TDAH: 4 dicas para melhorar a interação com a criança

Programa desenvolvido no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino propõe medidas simples para ajudar a criança com TDAH na transição de atividades e assim melhorar o dia a dia da família

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Criança sentada no chão, olhando para frente, com brinquedos espalhados no chão
Aprenda a lidar com o TDHA no dia a dia
Buscador de educadores parentais
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A descoberta do diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no filho é um momento difícil para os pais. Muitos ficam assustados e mesmo negam a condição, achando por vezes que os sintomas que a criança apresenta fazem parte de seu desenvolvimento. De fato, muitas das características do transtorno se confundem com as etapas comuns do desenvolvimento infantil, daí a importância do diagnóstico correto para definição do melhor tratamento para cada caso.  

Passada a fase inicial, tanto a criança quanto os pais precisam aprender a lidar com o transtorno de modo a tornar o dia a dia mais fácil para todos da família. Pensando nisso, pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino desenvolveram um projeto com uma série de vídeos e orientações para minimizar desafios diários, principalmente, nos momentos de transição de uma atividade para outra. Pesquisas mostram que mudar a maneira de interação com as crianças pode ajudar a melhorar o comportamento delas. 

“A gente decidiu fazer um programa específico para as transições entre atividades, por exemplo, parar de brincar para tomar banho, escovar dente ou ir dormir. De modo geral, qualquer criança que está brincando ou fazendo algo de que gosta muito tem dificuldade em parar a atividade e passar a outra, mas para crianças com sintomas associados ao TDAH, isso pode ser ainda mais difícil”, relata a neurocientista Patrícia Bado, professora de neurociência e psicologia da PUC do Rio de Janeiro. 

Ela diz que a criança com TDAH tem uma necessidade de recompensa imediata e é importante que os pais tenham essa consciência e mesmo recebam o que ela chama de treinamento comportamental para fazer elogios quando a criança atua conforme o esperado. “Há muitas evidências e metanálises mostrando que o melhor manejo para crianças com TDAH ou sintomas comportamentais parecidos ao transtorno é o treinamento comportamental, essa é a primeira linha de tratamento para casos leves de TDAH em todo mundo”, afirma Bado.

Para tanto, são ensinadas técnicas sobre avisos que os pais devem dar à criança de que uma atividade está acabando e quanto a elogiar imediatamente e de maneira específica assim que ela faz um comportamento esperado. “São coisas muito simples mas que fazem uma grande diferença. O próprio conhecimento do que é uma transição é algo importante para os pais”, explica a neurocientista.

Ela comenta que muitos comportamentos que as crianças têm são, por vezes, torturantes para os pais. “É comum a mãe pedir a mesma coisa várias vezes e, ao não conseguir que o filho a atenda, passe a gritar, o que pode prejudicar o desenvolvimento da criança, que começa a achar que nada que ela faz está certo”, ressalta Bado. 

As práticas, segundo a pesquisadora, podem ajudar a criança a realizar as tarefas com menos sofrimento, o que melhora a relação da família. “Os malefícios de não fazer nada são altos, geram um estresse muito grande na vida familiar, que pode ser mais leve e a gente tenta gerar essa leveza explicando estratégias comportamentais para uso no dia a dia. Os benefícios são inúmeros. A gente vê melhoras significativas com esse tipo de tratamento”, diz a pesquisadora.

Dicas para a transição de atividades

  1. Atenção ao ambiente

É importante que os pais prestem atenção no ambiente, o cenário em que a criança está no momento da transição, e entendam o contexto em que a transição vai ocorrer. “É como se fosse uma peça de teatro, tudo que acontece naquele momento faz parte do cenário”, diz Bado. Se a criança está jogando no celular, é difícil para ela querer soltar o aparelho para tomar banho, por exemplo. “É preciso pensar não só no ambiente mas em como está a situação, do ponto de vista da criança. Muitas vezes, há situações que disparam comportamentos e certas reações, tanto no filho quanto na mãe e no pai.”

  1. Avisos

Se a criança está brincando e tem de tomar banho, é preciso avisar isso a ela – e, não, falar de supetão que ela tem de parar a brincadeira imediatamente para fazer outra coisa. “Não pode falar ‘agora é hora de escovar dentes, vamos embora’. Tem de dar avisos, dizer algo como ‘daqui a 5 minutos é hora de escovar os dentes’”, explica a pesquisadora. Ela diz que, de preferência, devem ser dados dois avisos para que a criança saiba que uma transição está para chegar e tenha uma ideia aproximada de tempo. “É muito interessante ouvir das mães, quando começam a fazer o sistema de avisos, que antes mesmo do segundo aviso, a criança para a atividade sozinha e vai para a outra”.

  1. Recompensas

Assim que a criança fizer um comportamento esperado – por exemplo, ela levantou para escovar os dentes – deve-se elogiá-la: “muito bom, você levantou para escovar os dentes”. “É importante descrever o comportamento pelo qual a criança está sendo elogiada, pois isso aumenta a chance de ela repetir esse comportamento”, explica Bado. 

Ela relata que as recompensas existem para todo mundo, todos os dias e, portanto, os pais não devem ver com ressalvas essa prática. “Se a gente faz um bom trabalho, o chefe elogia, é uma forma de reconhecimento. Alguém poderia argumentar que a criança só faria a atividade pelo elogio, mas não existe um vício em elogio, é uma recompensa simples de reconhecer o esforço e o comportamento naquele momento, não é uma recompensa tangível, como a ideia de dar fichas ou tíquetes pela prática, o que também é uma possibilidade”, comenta a pesquisadora. 

  1. Comando simples e diretos

Se a mãe chega cansada e fala para a criança arrumar o quarto, tomar banho e fazer tarefa, tudo de uma vez, fica difícil para a criança entender os comandos. E ao não conseguir o desejado, acontece da mãe explodir, dizer que já pediu mil vezes e o filho não a entender. “Comandos confusos não funcionam. Tem que ser simples, específico e direto, dizendo algo como ‘você terminou de tomar banho, agora vai dormir’”, orienta Bado. Do contrário, a criança vai levar bronca e nem vai nem saber o motivo disso, o que é muito ruim para a relação. “Brigar com a criança não adianta, ela seguirá sem obedecer”, esclarece a pesquisadora. 

A pesquisa

O programa consistiu em ensinar a mães e pais de crianças com TDAH uma série de técnicas de transição de atividades para uso na rotina, enviadas por WhatsApp. Os pesquisadores estão na fase de coleta de dados dos resultados da prática com 30 famílias. “Foram seis vídeos curtos enviados ao longo de três semanas e os pais também receberam dicas diárias sobre o assunto. Também nos reunimos com as famílias para saber se estava funcionando e até agora o retorno que tivemos foi muito positivo”, declara Bado. Após conclusão do estudo, a ideia é ampliar a divulgação desse programa, de forma gratuita, para mais famílias. 

“Às vezes, os pais percebem uma melhora em casa, mas não na escola, só que é preciso ver qual o objetivo do trabalho, se é esperado uma melhora na escola também. Nesse programa a gente pretende alcançar uma pequena mudança de  comportamento e aí quem sabe melhorar e extrapolar para outros ambientes como a escola”, afirma a pesquisadora.


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