratique a empatia

Já que falamos da barreira empática de gênero, vamos falar sobre a prática da empatia. 

O desenvolvimento da empatia ajuda tanto na relação entre o casal quanto na relação com filhos e reduz bastante a carga mental materna.

A empatia não é necessariamente se colocar no lugar do outro – porque se sua companheira estiver doente e você se colocar no lugar dela e também ficar doente, quem vai cuidar das crianças? 

A empatia é compreender o que é importante para o outro e respeitar essa importância, mesmo que ela não seja tão importante para você.

Segundo a Comunicação Não Violenta, aliás tenho um texto muito legal sobre “o que as crianças nos ensinam sobre a CNV”, a prática da empatia constrói pontes para conexões e diálogos mais verdadeiros. 

6. Promova o diálogo sincero 

Segundo matéria do jornal Folha Popular, o diálogo é a melhor forma de resolução de conflitos. Mas a questão é que em alguns casos, principalmente em se tratando de casais, a própria história dos dois cria uma barreira para este diálogo, a não ser que o casal já tenha a cultura do diálogo em seu relacionamento, então como praticar o diálogo sincero?

Simples, a paternidade e a maternidade são agentes transformadores. Muitos homens com quem converso relatam que após a paternidade conseguiram acessar emoções e sentimentos que não sabiam nem que existiam.

Então a minha dica é, use e abuse dessas emoções, use esses sentimentos para criar um diálogo sincero com sua companheira.

Espero que esse texto tenha ajudado algumas famílias e aliviar “um pouco” a carga mental das mães.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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