Como toda história de criança começa com um “Era uma vez” e quase sempre termina com “E viveram felizes para sempre…”, a nossa não poderia ser de outra forma. Nós já havíamos realizado o sonho de sermos pais e não imaginávamos a surpresa que a vida nos traria, a chegada de nossa Érica.
No momento do encontro, que ocorreu na instituição acolhedora onde ela vivia, tive a certeza de que minha missão não era mais gerar e sim acolher, me tornar mais uma vez mãe, mas agora pelo coração e não pelo ventre. A partir daí, tomados por um sentimento impossível de ser explicado, começou a saga da habilitação para adoção. Fórum, documentos, entrevistas, visitas da assistente social, lágrimas que não nos fizeram desistir e gargalhadas a cada pequena conquista.
Durante um tempo passamos os fins de semana juntos e suportamos com esperança e união as despedidas aos domingos. Ouvi que éramos loucos, que estava na hora de aproveitarmos a vida, de curtirmos a maturidade, pois já tínhamos vivenciado a delícia da maternidade e da paternidade. Diante dessas falas eu só pensava: “Vou abandonar uma filha? É isso mesmo?” Para mim, era como se eu fosse a mãe dessa criança desde o primeiro momento que a vi. Ouvi até que não conseguiria conciliar o papel de executiva com o de mãe de um bebê de 1 ano, mas isso é conversa para um novo encontro.
Nesse intervalo preparamos o quartinho, a casa e também nossa família e amigos, já prevendo que o amor falaria mais alto em algum momento.
Minha gestação emocional e o amor que eu sentia não cabiam dentro do tempo e dos parâmetros jurídicos (sorte que tenho uma filha advogada que sempre intercedia com sua leveza e carinho quando a situação ficava quase insustentável, contribuindo com o fortalecimento da minha luta). Hoje olho para trás e vejo que todo esse caminho foi extremamente necessário para que pudéssemos estar com nossa filha em nossos braços.
Tudo isso durou quase um ano e, faltando apenas uma semana para o aniversário de 1 aninho da nossa princesa, recebemos a tão sonhada e esperada ligação do fórum. A vontade era sair correndo para buscar nossa menina, mas tivemos que esperar um dia a mais por causa dos documentos necessários. O que é mais um dia para quem esperou um ano vivido com a intensidade de dez, vinte, trinta anos, uma vida inteira?
Hoje, cinco meses depois do dia mais importante de nossas vidas, temos a guarda provisória e não mais sofremos pela guarda definitiva. Nossa pequena nos acalenta a cada sentimento de ansiedade e nos faz tera certeza de que nada disso teria acontecido se não estivesse escrito em algum lugar que seríamos seus pais de alma. Rezo e sonho cada dia mais alto. Descobri que posso esperar coisas grandes desse Deus tão grande. Hoje me sinto muito mais forte do que pensava e a cada dia mais feliz por ter sido escolhida pela Érica para ser sua mãe.
Fádwa Andrade é relações-públicas e mãe de Taciana, de 27 anos, e Érica, de 1 ano e 5 meses. Gosta de ir ao cinema e receber os amigos em casa, mas nenhum programa é mais saboroso do que passar um tempo com suas filhas.